“Mercado” se diz “desesperado” por Lula não aumentar combustíveis
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
— O mercado está desesperado e pessimista. O governo começa perdendo credibilidade.
A frase, dita ontem à noite por um dos maiores banqueiros do Brasil, reflete o que não só o que pensa o setor financeiro (ou seja, o tal mercado tão criticado e ironizado por Lula, mas não só por ele), como também boa parte dos setores industrial e de serviços em relação a esse início de governo Lula.
Como reflexo dessa desconfiança, nos dois primeiros dias úteis do novo governo, o dólar subiu tanto na segunda-feira quanto na terça-feira, assim como a bolsa caiu dois dias consecutivos. Os juros futuros também subiram. O dólar ontem bateu R$ 5,45, o valor mais alto desde agosto de 2021.
No centro desse clima de ceticismo, está basicamente o marco inicial da gestão de Fernando Haddad na Fazenda. Ele já estreou como ministro sendo desautorizado por Lula. Haddad queria que a isenção de impostos federais para a gasolina, o diesel e o gás de cozinha terminassem no dia 31 de dezembro de 2022. Estava de olho nas contas públicas. Só que Lula não quis bancar o desgaste de um aumento no preço dos combustíveis, concordou com os argumentos da ala política do PT e editou uma MP para estender a isenção por dois meses para a gasolina e até dezembro para o diesel e o GLP. O custo disso para o Tesouro já combalido é de R$ 25 bilhões neste ano. O rombo nas contas do governo este ano está previsto em R$ 220 bilhões.
Independentemente da discussão de qual a decisão seria a mais acertada, o que três banqueiros ouvidos pelo blog concordam é que a decisão de Lula enfraquece o ministro da Fazenda e lança uma interrogação sobre o quanto a austeridade fiscal vai preponderar no governo.
O discurso de posse do novo ministro da Previdência, Carlos Lupi, ajudou a aumentar o mau humor do mercado. Falar a essa altura em mexer na Reforma da Previdência aprovada em 2019 é algo impensável para o mercado. Diz um banqueiro de investimentos:
— Nem acho que o governo conseguirá mexer na reforma. Mas o sinal é que é ruim.
Para tentar virar esse clima de derrotismo que tomou conta dos agentes da economia em geral, Haddad promete que levará ainda esta semana um “plano de voo” de curto, médio e longo prazos para Lula aprovar. Um programa que incluirá os cortes de gastos que é o centro das preocupações do mercado financeiro e de vários economistas.
Só a partir daí, é que o tempo ruim pode ganhar chances de melhora. Até esse plano de voo ser apresentado, aprovado por Lula e ser visto como razoável pelos agentes econômicos a desconfiança perdurará.
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