Presidente Lula, é preciso falar sobre os juros altos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reacendeu, nesta sexta-feira (20), o debate sobre as taxas de juros no Brasil. Após a aprovação do Plano Haddad no Congresso Nacional, Lula buscou acalmar o mercado financeiro, reafirmando seu compromisso com a estabilidade econômica e exaltando a autonomia do Banco Central sob o comando de Gabriel Galípolo. No entanto, a discussão sobre os juros altos, que sangram os cofres públicos e penalizam os mais pobres, não pode ser silenciada.

Os números falam mais alto que discursos conciliatórios. Nos últimos 12 meses até janeiro de 2024, o Brasil desembolsou R$ 745,9 bilhões apenas em juros da dívida pública, de acordo com dados do Banco Central. É o maior valor desde o início da série histórica, em 2002.

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Enquanto o governo tenta economizar R$ 70 bilhões com cortes sociais por meio do Plano Haddad, o montante destinado ao pagamento de juros representa mais de dez vezes essa cifra. Uma conta que não fecha e que escancara a dependência do país das amarras do sistema financeiro.

Nos últimos meses, a taxa média do estoque da Dívida Pública Federal (DPF) tem oscilado: 11,35% ao ano em julho, 11,08% em agosto, 10,80% em setembro e, novamente, alta para 11,17% em outubro. Essa volatilidade reflete a incerteza no mercado e a incapacidade de o Brasil estabelecer um horizonte econômico estável.

Cada ponto percentual a mais na taxa Selic drena bilhões dos cofres públicos, dinheiro que poderia estar destinado à saúde, educação e infraestrutura. O Brasil, que tem uma das maiores taxas de juros do mundo, permanece refém de um sistema que prioriza a especulação financeira de poucos em detrimento do bem-estar coletivo.

É importante questionar quem se beneficia dessa engrenagem. Os maiores credores da dívida pública são bancos, investidores institucionais e fundos de investimento, que lucram bilhões anualmente. Enquanto isso, políticas públicas essenciais são sacrificadas para manter o equilíbrio fiscal exigido pelo mercado — um eufemismo que esconde os interesses dos mais ricos da sociedade.

Essa dinâmica reforça a concentração de renda e aprofunda desigualdades históricas no país. Em um cenário onde os mais ricos continuam ganhando sem produzir, o desenvolvimento econômico e social do Brasil segue estagnado.

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Ao elogiar Gabriel Galípolo e garantir que não haverá interferência política no Banco Central, Lula busca construir uma ponte entre seu governo e o mercado financeiro. No entanto, o presidente enfrenta um dilema complexo: conciliar a agenda social que o elegeu com as pressões do sistema financeiro, a famigerada “Avenida Faria Lima”.

A nova “Carta ao Mercado” de Lula, ainda que necessária para evitar turbulências econômicas, não responde à questão central: até quando o Brasil continuará refém de juros abusivos? A autonomia do Banco Central, defendida pelo governo, precisa ser acompanhada de uma revisão urgente das políticas monetárias que perpetuam esse ciclo vicioso.

A questão dos juros altos não pode ser restrita aos gabinetes de Brasília ou às análises frias de economistas. É um tema que deve ser debatido nas ruas, nas escolas, nas redes sociais e nos parlamentos. A sociedade precisa entender que cada centavo pago em juros poderia ser investido em políticas públicas que realmente transformam vidas.

O país precisa de coragem política para enfrentar o sistema financeiro e estabelecer um teto para o pagamento de juros. Não é uma tarefa simples, mas é necessária. A pergunta que fica é: haverá alguém no Congresso Nacional disposto a enfrentar esse monstro de frente?

Enquanto isso, o Brasil segue pagando a conta mais cara do mundo. E, como sempre, quem sente o peso desse fardo são os que menos têm.

Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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