Moro quebra o silêncio e defende anistia aos condenados do 8/1
Flexibilização da Lei da Ficha Limpa ainda continua sendo tabu para o ex-juiz da Lava Jato, que nada comentou sobre a proposta que pode reabilitar o ex-presidente Bolsonaro
O senador Sergio Moro (União-PR) finalmente se pronunciou sobre a anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro. Em uma declaração publicada no X (antigo Twitter), o ex-juiz da Lava Jato argumentou que as penas são excessivas e classificou os condenados como “pobres coitados” que erraram por “paixão política”. No entanto, Moro manteve o silêncio sobre a flexibilização da Lei da Ficha Limpa, que pode viabilizar a candidatura de Jair Bolsonaro (PL) em 2026.
O que disse Moro sobre a anistia
Na publicação, Moro afirmou que “há votos vencidos no STF que reconhecem o excesso e a dupla punição” e defendeu a revisão das sentenças. Para ele, misturar essa anistia com a de 1964 ou com as eleições de 2026 é “errado”.
O senador vem sendo pressionado por setores da direita a apoiar uma anistia ampla aos envolvidos nos ataques às sedes dos Três Poderes. Até então, ele evitava abordar diretamente o tema, o que gerava desconforto entre seus apoiadores mais conservadores.
A íntegra na manifestação de Moro no X
Sobre a anistia do 8/1: o olhar tem que ser dirigido aos manifestantes invasores que estão presos desde aquela época ou aos que estão recebendo condenações de 17 anos de prisão. Pobres coitados que erraram e se excederam por paixão política, mas não são criminosos. As penas são excessivas e há dupla punição porque uma única conduta foi enquadrada erroneamente em dois crimes (tentativa de golpe de estado e tentativa de abolição do estado de direito). Há votos vencidos no STF que reconhecem o excesso e a dupla punição. Enquanto as penas não forem reduzidas sensivelmente e essas pessoas soltas, haverá clamor pela anistia. Sou e serei favorável a ela. Misturar essa anistia com 1964 ou 2026 é errado.
O silêncio sobre a Lei da Ficha Limpa
Enquanto se manifesta sobre a anistia, Moro segue sem comentar as movimentações do Congresso para flexibilizar a Lei da Ficha Limpa. A proposta pode beneficiar Bolsonaro e outros políticos condenados por abuso de poder econômico ou improbidade administrativa, reduzindo seus períodos de inelegibilidade.
A omissão do ex-juiz não passa despercebida. Salvo da cassação no ano passado, graças a um arranjo político que envolveu lideranças de diferentes espectros, incluindo Alexandre de Moraes, Michel Temer e Davi Alcolumbre, Moro enfrenta dificuldades para manter um discurso coeso no Senado. Seu apoio à anistia pode ser visto como uma tentativa de reaproximação com setores bolsonaristas, mas a falta de posicionamento sobre a Lei da Ficha Limpa levanta suspeitas sobre seus reais interesses.
O isolamento político de Moro
Nos bastidores, a situação política de Moro é delicada. No Paraná, sua ausência na posse do novo presidente da Assembleia Legislativa, Alexandre Curi (PSD), chamou atenção. O evento reuniu sete ex-governadores, 350 prefeitos e líderes de diversas instituições. Sua falta reforça a percepção de distanciamento político no estado onde deseja disputar o governo em 2026.
No Senado, a nova composição da mesa diretora sob Davi Alcolumbre também sinaliza que o ex-juiz deve uma pedra para o político do Centrão. Qual seja, Moro recebeu um cabrestro do Centrão e está sem trânsito entre os bolsonaristas.
O futuro de Moro e sua estratégia
Com a declaração sobre a anistia, Sergio Moro parece tentar reconstruir pontes com setores da direita que o viam com desconfiança. No entanto, seu silêncio sobre a Lei da Ficha Limpa e sua falta de inserção política nos bastidores do Congresso podem comprometer sua estratégia para 2026.
Nos próximos meses, a postura de Moro será decisiva para definir seu futuro político no Paraná. O senador conseguirá sustentar um discurso de terceira via, equilibrando-se entre bolsonaristas e setores mais moderados, ou acabará engolido pelas mesmas forças que ajudou a impulsionar durante a Lava Jato?
Publicação de: Blog do Esmael