Tânia Mandarino: No Uruguai, Lula afirma que o Brasil reúne condições para ser o mediador do Mercosul com Europa e China

Lula no Uruguai

Por Tânia Mandarino*

Estava curiosa para saber como seria a conversa de Lula com o presidente uruguaio, Lecalle Pou, um dos poucos governantes de direita que restaram na América do Sul, ao lado de Equador e Paraguai.

Em entrevista coletiva dos dois presidentes, Lecalle Pou já começa avisando que, apesar de intensa e extensa, a conversa com Lula foi livre de ideologias e direta, sobre o que necessitam ambos os países.

Seguiu informando que a reunião se dividiu em duas partes, a primeira sobre infraestrutura: a hidrovia na Lagoa Mirim e Lagoa dos Patos, a dragagem do canal no território brasileiro, a Ponte Binacional Rio Branco, para suportar uma maior carga de transporte e o aeroporto de Rivera se tornar internacional.

Segundo, as relações entre Brasil e Uruguai dentro do Mercosul e com o resto do mundo, assim como o aperfeiçoamento do Mercosul e as necessidades que o Uruguai tem de se abrir ao mundo, fazendo isso junto com o Mercosul.

Podíamos ter brigado, eu e Lula, na discussão sobre o aperfeiçoamento do Mercosul, mas não o fizemos, disse Lecalle Pou, com cara de durão e salientando sempre que a conversa com Lula foi objetiva.

Lecalle Pou concluiu sua fala dizendo que o Brasil tem um peso econômico e demográfico muito importante.

Em suma: “se tiver que avançar com a China, nós pertencemos ao Mercosul e temos vocação para nos tornar modernos, flexíveis e abertos ao mundo dentro do que nós queremos e precisamos”.

Lula começou a conversa pública com Lecalle Pou pontuando que o Brasil é o maior país da América Latina e o que tem a economia mais forte. Por isso deve ser generoso com os demais países e assim também com países da África e do Caribe, como foi em seus governos anteriores.

Lula seguiu dizendo que, entretanto, a realidade do Brasil hoje é diferente; “foram sete anos de destruição: três do golpista Michel Temer e quatro do governo Bolsonaro”.

Lula lembra que o acordo Mercosul e União Europeia já demorou demais e que também é preciso discutir um possível acordo entre China e Mercosul. “Nós queremos sentar enquanto Mercosul e discutir com nossos amigos chineses um acordo China-Mercosul”.

Sobre a reivindicação uruguaia a respeito da ponte do Rio Jaguarão Lula disse que lembrava de já ter assinado isso com Mujica, e estava surpreso de não ter sido realizada. Depois disse que sua relação com Mujica é de irmão e que antes de ir pra casa, iria visitá-lo em sua casa.

(E foi. Com direito a passeio no fusca de Mujica, tendo o anfitrião na direção). 

Foto: Ricardo Stuckert

Lula seguiu dizendo ser urgente e necessário que o Brasil faça um acordo com a União Europeia, questão que se discute desde seu primeiro mandato e até hoje não foi implementada.

“Vamos intensificar as discussões com a União Europeia e firmar esse acordo para que a gente possa discutir apenas um possível acordo entre China e Mercosul”.

“Apesar do Brasil ter na China o seu maior parceiro comercial e do Brasil ter um grande superavit com a China, nós queremos sentar enquanto Mercosul e discutir com nossos amigos chineses um acordo enquanto Mercosul”.

“Não precisa ter a mesma ideologia e nem gostar de mim. Temos que fortalecer o Mercosul, a Unasul, a Celac e brigar por uma nova governança mundial, inclusive na questão ambiental, que cuide do planeta como uma coisa que pertence a todos nós”.

Ao final, Lula lembra que os EUA não assinaram o protocolo de Kyoto e fala reto sobre a ONU: “sem direito a veto a ONU será mais representativa e quem sabe não estaria havendo a guerra entre Rússia e Ucrânia se a ONU fosse representativa”.

Como o mediador que pretende ser, Lula está se impondo fortemente a partir do fortalecimento do Mercosul.

Continuando nessa linha, tem grandes chances de o Brasil ser o porta-voz do Mercosul na construção de um acordo com a China para construção para toda a América do Sul. E, assim, nos incluir continentalmente na construção do novo mundo multilateral.

*Tânia Mandarino é advogada; integra o Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (CAAD).

Leia também:

Jeferson Miola: O relançamento da integração latino-americana

Marcelo Zero: A importância de se investir nas relações com a Argentina e na integração Regional

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *