Mídia mente, Lula acredita e se equivoca; Maduro não disse que se perder haverá banho de sangue, diz Vanessa Martina, de Caracas
“Banho de sangue”: grande mídia mente descaradamente sobre fala de Maduro, diz jornalista na Venezuela
Em vídeo publicado na TV Diálogos do Sul Global, analista política Vanessa Martina-Silva ressalta importância de compreender o contexto da fala de Maduro e não se deixar enganar
Por Guilherme Ribeiro, no Diálogos do Sul Global
“CNN, Folha, Metrópoles… estão mentindo descaradamente”, afirma a analista política Vanessa Martina-Silva sobre as matérias recentemente publicadas no Brasil sobre uma declaração dada por Nicolás Maduro durante um comício em Caracas em 17 de julho.
Na ocasião, o líder venezuelano usou os termos “guerra civil” e “banho de sangue”.
Em vídeo publicado nesta terça-feira (23) no canal da Diálogos do Sul Global no YouTube, Martina-Silva denuncia como a grande mídia brasileira descontextualizou a fala, que tem um total de 1 hora e 21 minutos, para associar o chavismo e o atual presidente da Venezuela e candidato à reeleição à ideia de um regime ditatorial e sanguinário.
Aqui, a declaração completa de Maduro.
Abaixo, o vídeo de Vanessa Martina-Silva na íntegra.
“Precisamos analisar as informações para não sermos enganados pelo que a grande mídia está divulgando”, segue a jornalista, que está na capital venezuelana para cobrir as eleições presidenciais que acontecem do próximo domingo, 28 de julho.
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Para elucidar a questão, Martina-Silva expõe o trecho do pronunciamento de Maduro, no qual o presidente afirma:
“O destino da Venezuela no século 21 depende da nossa vitória em 28 de julho. Se vocês não querem que a Venezuela caia numa guerra civil ou num banho de sangue produto dos fascistas, temos que garantir o maior êxito, a maior vitória da história eleitoral do nosso povo”.
Conforme explica a editora da Diálogos do Sul Global, Maduro fez referência a episódios do passado recente da Venezuela, em 2014 e 2017, quando opositores do chavista organizaram motins que deixaram dezenas de mortos.
Os protestos de 2014, por exemplo, vieram após as eleições legislativas de 2013, quando Maduro venceu por menos de 1% dos votos.
“O que aconteceu: a oposição não reconheceu os resultados, foi pras ruas, houve protestos violentos chamados Garimbas, mais de 100 pessoas morreram”, lembra Martina-Silva.
Na época, ruas foram bloqueadas com arame farpado e houve casos de motociclistas degolados. “É a isso que Maduro está se referindo: se a vitória não for contundente, vai ser como em 2014, um banho de sangue”, explica a jornalista.
Comentário de Lula sobre fala de Maduro
Vanessa Martina-Silva também comenta a declaração de Lula sobre a fala de Maduro.
O presidente do Brasil se disse “assustado” e afirmou que “quem perde as eleições, toma um banho de voto” e que “Maduro tem que aprender: quando você ganha, você fica, quando você perde, você vai embora”.
A jornalista aponta que as palavras de Lula são corretas se analisadas de forma literal. Porém, com uma observação mais atenta, é possível apontar que levam em conta as informações disponíveis na internet e divulgadas pela grande mídia, e não o panorama da política e da história venezuelanas.
“Espero que Lula tenha se equivocado. Isso é muito triste, porque o Presidente da República precisa ter responsabilidade, ainda mais no Brasil”, observa a repórter.
E acrescenta: “Maduro tem estado em dois ou três estados por dia. Se as eleições fossem uma fraude, ele poderia fazer campanha tranquilo em Caracas, e não estar viajando de forma frenética como está”.
Divulgar para derrotar a manipulação
“As frases não podem ser tiradas de contexto. Existe texto, contexto, subtexto, história. Nada está isolado no mundo”, reforça Vanessa Martina-Silva no vídeo elucidativo.
Ela pede àqueles que compreenderam a explicação e o contexto da fala de Nicolás Maduro que compartilhem para que mais pessoas fiquem a par da realidade dos fatos e não caiam nas alegações feitas pela grande mídia brasileira.
“Acompanhem a nossa cobertura aqui na Venezuela, teremos nos próximos dias bastante conteúdo”, finaliza.
A propósito, se alguém tem alguma dúvida sobre o que Maduro disse no comício, veja a íntegra da fala dele, sem cortes.
*Guilherme Ribeiro é jornalista graduado pela Unesp, estudante de Banco de Dados pela Fatec e colaborador na Revista Diálogos do Sul.
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