Governo pagará R$ 17 milhões de aluguel por sede da PF desnecessária
Foto: Folhapress
A Polícia Federal desocupa oficialmente nesta sexta-feira (25) o icônico “Máscara Negra”, prédio usado pela corporação por mais de 40 anos, e inaugura nova sede em Brasília.
Por muito tempo a direção do órgão avaliou alternativas para abrigar em um mesmo edifício todos os setores de direção. Optou por alugar, ao custo anual de R$ 17 milhões, três torres de um prédio de escritórios no centro da capital do país.
De acordo com a polícia, o “Máscara Negra” seguirá sob seus cuidados –ele integra a lista de bens da União. Passará por reforma e, posteriormente, será definido o que funcionará nele. O prédio não conta, por exemplo, com escada de emergência.
O edifício ganhou esse apelido em razão de sua fachada, com colunas em concreto aparente e vidros escuros, uma inovação para a época em que foi entregue. A construção era a única no centro administrativo de Brasília com esse tipo de acabamento.
Contribuiu para a mística do lugar o fato de ter sido inaugurado em julho de 1977, durante a ditadura militar. O general do Exército Ernesto Geisel ocupava o Palácio do Planalto.
No 2º andar do “Máscara Negra” funcionou a DCDP (Divisão de Censura de Diversões Públicas), encarregada de avaliar obras artísticas.
Décadas depois, em salas contíguas ao auditório que fica no subsolo, foram encontrados fragmentos de negativos com trechos de filmes barrados pelos censores. O material foi entregue ao Arquivo Nacional.
Em maio de 1994, governo de Itamar Franco, a histórica sede da PF testemunhou cenas que evocavam o período do regime militar.
Armados com metralhadoras, fuzis e bombas de gás lacrimogêneo, mais de mil soldados do Exército cercaram o prédio em represália a uma greve dos servidores.
A PF era comandada à época pelo coronel do Exército Wilson Romão. A intervenção militar foi fundamental para dar um fim à paralisação que durou mais de 60 dias.
Capítulos de alguns dos principais escândalos de corrupção da política nacional passaram pelo “Máscara Negra”, sendo em alguns períodos imagem recorrente no noticiário.
O empresário Paulo César Farias, tesoureiro de campanha de Fernando Collor, esteve na sede da PF em setembro de 1992 para prestar depoimento sobre as suspeitas de corrupção que na época derrubaram da Presidência da República o hoje senador pelo PROS de Alagoas.
Houve um forte aparato de segurança no dia da oitiva. Os veículos de comunicação fizeram ampla cobertura do acontecimento. O motorista do carro que o transportava, um Opala, tentou entrar pela garagem, mas o acesso não foi autorizado. PC foi interrogado no 4º andar por Paulo Lacerda, delegado à frente das investigações.
O ex-tesoureiro, morto anos depois em circunstâncias não totalmente esclarecidas, se recusou a responder aos questionamentos do policial e disse falaria apenas na Justiça por orientação de seu advogado, o criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira. Deixou o prédio indiciado por nove crimes, entre eles, corrupção, falsificação, exploração de prestígio e formação de quadrilha.
A apuração realizada pela PF no caso Collor é apontada como um embrião do núcleo que é hoje encarregado de investigar políticos que respondem a inquérito nos tribunais superiores.
Lacerda viria a ser escolhido posteriormente para comandar a PF no início do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O ano de 2003, primeiro da administração petista, marcou o início de uma série de operações com ampla divulgação midiática. Uma das primeiras foi a Operação Anaconda, que desbaratou um esquema de venda de sentenças judiciais.
Outro escândalo levou personagens da política ao 7º andar do “Máscara Negra”. O ex-deputado Roberto Jefferson lá esteve para depor ao delegado Luís Flávio Zampronha sobre as suspeitas de corrupção em uma das diretorias dos Correios, naco do PTB no governo Lula.
Foi também ouvido pelo policial e sua equipe o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) como o operador do Mensalão, a mesada distribuída a partidos políticos em troca de apoio no Congresso a durante a administração petista.
Na era das grandes operações, ocorria de as luzes do 5º andar ficarem ligadas durante a noite. Nem sempre tinha gente trabalhando, mas esse fato alimentou o temor de que o setor não parava.
Na DIP (Direção de Inteligência Policial) eram ouvidas e transcritas as milhares de horas de diálogos entre os suspeitos de corrupção monitorados com autorização judicial. Para executar essa tarefa, os investigadores utilizam uma ferramenta conhecida como Guardião.
Por necessidade de mais espaço para desempenhar suas atribuições, a área de inteligência acabou sendo transferida da sede e, por alguns anos, ocupou salas de um prédio de escritórios em um bairro residencial de Brasília, onde funcionam outros órgãos públicos. Com a nova sede, volta a compartilhar o mesmo espaço junto com as demais áreas de direção.
As novas instalações somam mais de 15 mil m² de área privativa, distribuídos por 39 andares. O prédio é dotado de auditório com capacidade para 300 pessoas, além de centro de convenções e academia de ginástica própria. São 810 vagas de garagem.
A PF diz que a nova sede representa economia aos cofres públicos, por reunir todas as unidades da PF em um só local, com redução de terceirizados. A administração do prédio já oferece serviços como recepção, vigilância, limpeza e conservação.
Afirma ainda que as instalações contribuirão para a rotina de trabalho, propiciando maior agilidade na realização de reuniões e integração entre os setores.
Recém-empossado como diretor-geral, Márcio Nunes afirmou que o novo endereço é um “marco” e torce para que seja uma injeção de ânimo na categoria. “Nossos recursos não podem estar defasados em relação ao crime organizado”, disse o delegado.
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