Prefeito bolsonarista censura falas de Nassif em filme sobre os 150 anos de Poços de Caldas; violação já foi denunciada ao MP

Por Conceição Lemes
No domingo, 6 de movembro, Poços Caldas, no sul de Minas Gerais, fez 150 anos.
Como parte das comemorações, a prefeitura exibiu o filme Para sempre Poços, de Bruno Benetti.
Foi a estreia (veja acima o trailer).
O jornalista Luis Nassif, legítimo patrimônio humano e cultural da cidade, foi, é claro, um dos entrevistados para o documentário.
Porém, as duas falas dele no filme foram censuradas a mando do prefeito Sergio Azevedo (PSDB), apoiador de Jair Bolsonaro.
Simplesmente, inacreditável.
Absurdo completo.
Primeiro, Nassif é um dos mais respeitados jornalistas do País e um dos mais famosos filhos da terra.
Segundo, quem o conhece sabe que ele adora Poços de Caldas.
Sempre que há uma brecha, lá está Nassif falando sobre Poços, inclusive em palestras e entrevistas.
Terceiro, duvido que exista alguém tão apaixonado por Poços de Caldas quanto ele. É encantamento puro.
“O Luis nunca perdeu a ligação com Poços”, conta a irmã Lourdes Nassif, também jornalista. “De todos nós, o único que nunca largou Poços.”
É de Nassif o hino em comemoração aos 100 anos da cidade, celebrados em 1972.
Ele participou de um concurso e ganhou o segundo lugar.
“Era a música dele que ensinavam nas escolas…”, relembra Lourdes. “Cantei muito”
O comecinho é assim:
Das montanhas, das matas de Minas
Redentor em seu porte altivo
Já espalha por toda a cidade
Um olhar, um sorriso furtivo
Nas montanhas, nas matas tão minhas
TAnto ar, tanta disposição
Horizonte em finíssimo azul
Nos acordes finais da canção
E Poços centenário, se ergueu, se espreguiçou
Lavou-se no orvalho,
Das suas manhãs, das nossas manhãs
Nassif tem dois livros sobre Poços de Caldas.
Um deles: Walther Moreira Salles. O Banqueiro-Embaixador e a Construção do Brasil.
O outro, de crônicas, O menino do São Benedito.
E o prefeito Sergio Azevedo, além de bolsonarista e censor, o que fez para projetar Poços de Caldas no cenário nacional?
De positivo, nada.
De negativo, já tem, pelo menos, no currículo a ultrajante censura a Nassif.
Aliás, o prefeito Sergio Azevedo sequer nasceu em Poços. É natural do Rio de Janeiro.
Não passa de um ilustre desconhecido. Famoso só na cidade. Saiu de Poços ninguém sabe quem ele.
A matéria abaixo, do GGN, dá detalhes do caso e revela que Nassif ontem mesmo denunciou a censura ao Ministério Público de Minas Gerais.
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PREFEITO BOLSONARISTA MANDA CENSURAR NASSIF EM DOCUMENTÁRIO SOBRE POÇOS DE CALDAS
Luis Nassif nasceu em Poços de Caldas e foi entrevistado para um documentário sobre os 150 anos da cidade. Mas sua fala foi censurada
O jornalista Luis Nassif, nascido em Poços de Caldas (MG), foi entrevistado para um documentário que celebra os 150 anos da cidade, mas sua fala foi censurada pela equipe do prefeito da cidade, Sergio Azevedo (PSDB), que é apoiador de Jair Bolsonaro e, na verdade, é natural do Rio de Janeiro.
A censura foi noticiada pela Folha de S. Paulo e a prefeitura, intimada a se manifestar pelo veículo de comunicação, admitiu que a participação de Nassif foi excluída da estreia.
“Ele foi retirado da apresentação durante a cerimônia de condecoração pelos 150 anos cidade, por ser de entendimento da administração que não merecia este destaque”, disse a prefeitura em nota.
O documentário foi produzido por Bruno Benetti, que relatou ao jornal ter sido convocado para uma reunião com o secretário de governo de Poços, Paulo Ney, que deu o recado: “era ordem do prefeito [retirar a fala do Nassif], e que se isso não fosse feito, não seria possível exibir o filme no domingo, data do aniversário da cidade”.
Nassif denunciou a censura ao Ministério Público de Minas Gerais nesta segunda (7).
O jornalista já publicou 2 livros sobre a história de Poços e participou de concurso para a escolha do hino do aniversário de 100 anos do município mineiro.
Nassif já denunciou indícios de que a prefeitura pagou participantes de uma motociata a favor de Bolsonaro.
Segundo o produtor do filme, foram cortados 2 minutos da fala de Nassif, que serão reinseridos quando o documentário – com cerca de 25 minutos – for exibido em outros locais.
A obra foi financiamento por edital da prefeitura de Poços. O cineasta decidiu atender ao pedido de censura em respeito à equipe que trabalhou para concluir o projeto.
Publicação de: Viomundo