Esposas de Lula e Bolsonaro entram na guerra pelas mulheres
Foto: Mauro Pimental e Evaristo Sá/AFP
Na busca pelo voto das mulheres, maioria entre os eleitores, os líderes nas pesquisas Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL) e Ciro Gomes (PDT) adotam caminhos parecidos.
Na primeira semana de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, o trio replicou o que vinha testando nas redes sociais, em entrevistas e discursos, com citações e espaços para suas esposas falarem.
“No momento, há um termômetro social de inserir a mulher em instâncias em que, em geral, ela é alijada”, afirma a professora de ciência política da Universidade Presbiteriana Mackenzie Carolina Botelho.
No sábado (3), foi a vez da socióloga Rosângela da Silva, a Janja, aparecer pela primeira vez no horário eleitoral reservado à candidatura à Presidência de seu marido, Lula, na televisão. Se apresentou como esposa do candidato e disse estar ao lado dele “nessa caminhada pelo Brasil da esperança”.
“Sabemos das dificuldades que nós mulheres enfrentamos atualmente. São milhões de mulheres endividadas para poder levar alimentos para suas famílias”, diz a socióloga, filiada ao PT desde os anos 1980.
Além da esposa de Lula, outras dez mulheres apareceram na propaganda petista deste sábado na televisão, que teve locução de feminina. O candidato foi o único homem a falar nos 3 minutos e 40 segundos integralmente dedicados a propostas para elas.
“Vamos juntas com Lula garantir segurança alimentar para as famílias e oportunidades para todas as mulheres”, conclui Janja.
O protagonismo contrasta com o papel desempenhado pela então esposa do petista nas eleições em eleições anteriores. Morta em 2017, Marisa Letícia teve uma presença mais discreta nas disputas de 1989, 1994, 1998, 2002 e 2006.
Não falava em propagandas ou comícios, quando conquistar o voto feminino era um problema para o petista, lembra Luciana Panke, pesquisadora da Universidade Federal do Paraná e doutora em comunicação política.
Na véspera do primeiro turno, há 20 anos, a campanha do ex-presidente veiculou um vídeo com mulheres grávidas e uma participação do cantor Chico Buarque. Foi a estratégia usada para atingir as mulheres na eleição de 2002.
“Vivemos um momento social em que a invisibilidade feminina não é mais aceita. Elas precisam aparecer, nem que seja como esposa”, afirma Panke, que ressalta que a pauta de representatividade deixou de ser exclusiva de partidos de esquerda e centro-esquerda e aparece em candidaturas de direita.
Caso do atual presidente, que convocou a primeira-dama para a sua campanha. Michelle Bolsonaro fez discursos em comícios e apareceu vídeo de 30 segundos em que defende o governo do marido. Na peça, divulgada no YouTube e na televisão, o presidente não aparece.
O vídeo foi retirado do ar após uma decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), atendendo a um pedido da coligação de Simone Tebet (MDB). A campanha bolsonarista infringiu a legislação que determina que outra pessoa que não o candidato pode ocupar 25% do tempo da propaganda.
A exposição da primeira-dama é usada para tentar melhorar a imagem do presidente com o público feminino, um ponto fraco da campanha.
No debate do dia 28 de agosto, Bolsonaro se exaltou e atacou a jornalista Vera Magalhães após ser questionado sobre vacinação. Disse que ela “era uma vergonha para a sua profissão”, insulto que repetiu à adversária Simone Tebet (MDB).
Na pesquisa Datafolha, divulgada na quinta (1º), 35% dos homens diziam votar no candidato à reeleição em resposta espontânea. O índice caía para 24% entre as mulheres. Os números variam menos entre os eleitores de Lula: 39% dos homens declararam voto no petista, contra 41% das mulheres.
Já a rejeição de Bolsonaro é mais discrepante. São 55% das mulheres as que dizem não votar de jeito nenhum no atual presidente, índice que cai para 35% quando se fala do petista.
Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mulheres representam 52,65% do eleitorado, contra 47,33% que correspondem aos homens. Entre os que disputam um cargo, mulheres ainda são minoria: elas são 33% do total. Mas o número é um recorde, assim como o de candidatas à Presidência e à Vice-Presidência. Oito mulheres participam da corrida ao Palácio do Planalto em 2022.
Uma delas é a vice na chapa de Ciro Gomes, Alessandra Paula Matos, vice-prefeita de Salvador. Nos programas de televisão do candidato do PDT, ela apareceu numa imagem estática, com o santinho da dupla.
Quem fala no programa é a esposa de Ciro, Giselle Bezerra, que faz as vezes de apresentadora do programa do candidato do PDT.
Os movimentos adotados na campanha presidencial são replicados por candidatos nos estados. No Rio Grande do Sul, o bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL), candidato ao governo do estado, repetiu o presidente e colocou a sua esposa, Denise, para falar em uma propaganda exibida na televisão e compartilhada nas redes sociais.
Aparição mais discreta teve a esposa do aliado de Lula na Bahia, o candidato ao Senado Otto Alencar (PSD-BA), que falou durante uma propaganda em que o político apresentava a família. “O Otto sempre foi isso, aquele ser humano, aquele braço, aquela mão que está sempre estendida”, afirmou Márcia.
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