Tânia Mandarino: Podemos dividir com os pais o trabalho de cuidado dos filhos e filhas?

Por Tânia Mandarino*

Desde o domingo, 5 de outubro o tema da redação do ENEM 2023 está em debate nas redes sociais,  escolas, rodas de conversa.

Afinal, diz respeito a todas e todos nós: Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil.

Por isso, gostaria muito conversar com estudantes que fizeram a redação do ENEM no domingo para tratar de algumas contradições que cercam a temática.

A mais evidente, que me salta aos olhos, é a ferrenha batalha de movimentos de mulheres para NÃO compartilhar a guarda de suas filhas e filhos com o pais das crianças.

A disputa é tanta que há grandes celebrações quando a guarda unilateral materna é definida por lei em caso de violência doméstica (mesmo que somente contra a mãe e não contra a criança).

Celebram até quando o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) mantém a guarda somente para a mãe em caso de “animosidade entre as partes”.

Por que isso?!

Há algum tempo observamos as movimentações de um lobby fortíssimo, financiado pelo identitarismo imperialista, para revogar integralmente a Lei da Alienação Parental.

A esse lobby se juntaram parlamentares evangélicos de extrema direita, como a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e o senador Magno Malta (PL-ES).

Os dois puxam um trem insano pela revogação Lei da Alienação Parental, que se ”locomove” graças ao apoio ferrenho de mulheres e parlamentares de esquerda.

Por que movimentos de mulheres fantásticas se aliam à direita para exigir que, em um país de filhos sem pais, os pais sejam cada vez mais afastados dos filhos pela imposição da celebrada guarda unilateral materna?

O trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil conta com a luta pública das mulheres para continuarem realizando-o sem apoio dos homens/pais, ao menos no que toca à igualdade parental?

A contradição, certamente, virá de um comando muito maior do que a questão parental em si. Um comando ligado à imposição de compatibilidade da esquerda brasileira, pelo grande capital financeiro internacional – que assim o exige.

Afinal, lutas viscerais como essa, pela guarda unilateral materna, mantém a esquerda em guerra e a guerra parental certamente interessa mais a quem a financia do que a luta de classes.

Se eu tivesse feito a redação no domingo, teria falado sobre isto também: o trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil que não pode ser dividido com homens da classe trabalhadora (tão vítimas do capitalismo quanto as mulheres da mesma classe) porque alguém firmou que filhos devem permanecer umbilicalmente ligados às mães e suas pautas adultomulherescentristas.

É ou não é uma contradição?

Agora, uma sugestão.

Confiram, abaixo, esta preciosidade: o curta-metragem ucraniano O Cordão (2018), dirigido por Olexandr Bubnov, que mostra os efeitos nefastos de se manter uma eterna ligação umbilical entre mães e filhos.

*Tânia Mandarino, advogada, feminista classista não compatível, por igualdade de gênero e IGUALDADE PARENTAL

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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