Financiamento, permanência de estudantes e cotas aparecem como prioridade em ato na USP
Com presença do ex-presidente e candidato do PT à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva, a aula aberta Universidade Pública e Democracia, realizada nesta segunda-feira (15), reuniu pela segunda vez em menos de uma semana grande público em defesa da democracia.
No vão do prédio da na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), milhares de pessoas se reuniram para acompanhar o evento, que teve participação do candidato ao governo de São Paulo Fernando Haddad e das professoras Marilena Chauí, Ermínia Maricato e Adriana Alves.
A primeira manifestação pela democracia foi o ato de lançamento da “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, que aconteceu na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco na última quinta-feira (11).
Apesar de terem acontecido na mesma instituição, os eventos apresentaram diferenças marcantes. O ato da São Francisco reuniu uma ampla diversidade de participantes e serviu para que parte considerável da elite brasileira se posicionasse contra os ataques à democracia e às instituições no país. Já a aula na FFLCH juntou estudantes, professores e partidos de esquerda em uma discussão sobre propostas para as universidades públicas e para o país.
Em sua fala, Lula destacou que a participação da população no processo político é fundamental. “É nossa responsabilidade dizer que país a gente quer”, disse Lula. “Nós não temos o direito de ficar quietos com a destruição que está em marcha nesse país. Temos que gritar, protestar, e no dia 2 de outubro temos que votar. E o voto significa: tirar quem está aí”
Ele destacou, ainda, que depois de anos com aumentos salariais reais para a maior parte dos trabalhadores – em especial para aqueles que ganham o mínimo – o país passa por uma crise econômica que atinge até aqueles que estão empregados. “Os empregos estão ficando desqualificados, a massa salarial está caindo”, afirmou. “Tudo piorou, mesmo para quem está trabalhando.”
Universidade em foco
Em frente a uma audiência composta em sua maioria por estudantes, Lula destacou as políticas para a educação superior construídas em seus mandatos como presidente. Em diversos momentos, o candidato relembrou que foi o presidente que mais criou universidades e escolas técnicas. Além disso, ele destacou as ações de permanência dos estudantes na universidade e a política de cotas. “A gente percebe que mudou a cor das universidades e precisa mudar mais, por que é esse o país real”, disse.
Bruna Brelaz, presidente da União Nacional dos Estudantes, lembrou da importância da revogação do Teto de Gastos, aprovado em 2016, que congelou os investimentos nas áreas sociais por 20 anos e segue em vigor. “A gente acha que isso tem prejudicado a universidade. A reposição orçamentária também é uma bandeira muito importante para a gente”, disse. Ela cobrou, ainda, que um eventual governo Lula tenha compromisso com a Lei das Cotas e com políticas de permanência dos estudantes na universidade.
Guilherme Boulos, candidato a deputado federal pelo Psol, destacou a importância do evento. “Esse é um ato para discutir universidade, para discutir educação. A universidade foi desmontada durante o governo Bolsonaro, com corte de investimento, não teve ampliação ou criação de um único campus, as políticas de permanência estudantil [foram] desestruturadas.”
O deputado federal Alexandre Padilha, que foi ministro da Saúde de Lula, também destacou a necessidade de apoiar os estudantes. “Uma das questões mais graves que nós temos hoje é a destruição por parte de Bolsonaro da política de manutenção das políticas de manutenção dos alunos nas universidades. Tenho aluno que está no curso de Medicina, no quinto ano, querendo desistir do curso porque não consegue se manter aqui e diz que a família está passando fome aqui”, lamentou.
Para Padilha, a presença de Lula na USP é, ainda, um contraponto a Bolsonaro. “Quero ver o Bolsonaro entrar numa universidade, quero ver em qual universidade o Bolsonaro vai ser convidado, em qual universidade o Bolsonaro entra depois que ele transformou o Ministério da Educação em um balcão de corrupção com falsos pastores.”
Cientistas na política
No início do evento, Mariana Moura, integrante do coletivo Cientistas Engajados e candidata a deputada estadual pelo PCdoB, conversava com o público sobre a presença de cientistas na política. “Esse ano a gente está vendo uma explosão de energia, porque já temos mais de 110 candidatos no Brasil inteiro, em vários partidos, que se comprometeram com a ciência e com a educação e a gente está super feliz com isso”, afirmou. “Nossas duas principais pautas são o financiamento da ciência e políticas públicas cientificamente embasadas”.
Sobre o ato, ela lembrou da importância de levar para o campus um público que não tem relação com a universidade. “O mais importante desse ato não é trazer o Lula para a USP, mas sim trazer a população para a USP. Tem muita gente aqui hoje que não é da universidade, não é aluno, não é professor. São pessoas que vieram ver o Lula dentro da universidade e aproveitam para ver o que é a universidade. Isso é fundamental no momento em que a gente está passando de queda no financiamento da ciência.”
Apesar de minoria, pessoas que não estão na comunidade universitária estiveram, de fato, presentes no evento. Francisco Bastos, artesão e morador da comunidade Piemonteses, na Zona Oeste, foi até a USP para ver o discurso de Lula. “Vim porque queria conhecer um pouco mais do projeto que Lula está elaborando para resgatar o Brasil, que está à falência”, disse.
Sofia Sales, professora alfabetizadora e ex-aluna da Faculdade de Educação da USP, afirmou que foi ao ato em busca de esperança.”[Vim para] ouvir o presidente, ouvir o Haddad, para ter algum fundo de esperança para a gente poder ir trabalhar todos os dias até outubro”.
Após o evento, o integrante da União da Juventude Socialista (UJS), Erik de Souza, estudante de Ciências Sociais da USP, aprovou o discurso de Lula. “É muito bom quando ele vem e a gente vê que essa fala é para esse público, para os estudantes. Ele fala da importância da política de cotas, de ocupar as universidades. Eu sou estudante cotista de escola pública, então talvez se fosse 5 ou 6 anos atrás que eu tivesse prestado vestibular, eu não teria conseguido entrar, porque não tinha cota na USP”.
“A gente tem uma chance não só de derrotar o Bolsonaro, mas de reconstruir o nosso Brasil, de ampliar as cotas nas universidades. Aqui na UJS tem uma luta muito grande de ter cotas trans e vestibular indígena, são questões urgentes”, disse.
A aula pública foi organizada pelo coletivo USP Pela Democracia, formado por professores, estudantes e servidores da Universidade. O grupo lançou em junho o Manifesto pela Democracia, que segue recebendo assinaturas.
Publicação de: Brasil de Fato – Blog