Tânia Mandarino: Sergio Moro, que já foi manchete nacional, vira não-notícia

Por Tânia Mandarino*

O ex-juiz, ex-ministro da Justiça, ex-candidato a ministro do supremo, ex-candidato à presidência do Brasil e agora candidato-a-não-se-sabe-o-quê pelo Paraná após ser rechaçado por São Paulo, Sergio Moro, recebeu na manhã desta quinta (30) o título de cidadão honorário de Curitiba.

Foi em decorrência de uma decisão aprovada em 2016.

O ex-super-herói recebeu a “honraria” no plenário da Câmara em atividade fechada, às 9h20, em sessão não solene, como fazem as pessoas que querem ou precisam se esconder.

Segundo informações passadas pelo gabinete da presidência da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), a sessão não poderia ser solene porque “quem entregou o título para ele foi o Chico do Uberaba, ex-vereador que propôs a comenda em 2016”.

Sem transmissão ao vivo, a não-notícia foi publicada em página interna do site da CMC às 10h45.

Porém, só uma hora e dez minutos depois o seu link apareceu na capa, indicando ser algo sem motivo de orgulho.

Até às 13h08, o Instagram da CMC não havia registrado nada a respeito.

E pasmem. O homenageado só publicou sobre o fato em suas redes duas horas e 40 minutos depois.

Seu primeiro Twitter após a sessão clandestina foi uma notinha de solidariedade ao deputado paulista Fernando Holiday, descendo a lenha no Petê. Já em seu Instagram, a última postagem, para variar, falava sobre Lula.

A sensação é de que a entrega da comenda se tratou apenas de uma formalidade decidida quando ele se achava invencível, e agora cumprida de modo clandestino, para que se produza material posterior de campanha vinculando  Moro ao Paraná.

E por falar em material de campanha, durante 10 dias o candidato manteve em todas as suas redes sociais um vídeo publicitário com imagens de Reinaldo Destemido, um trompetista goiano, residente em Curitiba há cinco anos, sem a sua autorização.

O trompetista ficara conhecido em 2018 quando o TRF4 manteve a condenação imposta por Moro a Lula e um vídeo seu viralizou tocando “Lula lá, brilha uma estrela” em uma janela na praça Santos Andrade em Curitiba.

O músico entrou na justiça e obteve uma liminar ordenando que o cidadão honorário de Curitiba retire o vídeo em até dois dias depois de ser intimado, sob pena de multa diária de mil reais em caso de exibição nas redes e de cinco mil reais em caso de exibição presencial.

Engraçado é que o slogan de Sergio Moro, repetido muitas vezes entre ecos metalizados ao final do referido, vídeo era “nada vai me deter”.

Só que, ao tomar conhecimento da ação, que também vai discutir danos morais causados pela exibição indevida do vídeo ao músico, Sergio Moro, sem alardes, tirou os vídeos de suas redes bem quietinho. Assim como também em surdina, de forma quase clandestina, recebeu o título indigitado na Câmara Municipal de Curitiba.

Câmara Municipal, aliás, que cassa o mandato de um jovem negro por racismo e premia um criminoso que tanto fez contra o Brasil além de ser responsável por milhões de desempregados em nosso país.

São as prioridades estabelecidas pela casa legislativa de uma cidade cujo prefeito pratica higienismo em noites de sábado com baixíssimas temperaturas, colocando centenas de pessoas com vassouras, sabão e potentes jatos d’água fria na Rua XV a fim de limpar o calçadão, expulsando das marquises pessoas em situação de rua sem lhes oferecer assistência enquanto a mídia local noticia: “O calçadão Rua XV de Novembro vai acordar mais bonito no domingo”.

O constrangimento na entrega do título a Moro na sala da presidência da Câmara é tangível como as duchas de água fria do prefeito Rafael Greca, que mudou novamente de partido na última sexta-feira.

Moro gosta de fazer associações sobre as quais o Brasil tem hoje a convicção de serem criminosas (Walter Delgatti assim o demonstrou).

Resta saber quais serão as associações que pretende seguir fazendo no Paraná para se transformar em candidato.

As que ele fez como juiz o Brasil inteiro já conhece. Até o STF já as declarou.

Resta saber se a punição oriunda do devido processo legal virá antes ou depois de ele conseguir o tão almejado foro privilegiado.

Parece que Deltan Dallagnol está melhor nesse páreo, fazendo lives para os irmãos da PIB – Primeira Igreja Batista de Curitiba. Há quatro meses das eleições, o ex-procurador já arrecadou R$ 124.079,00 da meta de R$ 300.000,00, para o financiamento de sua campanha.

*Tânia Mandarino é advogada. Integra o Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (CAAD).

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Publicação de: Viomundo

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Colaborador Convidado

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