Zambelli deixou Bolsonaro no bico do corvo, dizem aliados

Na semana em que Jair Bolsonaro (PL) será interrogado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), aliados do ex-presidente atribuem à deputada foragida Carla Zambelli (PL-SP) dois episódios que, segundo eles, enfraqueceram ainda mais a situação política e judicial do líder da extrema direita brasileira.

O Blog do Esmael nomeou esta cobertura especial de “Bolsonaro no bico do corvo”, diante do agravamento do cerco judicial ao ex-presidente e da deflagração dos interrogatórios no núcleo 1 da tentativa de golpe de Estado.

A urna aberta com pistola

De acordo com bolsonaristas ouvidos pelo Blog, a primeira vez que Zambelli deixou Bolsonaro vulnerável foi às vésperas do segundo turno da eleição de 2022. Armada com uma pistola, a parlamentar correu atrás de um militante petista em São Paulo.

O gesto, considerado extremado até por aliados próximos, teria afastado eleitores moderados e contribuído para o desgaste final da candidatura bolsonarista.

Internamente, esse episódio passou a ser chamado de “a urna aberta com pistola” — uma metáfora entre o voto secreto e a exposição desastrosa da violência política de sua base.

Ícone de sino para notificações
Carla Zambelli sacou uma arma de fogo e perseguiu o jornalista Luan Araújo às vésperas do segundo turno das eleições de 2022

A fuga que antecede o interrogatório

A segunda crise atribuída a Zambelli ocorre neste momento. Condenada pelo STF a 10 anos de prisão por falsidade ideológica e invasão ao sistema do CNJ, a deputada escapou para a Itália na véspera do depoimento de Bolsonaro.

A imagem do ex-presidente sendo abandonado enquanto enfrenta seu julgamento definitivo reforçou, entre interlocutores bolsonaristas, a percepção de deslealdade e desorganização no núcleo duro da extrema direita.

Além disso, adversários do bolsonarismo também exploram a imagem com a possibilidade de o ex-presidente empreender fuga. Por isso, o líder do PT na Câmara, deputado Lindberg Farias, pediu ao STF que Bolsonaro use uma tornozeleira eletrônica.

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STF inicia interrogatórios do “núcleo 1”

O Supremo começa nesta segunda-feira (9) os interrogatórios da Ação Penal 2668, que apura a tentativa de golpe de Estado em 2022.

O núcleo 1 da denúncia reúne os principais articuladores da ruptura institucional, segundo a Procuradoria-Geral da República. A lista de réus inclui nomes centrais da cúpula militar e do governo Bolsonaro:

  • Mauro Cid (réu colaborador)
  • Alexandre Ramagem
  • Almir Garnier
  • Anderson Torres
  • Augusto Heleno
  • Jair Bolsonaro
  • Paulo Sérgio Nogueira
  • Walter Braga Netto (que será ouvido por videoconferência)

As sessões serão presenciais, na Primeira Turma do STF, e seguem até sexta-feira (13), com depoimentos marcados para os dias 9, 10, 11, 12 e 13 de junho.

Blog do Esmael lança série especial “Bolsonaro no Bico do Corvo”
Blog do Esmael lançou série especial “Bolsonaro no Bico do Corvo”

Os crimes em jogo

Os réus respondem por:

  • Tentativa de golpe de Estado
  • Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
  • Participação em organização criminosa armada
  • Dano qualificado
  • Deterioração de patrimônio tombado

A denúncia da PGR, aceita em março, afirma que o grupo se articulou para romper a ordem constitucional, utilizando-se de agentes públicos, militares da ativa e civis mobilizados para criar um ambiente propício ao golpe.

Conflito entre lealdade e fuga

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Fuga de Zambelli e Eduardo acende alerta no STF para possível fuga de Jair Bolsonaro

A fuga de Zambelli para a Europa contrasta com a convocação de Bolsonaro para depor presencialmente em Brasília. Segundo relatos internos, há irritação no entorno do ex-presidente com a exposição negativa provocada pela aliada.

O incômodo é duplo: político e simbólico. Zambelli foi, durante anos, uma das vozes mais estridentes na defesa incondicional do bolsonarismo. Agora, sua evasão é vista como abandono em um momento de crise aguda.

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“Bolsonaro no Bico do Corvo”

Carla Zambelli pode até ter fugido do Brasil, mas deixou Jair Bolsonaro encurralado no coração do poder judiciário. A radicalização que antes era tida como trunfo se tornou fardo — e isso ajuda a explicar por que o ex-presidente está, de novo, no bico do corvo.

Enquanto o STF inicia os interrogatórios do núcleo duro do bolsonarismo, os olhos da República estão voltados para os desdobramentos dessa operação jurídica inédita. A democracia, afinal, está julgando quem tentou derrubá-la.

Acompanhe a série especial “Bolsonaro no Bico do Corvo” no Blog do Esmael. Comente, compartilhe e fortaleça o jornalismo crítico e independente.

Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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