Cargill arremata joia do Porto de Paranaguá sob sombra de apagão logístico
A gigante do agronegócio Cargill arrematou nesta quarta-feira (30) a área portuária PAR15, no Porto de Paranaguá (PR), com uma oferta agressiva de R$ 411 milhões de outorga — superando a Arco Norte Logística em uma disputa no viva-voz direto da B3, a bolsa de valores de São Paulo.
A área conquistada pela Cargill é estratégica para o escoamento de granéis sólidos vegetais, como soja e milho, e terá concessão de 35 anos. A empresa se compromete a investir mais de R$ 600 milhões, somando obrigação de modernização e infraestrutura logística.
Leilão milionário entrega patrimônio público e acende alerta
Além da Cargill, o BTG Pactual Commodities levou a área PAR14 por R$ 225 milhões, e o consórcio ALDC (formado por Louis Dreyfus Company e Amaggi) arrematou a PAR25, com lance de R$ 219 milhões.
Os três lotes renderam R$ 855 milhões em outorga para o governo federal, segundo a Antaq, e devem atrair R$ 2 bilhões em investimentos — valor celebrado como “histórico” pelo governo
Mas nem tudo são flores no cais.
Modelo “privatiza tudo” pode gerar apagão logístico no Paraná
O modelo adotado lembra a privatização da Copel, com baixa participação estatal, capital pulverizado e contratos de longo prazo. Ou seja: lucro garantido para poucos e risco para muitos.
É o mesmo caminho seguido por Espanha e Portugal no setor energético — e o resultado apareceu ontem (28): um apagão paralisou os dois países, afetando trens, metrôs e serviços essenciais.
No Paraná, analistas alertam que o próximo colapso pode ser logístico. A concessão dos terminais à iniciativa privada, sem controle público efetivo, pode resultar em tarifas abusivas, perda de competitividade no comércio exterior e gargalos no escoamento de grãos.
Leilão sem debate e com viés eleitoral
Nos bastidores, a movimentação é lida como estratégia política do governador Ratinho Júnior (PSD), que tenta construir uma imagem de “gestor eficiente” rumo às eleições de 2026.
O leilão ocorreu sem debate público aprofundado, ignorando alertas de movimentos sociais e sindicatos portuários. Enquanto prefeitos aplaudiam no evento da AMP, o povo paranaense assistia, de longe, a entrega de um de seus principais patrimônios.
? Leia também: Ratinho Júnior põe Porto de Paranaguá na roda da B3 e arrisca apagão logístico
O que está em jogo no Porto de Paranaguá?

Áreas leiloadas e vencedores:
- PAR14 (BTG Pactual)
Área: 82,4 mil m²
Produto: Granéis sólidos orgânicos
Outorga: R$ 225 milhões
Investimentos: R$ 1 bilhão (somado) - PAR15 (Cargill)
Área: 43,2 mil m²
Produto: Granéis sólidos vegetais
Outorga: R$ 411 milhões
Investimentos: R$ 600 milhões (estimado) - PAR25 (ALDC)
Área: 43,4 mil m²
Produto: Granéis sólidos vegetais
Outorga: R$ 219 milhões
Investimentos: R$ 564 milhões
Entenda os impactos do leilão portuário
O que foi leiloado no Porto de Paranaguá?
Três áreas para movimentação de grãos, concedidas por 35 anos à iniciativa privada.
Quais os riscos para o Paraná?
Especialistas falam em apagão logístico: atraso no escoamento, aumento de custos e perda de soberania.
Quem arrematou as áreas?
Cargill (PAR15), BTG Pactual (PAR14) e consórcio ALDC (PAR25).
O modelo é o mesmo da Copel?
Sim. Ausência estatal e contratos longos — o que dificulta intervenção pública em crises.
O que tem a ver com o apagão na Espanha?
A Península Ibérica seguiu esse mesmo caminho de privatização ampla e colheu um colapso energético.
Quem é a Cargill: a gigante invisível que agora opera o Porto de Paranaguá
A Cargill não é só mais uma empresa — é uma potência global no agronegócio, com sede em Minnesota (EUA) e presença ativa nos cinco continentes. Fundada em 1865, a multinacional permanece familiar e de capital fechado, com mais de 85% de suas ações nas mãos dos herdeiros das famílias Cargill e MacMillan.
Com uma impressionante receita anual de US$ 165 bilhões e lucro de US$ 6,68 bilhões, a empresa emprega mais de 160 mil pessoas em 70 países e responde por 25% de todas as exportações de grãos dos EUA. Se fosse listada em bolsa, a Cargill estaria entre as 10 maiores do mundo, segundo a Fortune 500.
Alimentação, finanças e poder
A atuação da Cargill vai muito além dos grãos:
- Fornece 22% da carne bovina consumida nos EUA;
- É a maior exportadora de carnes da Argentina;
- Lidera a produção de aves na Tailândia;
- Fornece todos os ovos do McDonald’s americano;
- É a única produtora do sal Alberger, utilizado na indústria de fast food.
No Brasil, mantém unidades em Ilhéus (BA) e Porto Ferreira (SP), onde fabrica achocolatados, amidos e adoçantes. Foi expropriada temporariamente por Hugo Chávez, na Venezuela, em 2009, por descumprimento de políticas de abastecimento. A fábrica foi devolvida meses depois.
Além da produção, a Cargill opera um braço financeiro robusto. Em 2003, criou o fundo de hedge Black River Asset Management, com US$ 10 bilhões em ativos, para gerenciar riscos nos mercados globais de commodities.
Relação com o Brasil
A presença no Brasil é estratégica. Em 2015, a brasileira JBS comprou a divisão suína da Cargill nos EUA por US$ 1,45 bilhão, incluindo plantas industriais, fábricas de ração e granjas — o que evidencia o nível de integração entre multinacionais e interesses nacionais no setor agroalimentar.
Agora, com a vitória no leilão do terminal PAR15 no Porto de Paranaguá, a Cargill passa a controlar um dos principais corredores de exportação do Sul do Brasil, em uma movimentação que pode redesenhar o equilíbrio de poder logístico do agronegócio nacional.
Paranaguá nas mãos da Cargill e o Paraná no escuro?
A vitória da Cargill no maior terminal portuário do Sul do Brasil é mais que uma notícia econômica: é um divisor de águas para o futuro da infraestrutura e da soberania logística do Paraná.
Se repetir o caminho da Copel e da Espanha, o pagamento logístico pode ser cobrado com juros e correção social.
Será que Ratinho Júnior saberá navegar com segurança, ou deixará o Paraná à deriva?
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
Publicação de: Blog do Esmael