Breno Altman: Eleição de 2022 não é programática mas plebiscitária; vídeo
Jornalista analisa ‘Diretrizes Programáticas’ da chapa Lula-Alckmin, afirmando se tratar de ‘caminho cauteloso’ para manter e ampliar frente contra Bolsonaro
O Brasil caminha na direção de uma eleição presidencial plebiscitária, avaliou o jornalista Breno Altman ao comentar o programa da chapa Lula-Alckmin no programa 20 MINUTOS ANÁLISE desta terça-feira (28/06).
Para ele, as pesquisas que dão ampla margem de vantagem a Lula demonstram que o sentimento dominante na maioria do povo é o de protesto: “há uma onda poderosa na opinião pública contra [Jair] Bolsonaro, atraída pela negação de tudo que representa o ex-capitão, e não especialmente por um rumo programático. Essa é uma eleição plebiscitária, mais do que programática”.
Essa tendência seria uma de várias motivações para o tom cauteloso adotado no documento lançado em 21 de junho em nome da coalizão de sete partidos (PT, PSB, PSOL, PCdoB, PV, Rede e Solidariedade), em torno da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva e de Geraldo Alckmin.
Altman definiu essa tática como de retranca e recorreu ao futebol para interpretá-la: “é menos Telê Santana, mais Carlos Alberto Parreira. Menos seleção de 1982, que poderia ter vencido com um jogo ofensivo e vistoso, mas perdeu, e mais seleção de 1994, de futebol feio e retrancado, mas vitoriosa”.
Por ora, segundo o fundador de Opera Mundi, predomina a lógica de reduzir riscos, evitar armadilhas e escapar de qualquer polêmica que possa inibir a equação ‘Fora Bolsonaro, Lula presidente’.
“É um programa de um só ponto, suficiente para unir uma maioria contra o atual presidente”, diz.
Mesmo na retranca, o documento “Diretrizes Programáticas” gerou grande repercussão nos meios de comunicação e provocou diversos movimentos na sociedade.
Para a maioria dos que se opõem ao governo Bolsonaro, as propostas foram acolhidas de maneira positiva por demarcar terreno em duas questões vitais: a defesa da democracia e a superação do quadro social de miséria do Brasil atual.
Os bolsonaristas, por outro lado, atacaram o alinhamento em favor de um Estado mais forte capaz de enfrentar a desigualdade de renda e a concentração de riqueza no país.
“Simplesmente não aceitam o abandono do modelo neoliberal e despendem a continuidade de políticas amigáveis à acumulação capitalista desenfreada, de austeridade fiscal, privatizações, desregulamentações e subordinação aos centros hegemônicos do capitalismo mundial”, afirmou Altman.
Ainda que o documento seja genérico e cauteloso na apresentação das diretrizes, seu sentido é progressista, baseado em distribuição de renda, riqueza e poder, na opinião Altman, sublinhando que a única medida prática de relevo mencionada nas “Diretrizes Programáticas” é a revogação do teto de gastos estabelecido pela Emenda Constitucional 95.
Compromissos do programa
As diretrizes lançadas se restringem a apresentar, de forma moderada, os compromissos com a retomada dos princípios constitucionais e seu alargamento.
Para Altman, o mal-estar da burguesia brasileira com o documento se evidenciou, mesmo que tenham sido evitados pontos como a revogação da reforma previdenciária e da independência do Banco Central.
No caso concreto, isso significa deixar para uma segunda etapa o enfrentamento ao neoliberalismo, depois da eventual eleição e posse de Lula.
A estratégia atual tem se circunscrito no objetivo de derrotar Bolsonaro, sem debates ou audácias maiores sobre o que colocar no lugar das políticas bolsonaristas, pelas quais votaram vários dos atuais aliados de Lula.
Altman recorda que tampouco são tocadas no documento questões centrais do autoritarismo, como a tutela militar sobre o Estado, a formação reacionária das forças armadas e os seis mil militares incrustados no serviço público com duplo salário.
De acordo com o jornalista, há um senso comum de que programa detalhado atrapalha quem está na dianteira em pesquisas, por estender o leque de chances a serem exploradas pelos adversários. Mas essa não é uma verdade absoluta.
“Muitas vezes, ter propostas impactantes e estruturais pode trazer mais votos e apoios do que compromissos e tensões, ainda que gerando maior polêmica”, analisa.
Essa configuração tem criado uma situação bastante rara, de os pronunciamentos do candidato Lula soarem mais fortes e contundentes do que as diretrizes apresentadas pela coalizão.
“É como se estivesse sendo invertida uma tradição de esquerda nos processos eleitorais em democracias liberais, de que o programa representa o máximo que pode ser feito e o governo sempre fica abaixo desse sarrafo, por vezes tão abaixo que pratica verdadeiro estelionato eleitoral”, interpreta.
“Trata-se de uma opção com forte potencial de inserção nas classes trabalhadoras, como demonstram as pesquisas, e de rejeição entre os segmentos mais ricos”, conclui o jornalista.
Publicação de: Viomundo