O Brasil Precisa Crescer… urgentemente!

Bruno Moser Nunes

O Brasil precisa urgentemente de crescimento econômico. O tipo de crescimento, quanto, pra quem e como deve crescer são outras questões igualmente importantíssimas, mas que não alteram esse fato.

Não existe distribuição de renda e estabilidade macroeconômica possíveis sem crescimento sustentado do nosso PIB potencial (2,5% ao ano) por uns 10 anos pelo menos. Não há como dividir uma riqueza que não existe e não foi produzida. É necessário crescer e dividir, com estabilidade macroeconômica (juros, câmbio e inflação em patamares competitivos e saudáveis pro País). Só que não estamos crescendo mais como antes, nem mesmo nosso potencial, e temos uma cidadania cada vez mais demandante. Portanto, precisamos desse crescimento pra gerar empregos, melhorar a arrecadação e reorganizar as contas públicas e a situação socioeconômica dos brasileiros. Não haverá governo Lula possível sem crescimento. Assim como não é possível um país se desenvolver na base do endividamento durante muito tempo. Quando os salários crescem acima da produtividade por muito tempo, as empresas se endividam e quebram ou, pra isso não acontecer, demitem. Em parte foi o que aconteceu em 2015-2016.

O oposto também é verdadeiro: não adianta crescer taxas chinesas (dois dígitos) praticando dumping social, ou seja, subvalorização laboral, pra se ter maior competitividade. Ou a ditadura brasileira, em cujo período o Brasil cresceu muito, mas com hiperinflação, dívida externa e desigualdade. A própria China, que fez esse dumping social no passado recente, hoje vem fazendo o contrário: diminuindo a pobreza e aumentando a renda dos chineses. E alguns estudos já demonstraram que o Brasil conseguiu se desenvolver entre 2006-2014 ampliando os ganhos de bem estar sociais mesmo com um crescimento que em alguns destes anos foi baixo.

E o que faz crescer uma economia de forma sustentada não é outra coisa senão os investimentos produtivos (a formação bruta de capital fixo, que não significa recorde na bolsa de valores). E o que atrai investimentos? Credibilidade nacional e internacional (boas relações com o mundo); previsibilidade (segurança jurídica, respeito a contratos e ausência de crises e tensões permanentes); rentabilidade (setores que sejam ou se tornem atrativos com apoio do Estado quando necessário, através de políticas de crédito, industriais, entre outras); e uma estratégia de desenvolvimento que aproveite as potencialidades de um país tão potencialmente rico quanto o Brasil, com um grande mercado consumidor interno e com tanta criatividade e abundância de recursos naturais. E lógico que esse aproveitamento tem que se traduzir em progressos técnicos e tecnológicos, de uma economia moderna e sustentável, o que é outro ponto.

Nós conseguimos um ensaio disso no Brasil durante os governos do PT. Houve crescimento, com distribuição e estabilidade macro. Mas pra retomar isso e nesse outro contexto, precisaremos sim ou sim de crescimento da nossa produtividade. Sem dúvida alguma é o ideal que esse crescimento venha a partir da indústria de transformação e dos serviços, mas enquanto isso não acontece, precisaremos ir melhorando a matriz produtiva aos poucos. Enquanto o dólar estiver a R$5, as exportações seguirão se fortalecendo, incluídas aí as commodities e o extrativismo. Mas olhando pelo lado positivo, entram mais dólares na economia pra reduzir esse nível do dólar, aumentar o poder de compra dos brasileiros, melhorar as contas públicas e ir investindo nessa melhora da matriz produtiva.

Bruno Moser Nunes*

* Bruno Moser Nunes mora em Buenos Aires e é pesquisador na FLACSO (Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales) e professor na Universidad CIEE - Buenos Aires.

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