Ministros do MDB defendem federação com Republicanos para evitar série B da política
O MDB tenta se antecipar à reconfiguração partidária que já mexe com as placas tectônicas do Congresso Nacional. Em declaração nesta sexta-feira (6), durante o Fórum Esfera no Guarujá, litoral paulista, o ministro dos Transportes Renan Filho (MDB) defendeu abertamente a formação de uma federação com o Republicanos. “Ou a gente forma uma federação e vamos para próximo de 100 deputados na Câmara e para a maior bancada no Senado, ou então vamos para a série B da política”, disparou.
A proposta não é nova, mas ganha trânsito após a confirmação da federação entre União Brasil e PP, e também da fusão entre PSDB e Podemos. Com 88 parlamentares somados (44 de cada sigla), MDB e Republicanos teriam o terceiro maior bloco da Câmara, atrás apenas do PL (90 deputados) e do novo União Progressista (109). A configuração dá origem ao chamado “G4 do Congresso”.
O ministro das Cidades, Jader Filho, reforçou a articulação e disse que há “mais convergência do que divergência” entre as legendas. Para ele, a federação deve ocorrer tanto em nível nacional quanto regional, respeitando as particularidades estaduais. No mesmo evento, o governador Helder Barbalho (MDB-PA) disse que “há ambiente” para a federação e defendeu que o centro construa alianças duráveis diante da polarização ideológica.
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O discurso dos ministros emedebistas ocorre num momento em que o partido enfrenta divisões internas. Enquanto parte do MDB se alinha com o governo Lula, sobretudo no Norte e Nordeste, outro segmento se aproxima do bolsonarismo, especialmente no Sul e Sudeste. A federação com o Republicanos poderia unificar as alas em torno de uma estratégia de centro, com musculatura para disputar protagonismo em 2026.
A declaração de Renan Filho também carrega recado para as lideranças regionais que resistem à federação: “Não combina com o MDB ir para a série B da política, ficar pequenininho enquanto outros partidos estão crescendo”. No mesmo tom, Jader Filho avalia que “a federação é fundamental para garantir representatividade nos estados e no Congresso”.
Nos bastidores, os presidentes nacionais do MDB, Baleia Rossi, e do Republicanos, Marcos Pereira, já posaram juntos para sinalizar intenção de formalizar a aliança.
No Paraná, Republicanos e MDB têm mesma raiz

O ambiente político no Paraná também é considerado favorável à formação da federação. MDB e Republicanos compartilham origem no antigo PMDB. No estado, ambas as legendas orbitam politicamente em torno do governador Ratinho Júnior e do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Alexandre Curi, ambos do PSD. Curi, inclusive, iniciou sua trajetória política no MDB e mantém relação próxima com o Republicanos, que tem como dirigente estadual o ex-deputado Marcelo Almeida, também oriundo do MDB, que hoje é presidido pelo deputado estadual Anibelli Neto.
Minas e o xadrez do centro
O epicentro da negociação, no entanto, passa por Minas Gerais. O presidente estadual do MDB, deputado Newton Cardoso Jr., articula a coordenação da bancada mineira no Congresso. Ele também defende a federação como estratégia para a sobrevivência política das grandes siglas em um sistema cada vez mais polarizado. “Esse G4 representaria de fato as forças reais do Congresso Nacional, com direita, esquerda e centro”, afirmou.
A federação com o Republicanos não impede o MDB de manter aspirações próprias em Minas. Entre os nomes cotados para o governo está o senador Rodrigo Pacheco (PSD), que pode migrar para o MDB com aval de Lula. Também são lembrados o presidente da ALMG, Tadeu Leite, e os deputados Hercílio Coelho Diniz e João Magalhães.
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Centro se articula, mas o tempo corre
A disputa por protagonismo no Congresso e no tabuleiro presidencial de 2026 já começou. MDB e Republicanos apostam na federação para evitar a irrelevância. A estratégia pode dar certo, mas exige alinhamento rápido e articulação regional. No xadrez das federações, cada peça fora do lugar pode custar caro.
O momento é de movimento. Se MDB e Republicanos se mexerem com inteligência e agilidade, poderão sair da sombra dos extremos e voltar a ditar as regras do jogo. O centro, enfim, tenta se reinventar. Agora com data e urgência.

Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
Publicação de: Blog do Esmael