Antonio Lassance: A quem pensa em votar em Simone Tebet Temer, ele agradece com o sorriso de lagarto
Simone Temer
Tebet não é candidata de si mesma, mas de um grupo do MDB liderado por Michel Temer. Até os “economistas liberais” que ela enaltece são os mesmos que estavam por trás da “ponte para o futuro”, o programa de governo adotado por Temer. Os feitos mais lembrados dessa turma foram a dolarização do preço dos combustíveis e do gás de cozinha e o teto de gastos sociais – que tirou recursos principalmente da educação.5
Por Antonio Lassance*, em Fórum 21
Não pense que o título deste artigo cometeu algum erro de digitação ou sofreu por falta de revisão. O verdadeiro sobrenome de Simone Tebet é Temer.
Explico: Tebet não é candidata de si mesma, mas de um grupo do MDB liderado por Michel Temer. Até os “economistas liberais” que ela enaltece são os mesmos que estavam por trás da “ponte para o futuro”, o programa de governo adotado por Temer.
Os feitos mais lembrados dessa turma foram a dolarização do preço dos combustíveis e do gás de cozinha e o teto de gastos sociais – que tirou recursos principalmente da educação.
Simone Tebet é um curioso caso de alguém que se lançou à presidência porque não tinha chances nem de se reeleger senadora por seu estado, o Mato Grosso do Sul. A favorita por lá continua sendo a ex-ministra da Agricultura, a bolsonarista Tereza Cristina. Tebet se candidatou à presidência para fugir dessa disputa.
Mas por que o MDB preferiu lançar alguém desconhecida e não apostou em seus nomes mais manjados? O que explica o paradoxo? Simples. Esta campanha, como as outras, vai ser decidida pela batalha do “recall” contra a rejeição.
Um candidato que é muito lembrado tem mais “recall” (do inglês “recordação”) e aparece à frente de candidatos desconhecidos.
Ao mesmo tempo, esse conhecimento tem um limite, uma parede – a rejeição. Daí que uma candidata inventada há poucos meses e pouco conhecida fora de seu estado é um trunfo, uma jogada de mestre.
A meta de Simone Tebet não é ser eleita presidente, mas levar a eleição para o segundo turno e aumentar o cacife do grupo do MDB que ela integra, liderado por Michel Temer.
Na prática, todo voto em Tebet ressuscita Temer como o grande cacique do MDB e ajuda Bolsonaro, que torce pelo segundo turno.
Essa não será a primeira vez em que Tebet dá uma mãozinha a Bolsonaro. Pouca gente sabe, mas a senadora Tebet votou a favor de Bolsonaro em praticamente 9 de cada dez projetos que o presidente enviou ao Congresso.
Alguém pode até dizer que, de qualquer maneira, o MDB continuará sendo peça-chave na montagem de qualquer governo em 2023. No entanto, as pessoas precisam pensar se querem um Temer nanico ou agigantado, graças ao salto plataforma emprestado pela candidatura Tebet.
Por isso, é bom avisar amigos e familiares que se encantaram com o discurso de uma candidata que hoje faz discurso feminista sem nunca ter encampado essa pauta. O histórico de Tebet com a pauta feminista é o mesmo de uma Margareth Tatcher: nenhum.
Pior: Simone Tebet votou a favor do golpe que derrubou a primeira mulher já eleita presidente neste país. Se alguém acha que Tebet apoiou a deposição de Dilma por não gostar de pedaladas, está muito enganado.
Acontece que Dilma, seguindo a orientação técnica da Funai, baixou uma portaria que deu início à demarcação e à homologação de terras indígenas onde estão as fazendas dos Tebet.
Na verdade, são as fazendas dos Tebet que estão em cima de uma área dos Guarani-Kaiowá, na Terra Indígena Amambaipeguá.
A candidata que parece uma grande novidade, ao contrário, vem de uma tradicional família política do Mato Grosso do Sul.
Simone é a herdeira do ex-prefeito, ex-deputado, ex-senador, ex-ministro e ex-governador, Ramez Tebet, seu pai. Ela é uma novidade tão grande quanto foi Roseana Sarney.
A você que pensa em votar em Simone Tebet, Michel Temer manda lembranças e agradece, com aquele sorriso de lagarto que lhe é peculiar.
* Antonio Lassance é cientista político.
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Publicação de: Viomundo