Luís Carlos Bolzan: A defesa de criação do partido nazista por Monark e Kataguiri não pode ficar impune; deputado tem que perder o mandato

Por Luís Carlos Bolzan*, especial para o Viomundo

No episódio 545 do Podcast Flow de 07/02/22, o youtuber Monark fez defesa explícita e contínua da criação de partido nazista no Brasil, com base na ideia de “liberdade de expressão” suprema, inquestionável e absolutizada.

A defesa de Monark recebeu apoio do deputado Federal Kim Kataguiri (DEM/SP, agora União Brasil/SP) seguindo na mesma lógica da supremacia da liberdade de expressão, mesmo que seja para defender a violência física e psicológica contra segmentos étnicos, sociais e políticos.

Apesar de serem reiteradamente contrapostos por argumentos da deputada federal Tabata Amaral (PSB/SP), Monark e Kataguiri seguiram na defesa da criação de partido nazista brasileiro. Kataguiri fez mais. Afirmou que Alemanha errou ao criminalizar o nazismo.

Por que ser contra criação de partido nazista?

Porque o nazismo é ideologia fundamentada sobre o racismo, a eugenia e o genocídio, através de uma ditadura racial branca ariana, em detrimento de todos demais segmentos, caracterizando-se, portanto, em projeto elitista racial que defende o extermínio dos ditos “impuros”, “doentes”, “degenerados” e “inferiores”.

Tal designação compreende judeus, negros, eslavos, indígenas, ciganos, população LGBTQIA+, pessoas que sofrem com doenças mesmo passíveis de cura e de cunho leve ou moderado, e claro, artistas que pratiquem a chamada pelos nazistas “arte degenerada”, feministas e “esquerdistas”.

Muitos são os  documentos que comprovam tal inclinação assassina, desde o livro de Hitler, “Minha Luta”, até documentos do III Reich, como os que dão conta da operação T4 que exterminou milhares de crianças doentes, ou ainda os experimentos com gás que chacinaram pacientes institucionalizados em asilos ou hospitais psiquiátricos, ou ainda, os campos de concentração e de extermínio, usados como mão de obra escrava para auferir lucro para nazistas de alto coturno e grandes empresas associadas ao plano nazista de expansão para o leste na guerra de extermínio contra povos eslavos.

Nesses mesmos campos de extermínio, milhões de judeus foram assassinados na chamada “solução final” para a questão judaica formulada pelos nazistas, genocídio esse conhecido como Holocausto judeu.

O assassinato de milhões de pessoas não se restringia à morte, mas vinha precedida de longo e massacrante processo de sofrimento psíquico, com humilhações sistemáticas, reiteradas e absurdamente traumatizantes.

Apesar de todo o conhecimento produzido por décadas de pesquisas acadêmicas fundamentadas em documentos e testemunhos históricos, Monark e Kataguiri fizeram a apologia da liberdade de defender pública e institucionalmente ideologia abjeta da ditadura racial nazista.

A alegação por eles apresentada?

É mais fácil você derrotar socialmente tal ideologia se você legalizar e institucionalizar sua presença social para banir a mesma.

O argumento é falacioso e não se sustenta em fatos históricos pré III Reich, nem em fatos atuais, quando pelas redes sociais o diversionismo negacionista tem alargado limites do que é tolerável ou não, permitindo a presença insidiosa do discurso de ódio do racismo, que é permanentemente inoculado como veneno no tecido social, relativizando conquistas sociais e atacando direitos humanos, fazendo o que antes era execrado, como o genocídio, ser agora relativizado e minimizado para ser tolerado, e, vejam só, não mais criminalizado.

Os argumentos falaciosos usados por Monark e o deputado do União Brasil, Kim Kataguiri, têm efeito contrário do alegado. Não combatem nem isolam o nazismo, mas o legitimam, institucionalizam, relativizam, aceitam e descriminalizam suas atrocidades.

Na sanha negacionista, Monark e Kataguiri, ao serem confrontados por Tabata, de que na lógica por eles defendida estariam apoiando a criação de partidos que defendessem a pedofilia e o estupro, logo retrucaram: não, porque aí é “violência física”.

O diversionismo negacionista da dupla defensora da criação de partido nazista explicita desprezo pelo sofrimento psíquico e todas as excruciantes torturas psicológicas impostas pelo nazismo à suas vítimas.

Chama atenção que o youtuber Monark que menosprezara o sofrimento psíquico das vítimas do nazismo, cerca de 24 horas depois de suas declarações desastrosas gravou e postou vídeo chorando e pedindo para pessoas “pegarem leve”.

Ou seja, quem um dia antes menosprezava sofrimento psíquico de vítimas de perseguição e torturas, pedia para pegarem leve com ele, pois estava sofrendo e havia sido mal interpretado, demonstrando que o sofrimento mental só deve ser considerado se for dele, não dos milhões de pessoas massacradas pelo nazismo que ele e Kataguiri defendem ter o direito de expressar seu projeto de ódio racial.

Monark já foi desligado do Flow após enxurrada de críticas e pressão de patrocinadores. Precisou a pressão de quem patrocina programa para que o mesmo tomasse medida de desligar o defensor de criação de partido nazista. Se não tivesse tal pressão teriam tomado essa medida?

A Procuradoria Geral da União abriu inquérito para averiguar se houve crime de apologia ao nazismo da dupla defensora da criação de partido nazista que professa ditadura racial e extermínio de “inferiores” e “degenerados”. Para constatar a prática de crime basta assistir ao Podcast.

Não pode haver impunidade. Ambos devem ser punidos, e o deputado do União Brasil deve perder seu mandato.

De outra forma, será passada mensagem de conivência com crimes de apologia ao nazismo, repito, ideologia de extrema direita que prega a perseguição, tortura e o extermínio daqueles que não são brancos arianos.

Aliás, mensagem essa de conivência e impunidade, que tem sido passada pelo DEM, agora União Brasil, partido do deputado Kim Kataguiri, com o ensurdecedor silêncio da agremiação partidária diante da defesa de seu deputado da liberdade de expressão de quem defende assassinato em massa daqueles de “raça inferior” ou “degenerados”, porque essa “liberdade de expressão não é violência física”.

Para o União Brasil parece, até agora, estar tudo bem que seus deputados façam esta defesa, dado o silêncio da agremiação.

A resposta deverá ser dada nas eleições desse ano ao partido conivente com defesa de criação de partido nazista.

Que a sociedade brasileira siga em caminho contrário ao União Brasil e repudie enfaticamente a mixórdia humana defendida pelos que sobrepõem direito de assassinos nazistas aos direitos humanos de suas vítimas.

Apologia ao nazismo é crime e não há liberdade de expressão para defender ditadura racial e genocídio.

*Luís Carlos Bolzan é psicólogo e especialista em psicologia da saúde

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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