Ela tinha um batom e um sonho: apoiar um golpe de Estado no Brasil | Coluna do Requião Filho

Por Requião Filho*

Com o andamento dos julgamentos envolvendo o fatídico 8 de janeiro de 2023, muitas discussões ganharam destaque. É o caso da história de Débora Rodrigues dos Santos, presa em março de 2023 e que foi liberada para prisão domiciliar na última sexta-feira (28).

Nos jornais, o destaque para a história de Débora é que ela é mãe de duas crianças pequenas, casada, atua como cabeleireira em São Paulo e está sendo julgada por uma pichação com batom na estátua do Supremo Tribunal Federal (STF).

José Saramago é autor de uma frase que cabe muito bem toda vez que vamos analisar uma situação como essa: “Para conhecer as coisas, há de dar-lhes a volta toda”.

Dar a volta toda, nesse caso, significa mais do que ver uma pequena manchete de jornal ou ler mensagens encaminhadas em correntes de Whatsapp. 

É preciso se aprofundar um pouco mais para entender que, olhando os fatos políticos apenas de uma perspectiva, não temos a visão necessária para compreender um julgamento como este pelo qual Débora está passando. Costumo dizer que existem sempre três versões de uma história: a minha, a sua e a verdade. O papel da Justiça é olhar para o todo e investigar para além do meu e do seu ponto de vista.

Porto de Paranaguá

Acontece que Débora, humanizada nos textos de apoio de correntes bolsonaristas, não está sendo julgada apenas por escrever “perdeu, mané” em meio ao quebra-quebra daquele dia. Débora é acusada pela Procuradoria-Geral da República por 5 crimes: deterioração de patrimônio tombado (esse batom custou caro!), abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado com violência, associação criminosa armada e tentativa de golpe de Estado.

Sinceramente, vejo a Débora como mais uma na massa de manobra que caiu no conto do vigário golpista. Deve ser punida, afinal o Brasil não é terra sem lei. Mas também está pagando o preço sem que os cabeças “pensantes” façam o mesmo. Ela não é apenas uma mãe que pichou uma estátua, mas alguém que, segundo a Justiça, cometeu crimes e estava ciente disso.

Também quero deixar claro que o julgamento – antes de tudo midiático e popular – está seguindo caminhos que já foram duramente criticados pela esquerda. No período da Lava Jato, por exemplo, víamos a direita feliz e a esquerda fortemente contrariada com prisões preventivas de longa duração. Agora, a esquerda está feliz e a direita segue indignada com as mesmas decisões que rebateu anteriormente.

Será que o Brasil está condenado a viver um ciclo sem fim? O país não me parece ter estrutura para sustentar inseguranças jurídicas que permeiam a opinião pública e enfraquecem a confiança em instituições democráticas. 

Queremos que os criminosos vão para a cadeia, que os financiadores sejam encontrados e punidos, que o ex-presidente seja responsabilizado ao que lhe couber. Antes de tudo, a Lei e um Brasil que não perde a esperança de que ainda vale a pena acreditar na Justiça.

Leia também: Jogo do Poder – quando a conveniência vale mais que a coerência

*Requião Filho é deputado estadual no Paraná.

Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

Colaborador Convidado

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *