Morvan Bliasby: Eleições na Venezuela, Brasil e o advento da Diplomacia Cururu
Por Morvan Bliasby*
O imbróglio das eleições venezuelanas deveria interessar somente a eles e a quem lhes quer tomar as riquezas do país, ou seja, poderíamos aplicar o mantra “Respeito à autodeterminação dos povos”, useiro e vezeiro na diplomacia tupiniquim, mas, como nada aqui é fora da caixa, assistimos à guerra das narrativas sobre a questão venezuelana e agora somos parte.
O Brasil claramente faz parte do butim ou, teleologicamente, espera “coisas futuras”, como diria personagem machadiana.
Até começamos bem: falando em exigir as Atas Eleitorais de ambos os lados, posto que ambos alegavam vitória. Nenhum deles as forneceu.
Pior para “nós”; tivéramos de assumir lado. Evoluímos, saímos do muro (como na medicina, o “evoluir”, aqui, não tem valor axiológico, apenas indica mudança de status).
Duas notícias, em portal conhecido, dão o tom do descaminho da diplomacia brasileira, agora claramente xerife desde criancinha: Celso Amorim se diz chocado com a atitude da Venezuela de revogar a custódia da Embaixada da Argentina e Lula se reúne com Mauro Vieira e nº 2 do Itamaraty para discutir tensão na Venezuela.
O senhor Celso Amorim, diplomata de priscas eras, não deveria estar nem um pouco chocado, senão com a imiscuição espúria do Brasil numa pendenga que sabemos, de eleitoral só guarda o nome.
Tampouco com o ato de revogar a custódia diplomática, por parte do país solo.
Ora, aceitar ou não e até mesmo revogar, outrora, a custódia de Embaixada é discricionário do país sede da representação.
Se ele a revogou, certamente a cita custódia não contempla[va] os interesses do país solo, quiçá represente ainda eventual brecha ou ameaça!
Apoie o jornalismo independente
Um dia, estando ou não nós aqui, a verdade sobre essas agressões amiúdes à Venezuela virá à tona; só espero que o quinhão prometido ao Brasil “valha a pena”, o que nunca o faz.
Nada justifica abdicar de sua soberania, sequer agredir irmão regional.
Por ora, a única coisa que nos resta é declarar o advento da Diplomacia Cururu. Não sai nem sendo “convidado”.
Explico. Cururu vem palavra da língua tupi kuru’ru, denominação popular dada aos grandes sapos do gênero Rhinella.
Sapo-cururu, sapo-boi ou cururu é nativo das Américas Central e do Sul. Além de imenso, possui grandes glândulas de veneno.
O cururu é algo indesejado, malvindo. A gente expulsa-o do nosso alpendre, mas ele volta.
Por isso, disse que não sai nem sendo “convidado”.
Para mantê-lo longe, há pessoas que jogam sal nas costas dele, o que acaba por matá-lo, já que o cururu tem respiração tegumentar auxiliar.
Tomara que Maduro não nos trate como batráquios, e venha também atirar sal de cozinha nas nossas costas. Não, não temos respiração tegumentar. Ainda não.
Triste demais. Meu medo, como brasileiro, é do precedente, não do fim das ‘aparências itamartynicas’.
Ainda temos um ‘restinho’ de petról., digo, de eleições. Estas serão postas à prova, com ou sem Atas.
O precedente infame está criado, assim como a diplomacia do sapo cururu…
Que o Brasil não repita o Egito, no seu então de colônia britânica, realizando tantas eleições quantas necessárias, até nos tornarmos “agradáveis” ao colonizador.
Que as eleições daqui não sofram o crivo infame que aquelas da Venezuela enfrentam, ora. Tristeza grande!
*Morvan Bliasby é usuário GNU-Linux #433640. Seja Legal, seja Livre. Use GNU-Linux.
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
VÍDEO: Venezuela, a eleição mais observada do mundo
Valter Pomar: E agora Celso, para onde?
Publicação de: Viomundo