Lula entre o “mercado” e o povo nas vésperas de 2026
A pressão por políticas de austeridade e juros altos no Brasil volta a ocupar o centro do debate político e econômico, impulsionada por editoriais de veículos como a Folha de S.Paulo. Sob o argumento de combate à inflação, essas propostas apontam para cortes nos gastos sociais e uma maior rigidez monetária, medidas que afetam diretamente a população mais vulnerável.
Antes, porém, é fundamental contextualizar que a Folha pertence ao Grupo Folha, do banqueiro Luiz Frias, cuja fortuna individual é estimada em R$5 bilhões. O jornalão tem interesses e propriedades cruzados com a especulação e mercado financeiro.
Esclarecido isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta um dilema que pode definir os rumos de sua gestão e da reeleição em 2026: equilibrar as demandas do mercado financeiro com os anseios do povo que o elegeu. Em meio a críticas sobre a condução da política fiscal e monetária, o governo se encontra sob escrutínio desses abutres do mercado, que frequentemente atribuem os problemas econômicos a uma “irresponsabilidade fiscal” do Planalto.
No editorial publicado neste domingo (12), a Folha de S.Paulo atribui o “estouro” da meta de inflação às escolhas do governo Lula, criticando a expansão dos gastos públicos e apontando uma suposta falta de prudência fiscal. O jornal defende que a desvalorização do real — fator determinante para a alta dos preços em 2024 — é reflexo direto da deterioração da percepção de risco em torno da economia brasileira.
Segundo o texto, a alta dos alimentos (8,22%) e dos combustíveis (9,7%) em 2024 ilustra o impacto da inflação no dia a dia da população. A solução sugerida? Um novo aumento na taxa básica de juros, atualmente em 12,25% ao ano, que poderia chegar a 14,25% até março, conforme sinalizado pelo Banco Central.
A narrativa, no entanto, ignora questões estruturais e globais que também influenciam a economia nacional. A valorização do dólar, o aumento das commodities agrícolas e as tensões geopolíticas tiveram um peso significativo no cenário inflacionário, como reconhecido na própria carta do Banco Central ao Ministério da Fazenda.
Juros elevados e austeridade têm um histórico de efeitos devastadores para a economia real, especialmente em países desiguais como o Brasil. A redução do poder de compra e a retração no consumo impactam diretamente a classe trabalhadora, enquanto o “mercado” — esse ente abstrato representado por uma minoria rica — segue acumulando lucros.
O presidente Lula, por sua vez, já deu sinais de insatisfação com a política monetária conduzida pelo Banco Central. Embora o governo tenha recuperado o controle sobre o Copom, decisões como o aumento da Selic ainda refletem uma lógica que privilegia a contenção da demanda em detrimento de políticas de estímulo à produção e ao consumo.
Se o governo ceder completamente à pressão do mercado, isto é, aos mais ricos, o custo social será alto. Juros elevados dificultam o acesso ao crédito, desestimulam investimentos e, paradoxalmente, podem alimentar a própria inflação que se pretende combater, ao encarecer o custo de produção.
Por outro lado, ignorar as expectativas do mercado e os riscos fiscais seria uma escolha arriscada em um contexto global de instabilidade econômica. O desafio, portanto, é encontrar um equilíbrio que permita ao Brasil crescer sem abandonar o compromisso com a redução das desigualdades.
No entanto, a limitação do aumento do salário mínimo a 2,5% acima da inflação, de 2025 a 2030, e o endurecimento de regras para benefícios sociais podem ampliar essas desigualdades. Essas medidas foram sinais pró-mercado, enquanto a economia pode se tornar o calcanhar de Aquiles nas intenções de reeleição no ano que vem.
Lula está diante de uma encruzilhada que exige decisões estratégicas e coragem política. O foco não deve ser apenas atender às exigências do mercado, mas garantir que as políticas econômicas tenham como prioridade o bem-estar da maioria. O governo precisa reafirmar seu compromisso com o combate à desigualdade, rejeitando a falsa dicotomia entre responsabilidade fiscal e justiça social.
Quanto ao editorial da Folha, ora, a Folha apenas faz lobby em benefício próprio. O jornal especula com a visão do grupo e a apresenta como uma verdade universal, embora isso apenas beneficie economicamente a si e a seus acionistas.
O povo, portanto, não pode pagar a conta de um modelo que privilegia poucos enquanto sacrifica muitos.
Publicação de: Blog do Esmael