Quaest expõe divisão e plano contra Lula e Bolsonaro
A mais recente pesquisa Quaest, divulgada esta semana, não é apenas um retrato da opinião pública. Ela é o raio-X de um movimento político em curso nos bastidores do poder: o desejo explícito de setores influentes da elite e da direita por uma alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro em 2026.
O levantamento mostra que, embora o presidente Lula lidere as intenções de voto, 66% dos brasileiros se dizem contrários à sua reeleição. O dado, em si, já seria suficiente para agitar as placas tectônicas da política. Mas o que torna o estudo ainda mais revelador é a sua conexão direta com um conclave silencioso de governadores realizado semanas antes, em Nova York.
Um bypass tramado em Nova York
Na ocasião, liderados por Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e com articulação de Michel Temer (MDB), ao menos sete governadores discutiram abertamente a necessidade de um bypass em Jair Bolsonaro, considerado por muitos uma âncora eleitoral. A expressão “vampirão neoliberalista”, usada para definir o ex-presidente Temer, ressurge agora como um símbolo de uma direita que tenta se reconfigurar sem se comprometer com os extremos.
O Blog do Esmael havia antecipado esse movimento. Em reportagem exclusiva, revelamos que o verdadeiro objetivo da viagem à “Brazil Week” não era captar investimentos, mas articular uma rota de fuga para 2026. Bolsonaro, inelegível e cada vez mais isolado, virou o nome a ser driblado. E Lula, com alta rejeição, passou a ser tratado como obstáculo estrutural por parte do mercado e da velha mídia.
Temer, Tarcísio e os governadores “desencantados”
Entre os nomes presentes na conspiração silenciosa estavam Ronaldo Caiado (GO), Eduardo Leite (RS), Raquel Lyra (PE), Ibaneis Rocha (DF), Renato Casagrande (ES) e Cláudio Castro (RJ). O discurso dominante ali era de que Lula e Bolsonaro dividiram a responsabilidade pela tragédia do INSS e que o eleitorado estaria cansado da eterna dicotomia.
Essa tese, convenientemente repetida por colunistas e editoriais da velha imprensa, encontra agora um terreno fértil com a Quaest: se os dois líderes têm rejeição alta, a “terceira via” surge como necessidade narrativa e eleitoral.
A reação imediata de Gleisi
Do lado do governo, a resposta não tardou. A ministra Gleisi Hoffmann (PT) acusou Bolsonaro de ser o responsável direto pela crise no INSS. Segundo ela, foi durante o “desgoverno” do ex-presidente que associações criminosas se instalaram no sistema previdenciário.
Gleisi usou as redes para marcar posição: “Bolsonaro deixou o ladrão entrar e Lula está acabando com a roubalheira”. O recado, além de político, é jurídico: o Planalto busca construir uma linha nítida de responsabilização do bolsonarismo pelo desmonte da máquina pública.
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A direita fragmentada e o risco Bolsonaro
Do outro lado do espectro, a fusão entre PSDB e Podemos, oficializada neste 5 de junho, indica uma tática de sobrevivência. Ao optar por não lançar candidato próprio e manter postura “independente”, o novo partido reforça a tese de que o centro busca tempo para reorganizar suas forças. O fundo partidário e os interesses regionais falam mais alto.
Bolsonaro, mesmo inelegível, ainda reina em segmentos específicos. Mas Tarcísio, seu suposto herdeiro, parece já atuar por conta própria – especialmente após os rumores de sua participação ativa na articulação em Nova York, o que teria abalado emocionalmente o ex-presidente.
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Ratinho Jr. e Aldo: articulação paralela
Curiosamente,
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Um novo jogo fora dos palanques
A pesquisa Quaest serve menos como retrato do presente e mais como preâmbulo do que está sendo construído para 2026. A direita está dividida entre o bolsonarismo puro-sangue e os que querem virar a página. A esquerda, por sua vez, depende da habilidade de Lula em manter sua base unida diante de uma rejeição crescente.
O que se desenha, portanto, é um jogo jogado em salas fechadas, em encontros discretos, e em pesquisas encomendadas para construir narrativas. O “bypass” não é apenas um drible em Bolsonaro – é uma tentativa de reengenharia do sistema político.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
Publicação de: Blog do Esmael