Conselho de Ética da Câmara abre processo contra seis deputadas; bancada feminina denuncia orquestração e machismo

Da Redação*
Nesta quarta-feira,14/06, o Conselho de Ética da Câmara instaurou processos contra seis deputadas federais.
Os alvos são Célia Xakriabá (PSOL-MG), Sâmia Bomfim (PSOL-SP), Talíria Petrone (PSOL-RJ), Erika Kokay (PT-DF), Fernanda Melchionna (Psol-RS) e Juliana Cardoso (PT-SP).
Todas as representações foram apresentadas pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a denúncia, as deputadas quebraram o decoro parlamentar durante a votação do projeto do marco temporal de terras indígenas, quando gritaram ao microfone: “Assassinos! Assassinos do nosso povo indígena!”
De acordo com o requerimento do PL, apesar de os microfones terem sido cortados, as deputadas continuaram ofendendo os parlamentares que fazem oposição ao governo.
O projeto do marco temporal foi aprovado no plenário da Câmara, em 30 de maio, e seguiu para o Senado.
A denúncia foi protocolada no dia 1º de junho. As parlamentares processadas questionaram a tramitação acelerada.
“Foram quatro horas entre o protocolo e chegar aqui na pauta do Conselho de Ética. Isso nunca tinha acontecido na história do Congresso Nacional”, afirmou a deputada Sâmia Bonfim.
A bancada feminina afirma que a ação para instauração dos processos foi orquestrada e acusa a Comissão de Ética de machismo.
“Coincidentemente, os focos são corpos femininos, uma bancada específica. É um ataque conjunto, com a anuência desta comissão”, argumentou Talíria Petrone.
Sâmia Bonfim questionou a ausência de denúncias contra parlamentares homens, que também participaram do protesto.
“Observei que foram indicados seis nomes das deputadas que estavam ali entoando palavras de ordem contra a aprovação do marco temporal. Inclusive, nas cenas, fotos e vídeos sobre o acontecimento vi a presença de muitos deputados homens também. Mas o que eu notei é que nenhum desses homens foi indiciado, listados nessa representação. Gostaria de um esclarecimento do PL sobre o motivo de mulheres terem sido indiciadas e os homens, não”, argumentou.
Para Juliana Cardoso, está em curso um silenciamento sistemático de deputadas no Parlamento.
“Não houve nenhuma indignação dos deputados quando, no microfone de aparte, me chamaram de imbecil. Isso está registrado nos vídeos”, observou Juliana Cardoso, questionando. “Deputadas são chamadas de abortistas e vagabundas diariamente nesta Casa e não vejo ninguém revoltado. Quem nos chama desta forma com os microfones desligados? Esses mesmos deputados, que agora estão doídos e indignados por terem sido chamados de assassinos. Curioso, não?”
O presidente da Comissão de Ética, deputado Leur Lomanto Júnior (União-BA), afirmou que “os tratamentos são igualitários e seguirão sendo, enquanto eu for presidente”.
Pouco depois, Lomanto Júnior cortou o microfone em que falava Sâmia Bomfim (PL-SP) e foi acusado de machismo.
Em nota divulgada após o protocolo das denúncias contra as seis deputadas, a bancada feminina afirma que as representações configuram violência política.
“É importante frisar também que existe uma sutileza na violência política de gênero e que tais representações são uma tentativa de silenciar as parlamentares, de impedir o exercício dos seus mandatos e de obstaculizar seus direitos políticos”, diz a bancada feminina.
LIRA COMO ALVO
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) foi acusado de “seletividade” ao pautar as ações.
Lira remeteu ao Conselho, na última semana, a ação do PL protocolada na véspera, contra seis deputadas.
Entretanto, as ações contra quatro deputados do PL acusados de estimular de vandalismo de 8 de janeiro estão paradas há mais de quatro meses.
“Outros processos não foram apresentados nesta comissão. Eu quero entender o porquê. Esta comissão está abrindo precedentes graves. Isto vai virar um palco de manobras e guerras?, questionou Ana Paula Lima (PT-SC).
Publicação de: Viomundo