Desfile do Dia da Vitória na Rússia reúne Putin, Lula e Xi Jinping

Moscou foi palco do tradicional Desfile do Dia da Vitória na Praça Vermelha, nesta sexta-feira (9), um evento que há décadas celebra a vitória soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Mas, em 2025, o desfile assume um contorno diferente: mais do que uma comemoração histórica, a cerimônia se transforma em uma demonstração de força do Kremlin, em meio à guerra na Ucrânia e às críticas ocidentais.

O Dia da Vitória é uma das datas mais importantes do calendário russo, carregada de simbolismo patriótico. A cerimônia foi aberta com a tradicional marcha do grupo de estandartes do Regimento Preobrazhensky, que conduziu a bandeira nacional russa e a histórica Bandeira da Vitória — o símbolo que os soldados soviéticos hastearam no Reichstag, em Berlim, em 1945.

Na tribuna central, o presidente Vladimir Putin, acompanhado por veteranos de guerra e líderes estrangeiros, assistiu ao desfile. Entre os convidados estavam o presidente chinês Xi Jinping, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, e outros chefes de Estado de países considerados aliados da Rússia.

O desfile de 2025 foi marcado por uma impressionante exibição de poderio militar, com a presença de mais de 11 mil soldados, incluindo combatentes que participaram da “operação militar especial” na Ucrânia. Entre os equipamentos exibidos estavam tanques históricos T-34, veículos blindados modernos, sistemas de mísseis Iskander-M e drones de combate, incluindo os controversos modelos ZALA e Lancet.

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Cerimônia de celebração dos 80 anos do Dia da Vitóriana Segunda Guerra Mundial. Foto: Ricardo Stuckert

Na ausência do público, que foi excluído do evento por questões de segurança, o desfile se transformou em um espetáculo para a televisão estatal, transmitido para todo o país. Analistas ocidentais interpretam o evento como uma tentativa de reafirmar a imagem de poder do governo russo em meio ao prolongado conflito com a Ucrânia.

Em seu discurso, Vladimir Putin reforçou a retórica de que a Rússia é uma “barreira indestrutível contra o nazismo, a russofobia e o antissemitismo”, reinterpretando o legado da Segunda Guerra para justificar a agressão contra a Ucrânia. O presidente russo destacou o apoio popular aos combatentes da “operação especial”, enquanto acusa o Ocidente de russofobia.

No entanto, a celebração não foi imune a controvérsias. O presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, classificou o desfile como um “espetáculo de cinismo” e criticou o que chamou de “narrativa distorcida” do Kremlin. Para Kiev, a Rússia usa a memória da vitória soviética como ferramenta de propaganda para justificar sua política expansionista.

A presença de líderes estrangeiros, especialmente do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente chinês Xi Jinping, reforça a tentativa de Putin de projetar uma imagem de multilateralismo. Lula, que chegou ao Kremlin acompanhado da primeira-dama Janja Lula da Silva, participou de reuniões bilaterais e acompanhou o desfile ao lado de Putin e Xi.

A visita de Lula gerou críticas no Brasil e internacionalmente, sendo interpretada como um apoio tácito à política externa russa. O presidente brasileiro, no entanto, defendeu sua participação como parte de uma agenda diplomática que busca fortalecer o diálogo multilateral.

O Desfile do Dia da Vitória de 2025 reflete o esforço do Kremlin de usar o passado para justificar o presente. Enquanto Putin revive o simbolismo da vitória soviética para fortalecer seu governo, o mundo assiste a um espetáculo carregado de militarismo e tensões políticas.

No entanto, para além da Praça Vermelha, a guerra na Ucrânia continua, e o conflito não mostra sinais de resolução. O Dia da Vitória, outrora uma celebração da paz conquistada com sacrifício, hoje é um palco de disputa narrativa e poder geopolítico.

Vale lembrar que Rússia, Brasil e China — bem como vários países presentes no evento — são membros do BRICs, que se transformou em um novo bloco econômico contra os tarifaços do presidente americano Donald Trump.

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Cerimônia de celebração dos 80 anos do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial. Praça Vermelha, Rússia – Moscou. Foto: Ricardo Stuckert

Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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