Folha destaca influência do Blog do Esmael na cobertura de “Bolsotemer”

A ombudsman da Folha, Alexandra Moraes, citou neste domingo (10) o Blog do Esmael como pioneiro ao usar o termo “Bolsotemer” para descrever uma aliança entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Michel Temer.

No artigo intitulado “Bolsonaro diz, Temer diz, blog diz, diz Folha”, Moraes alfineta a cobertura da própria Folha, apontando como o jornal, dias após o Blog do Esmael, passou a explorar a polêmica associação entre os dois políticos.

A repercussão começou quando o Blog do Esmael trouxe à tona o termo “Bolsotemer”, insinuando uma aliança que, embora improvável, ganhou as manchetes.

A ombudsman ironizou a abordagem do jornal, que dedicou três entrevistas a Temer em dez dias e, em seguida, publicou uma série de cinco partes com Bolsonaro, criando, segundo ela, uma “lasanha esquisita” de declarações intercaladas.

A estratégia de fracionamento das entrevistas pela Folha atrai cliques, mas enfraquece o contexto completo, o que a ombudsman critica como um “excesso de fatiamento” que dilui o conteúdo.

Bolsonaro, aproveitando a visibilidade, fez acenos ao seu “crush” Donald Trump e sugeriu, de maneira ambígua, a possibilidade de uma chapa com Temer em 2026.

A aliança, no entanto, se limita ao campo da especulação, dado que Bolsonaro está inelegível até 2030.

O destaque dado ao Blog do Esmael pela Folha mostra a relevância de veículos alternativos para pautar o debate político nacional.

Em um país onde a mídia tradicional ocupa espaço central, a influência de blogs independentes traz diversidade e novas perspectivas ao discurso público, ampliando o papel crítico na democracia.

Folha destaca o Blog do Esmael na discussão sobre o "Bolsotemer"
Folha destaca o Blog do Esmael na discussão sobre o “Bolsotemer”

Aqui está a íntegra da coluna da ombudsman da Folha:

Destino Iguaçu

Opinião – Alexandra Moraes – Ouvidor: Bolsonaro diz, Temer diz, blog diz, diz Folha

Num espaço de dez dias, a Folha publicou três entrevistas com o ex-presidente Michel Temer. E, em três dias, distribuiu em cinco partes uma entrevista com o também ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente inelegível até 2030.

Em um determinado momento, fatias de “diz Bolsonaro” eram intercaladas com camadas de “diz Temer”, e a Folha oferecia ao leitor uma lasanha esquisita após a nova eleição de Donald Trump.

Publicadas com pouco mais de duas horas de intervalo, “Temer diz que não será vice de Bolsonaro pois já saiu da vida pública” e “Não acredito que a eleição de Trump influencia o STF, diz Temer sobre o caso Bolsonaro” se sucediam nos destaques da Folha . Eram respondeu a “Bolsonaro diz que a vitória de Trump é ‘passo importante’ para volta ao Planalto e cita Temer vice” e às especulações do bolsonarismo sobre tornar seu capitão candidato em 2026, que também circularam pelo site do jornal. Essas declarações de Temer vieram na semana seguinte a uma outra entrevista, em que dizia que o governo Lula “não tem projeto para o país”.

Temer, segundo um dos textos gêmeos, “classifica de ‘brincadeira’ informações que circularam de que ele poderia ser vice de Bolsonaro caso ele revertesse sua inelegibilidade. ‘Achei esquisitíssimo’.”

Não foi só o ex-vice de Dilma que achou esquisitíssimo. Leitores do jornal também acharam —tanto o caso em si quanto a superexposição dele na Folha. A informação, ou especulação, sobre a suposta chapa bolsotemer circulara num blog dias antes e chegava ao jornal praticamente naquele momento contada pelo próprio Bolsonaro, instada a comentar o boato.

A entrevista de Bolsonaro foi dividida em cinco títulos e, por isso, ganhou sobrevida ao longo de três dias no site do jornal. O fatiamento de uma reportagem é uma via de mão dupla: se por um lado tem a tarefa pouco nobre mas importante de “render cliques”, por outro também pode facilitar a vida do leitor com textos menos longos e mais segmentados.

Mas o veneno, como sempre, é o excesso. Picado demais, o material é repetitivo ou incompleto.

Bolsonaro, que desde que deixou o poder passou a falar com a Folha sem a animosidade característica de seu período no Planalto, conseguiu espaço e títulos para se derreter sobre seu “crush” em Donald Trump e reafirmar sua liderança na direita após a passagem do furacão Pablo Marçal. Aproveitou para desafiar o STF a devolver seu passaporte para ir à posse de Trump e para ventilar a fofoca que colocaria seu nome, mesmo inelegível, numa dobradinha para disputar a presidência já em 2026. Ele emenda um “não sei se é verdade ou não, eu não falo sobre esse assunto” para entregar o bilhete: “É o [Michel] Temer [MDB] de vice”.

O “estar na mídia” a que Bolsonaro se referia era o Blog do Esmael , que parece não ser exatamente íntimo dos leitores da Folha . E, até aquele momento, o papo de chapa bolsotemer tampouco havia aparecido no jornal.

A Folha lembrou o papel nada pequeno de Temer ao ter indicado Alexandre de Moraes ao STF e ao ter feito “ponte” com o ministro a favor de Bolsonaro em 2021. Mas teria sido útil um contexto menos sutil sobre os movimentos da mão do emedebista e os recados que Bolsonaro tentou empurrar.

“Essa história de Bolsonaro candidato a presidente e Temer vice é demais. Como dar título a uma história que é morta na origem? Se Bolsonaro não pode ser candidato, como Temer pode ser vice? Por que a Folha atiça esse tipo de coisa?” , pergunta um leitor.

“É lógico que há interesse público em saber como um dos maiores nomes da oposição enxerga o atual momento político. Mas disso para promover o discurso dele, na manchete, sem qualquer ponderação, é completamente absurdo”, diz outro leitor.

O jornal chegou a publicar um outro texto em que contextualizava como a ideia de redenção de Bolsonaro esbarrava em decisões improváveis ??e quanto ela tinha de pensamento mágico.

Mas, mais uma vez, o fatiamento prejudicava, sobretudo no site, a leitura do material como um todo. Numa história cheia de nuances e curiosidades como essa, seria importante tornar mais claro o contraditório e dosar melhor o pinga-pinga das declarações.

Deixar de noticiar a movimentação e as opiniões dos ex-presidentes, porém, não seria uma opção no jornalismo. No país em que um dia toda-poderosa a Lava Jato virou pó, é saudável não duvidar de nada (e duvidar de tudo).

Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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