Eliara Santana: PIB do Brasil cresce, JN registra, mas…

Boletim JN 3-12

Por Eliara Santana, em sua página no Facebook

A reportagem do JN para anunciar o PIB surpreendente de 0,9%, o maior do trimestre, foi o que podemos chamar de “bipolar”, alternando emoções contraditórias ao longo dos seus 9 minutos.

Por um lado, a matéria mostrou a relevância desse resultado, o crescimento no trimestre muito acima do esperado.

O resultado do PIB foi fartamente adjetivado – “resultado forte” – e a reportagem mostrou o significado disso na vida real das pessoas, ou seja, construiu sentido em relação a um tema complexo para todos nós.

Entrevistou pessoas, mostrou como a “roda da economia vai girando”, mostrou a expansão do consumo das famílias e o que de fato isso significa, mostrou que os investimentos cresceram e estão beneficiando muitas parcelas da sociedade.

Corte.

Entra a economista da FGV para dizer que o resultado do PIB é positivo, a expansão do consumo é positiva, mas…a demanda é muito acima da capacidade produtiva do país, e o Governo aumentou os gastos ao invés de poupar. É quase constrangedor ver o esforço da economista para se adequar à pauta.

Corte.

O repórter entrevista Marcelle, que “juntou as economias” e conseguiu abrir uma sorveteria no Meier.

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Ele fala na “roda da economia girando”, e as cenas mostram uma Marcelle feliz e contente com os resultados do seu empreendimento. Segundo ela, tudo está “dando mais certo do que o esperado”.

Corte.

Para enfatizar que há um lado ruim no crescimento do PIB, a reportagem mostra os setores que perderam e a necessidade de investimento em tecnologia e mão de obra.

E uma nova entrada da economista da FGV pra dizer que empresas perdem porque falta mão de obra.

Entra em cena também a voz dos bancos, por uma consultora do Banco Inter que fala na necessidade de se buscar o equilíbrio das contas.

Corte.

Entra em cena Nielson, que trabalha numa construtora e está cursando engenharia. Todo feliz, mostrando mercado aquecido e boas expectativas (e que o esforço compensa).

Todos os entrevistados mostram satisfação e a alegria pelos bons resultados.

E assim a reportagem se desenrolou até o fim, no melhor estilo daquela tirinha da Turma da Mônica: “O que está acontecendo? O que está acontecendo?”.

Lembrei-me muito do meu diletíssimo orientador, Hugo Mari, nas nossas conversas de orientação e discussão (tão ricas!) na PUC Minas, quedado ele me dizia: a imprensa vive entre o dever de informar e a necessidade de modalizar. Levo para vida, para o Boletim, pra sempre.

Nessa edição, a bipolaridade da reportagem, no fundo, revela que a imprensa sabe que a política econômica do Brasil está no caminho certo e que esse crescimento – semelhante ao da China!!!! – é muito importante e positivo para o país, mas (essa adversativa, sempre ela), é necessário que a informação esteja afinada aos ditames do mercado.

PM e violência

Outro destaque dessa edição fica por conta da ampla cobertura dos casos de violência envolvendo a Polícia Militar, em vários estados.

O primeiro caso foi o do rapaz jogado de uma ponte por um PM.

Depois, mais um caso em São Paulo, de um jovem morto numa estação de metrô – com violência e ações muito semelhantes ao que ocorreu nos EUA com George Floyd.

A reportagem trouxe muitos detalhes e imagens duras das cenas violentas, sem cortes.

Claro, houve também espaço para autoridades tentando se explicar ou dar explicações e falando que vão cobrar investigação e etc.

Mas o tom da reportagem foi de rechaçar a violência praticada pela PM e de mostrar que aquilo não é “normal”, “natural”.

Queria chamar atenção para uma estratégia importante: a matéria humanizou as vítimas, mostrou que todas têm/tinham famílias, eram trabalhadores ou pessoas com problemas que poderiam ser facilmente interpeladas, sem necessidade de violência tão exacerbada.

E para trazer essa percepção à cena, a reportagem ouviu os familiares, muito emocionados, dizendo que o filho ou irmão era trabalhador, ou estava com problema e não merecia ser tratado daquela forma.

Edição excelente e emotiva. Cria uma percepção de que a PM está sem controle.

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Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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