Dr. Rosinha: 2022, o golpe continua em movimento
2022: o golpe continua em movimento.
Espero estar errado, mas tenho que a eleição deste ano será uma das mais tensas, agressiva e violentas da história do Brasil. Bolsonaro é golpista e nunca negou e não será neste último ano de governo que desistirá da tentativa de consolidar o – golpe – que vem construindo desde antes de estar no governo.
Por Dr. Rosinha*
Terminados os dois primeiros meses de 2022 e nada é diferente dos dois primeiros meses de 2021: a pandemia retoma fôlego; o ministério da saúde continua recomendando e se pudesse, receitaria cloroquina para todo o mundo, não só o Brasil; os hospitais e UTIs continuam com alta ocupação dos leitos; o número de óbitos dando sinal de que vai permanecer alto; os negacionistas continuam negando a ciência; e, Bolsonaro continua construindo o golpe, a miséria e a fome.
Agravante em relação aos dois primeiros meses do ano passado: a pandemia acomete mais crianças e aumenta o número de mortes dos demais jovens, porque não se vacinaram, ou não fizeram todas as doses.
Se janeiro e fevereiro de 2021 têm muita semelhança com os deste ano, os próximos meses serão bastante distintos.
A primeira novidade: foi noticiado que os governos de São Paulo e Rio de Janeiro adiaram o carnaval de março para abril, dia 21, dia de Tiradentes. O feriado nacional pela luta da independência vai virar samba. Será que vão colocar o herói no samba?
Os mesmos governantes que negam políticas públicas de caráter social – saúde, educação, habitação, transporte, etc. –, demagógica e autoritariamente, agora, para não perderem votos, decidem quando o povo pode comemorar a festa.
Este ato significa falta de coragem para decidir que o carnaval tem que ser cancelado e a resposta às famílias que dependem economicamente do mesmo é garantir-lhes renda que cubra suas necessidades.
Relevante é que neste 2022 será avaliada a Lei 12.711, conhecida como Lei de cotas.
A Lei prevê a reserva de 50% das vagas das universidades e institutos federais de Ensino Superior a estudantes de escolas públicas. Também estipula, dentro dessa reserva, o percentual que será destinado aos de baixa renda, pretos, pardos, indígenas e com deficiência.
Quando sancionada, em 2012, previa em seu artigo sétimo que, após 10 anos de vigência, ocorreria uma revisão.
Há silêncio sobre este tema. São poucas as pessoas que gritam a favor da Lei. Se a revisão for deixada ou confiada a Câmara dos Deputados e ao Senado é quase certo que perderemos este direito. Há que se organizar para defender a Lei.
Na esfera cultural há também dois fatos importantes e que exigem mobilizações: 2022 é o centenário da Semana de Arte Moderna e 100 anos da morte de Lima Barreto.
A Semana de Arte Moderna ocorreu em São Paulo, mas não é de São Paulo. A Semana entrou para a história, não só das artes, mas da política brasileira.
Num governo que nega a cultura popular e busca introduzir uma plataforma cultural nazista, o centenário da Semana de Arte Moderna é uma oportunidade de debater e retomar o significado da cultura no desenvolvimento da solidariedade, do humanismo e na conquista da liberdade.
Lima Barreto, considerado um escritor maldito, contribuiu denunciando o racismo e as condições de vida do povo negro. É oportuno fazer uma relação entre Lima Barreto e a defesa das cotas. Defender sua produção literária e relacioná-la com a atual realidade.
Ano passado Bolsonaro tentou no dia da independência dar um passo a mais rumo ao golpe de Estado. A reação popular e institucional inibiu-o, mas não o fez retroceder. Este ano, com a “comemoração” do bicentenário da independência, pode ocorrer nova tentativa.
É necessário, no meu ponto de vista, duas coisas: a mais importante nos precaver contra nova tentativa de golpe. Bolsonaro promete, se perder as eleições, não aceitar a derrota e o Sete de Setembro, vésperas das eleições, é propício para ações autoritárias de preparação para completar a derrocada do que resta de democracia.
Segunda questão, como é ano eleitoral seria didático debatermos, sem hipocrisia, que independência temos e que Brasil queremos, ou seja, um debate sobre soberania nacional.
E por fim, mas não é o fim, teremos eleições. Todas as pesquisas de opinião dão Lula como vencedor, algumas no primeiro turno e todas no segundo. Mas, o que parece dado, não está dado.
Espero estar errado, mas tenho que a eleição deste ano será uma das mais tensas, agressiva e violentas da história do Brasil. Bolsonaro é golpista e nunca negou e não será neste último ano de governo que desistirá da tentativa de consolidar o – golpe – que vem construindo desde antes de estar no governo.
Foi freado o ano passado, estacionou, mas continuou organizando-o tanto que tem armado seu povo – milícias, setor de segurança privada, policias militares, “esportistas” de tiro e de caça – e, dia a dia, constrói o discurso de que se perder, será por fraude e não sairá do Palácio.
*Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De maio de 2017 a dezembro de 2019, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.
Publicação de: Viomundo