Valter Pomar: Tentando explicar o inaceitável

Tentando explicar o inaceitável

Por Valter Pomar*, em seu blog

Domingo, 21 de setembro de 2026, no Brasil inteiro haverá grandes manifestações condenando duas decisões recentes da maioria da Câmara dos Deputados: a PEC da bandidagem (oficialmente conhecida como “das prerrogativas”) e a urgência para a tramitação da anistia para golpistas (que três golpistas célebres querem denominar como “dosimetria”).

Os petistas vão participar destas manifestações, mas carregando um visível incômodo: doze parlamentares petistas votaram a favor da PEC da bandidagem e oito parlamentares petistas viabilizaram a aprovação do voto secreto.

Destaco este “detalhe”: sem o voto deste oito parlamentares petistas, não teria sido aprovado o voto secreto. E neste caso o voto secreto serve para proteger interesses escusos. Os oito são: Alfredinho (PT-SP), Dilvanda Fato (PT-PA), Jilmar Tatto (PT-SP), João Daniel (PT-SE), Kiko Celeguim (PT-SP), Odair Cunha (PT-MG), Paulo Guedes (PT-MG) e Valmir Assunção (PT-BA).

Se o Partido tivesse uma corregedoria (proposta apresentada mas derrotada quando da discussão do atual código de ética do Partido), todos doze mas particularmente estes oito deveriam dar explicações.

Aliás, grande número de petistas têm se manifestado publicamente, especialmente nas redes sociais dos doze, pedindo comissão de ética, renúncia e expulsão dos parlamentares que disseram sim à PEC da bandidagem.

Mas afinal, o que ocorreu?

Há três versões correndo o trecho, tentando explicar o inaceitável.

Uma delas menciona causas impublicáveis. Aliás, foi como vacina contra isto que Kiko Celeguim se apressou a explicar que não tem nenhum processo contra ele e por isso não tinha nenhum interesse particular na tal PEC.

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Outra versão refere-se a uma tentativa de acordo: em troca do voto dos petistas, o Centrão voltaria atrás na anistia para golpistas (e, de quebra, quem sabe, votaria na pauta do povo). Um dos que utilizou este argumento foi Jilmar Tatto, como se pode ver aqui.

Esse argumento é da ordem dos efemerópteros, pois como se viu logo depois o Centrão contribuiu para aprovar a urgência para a Anistia. A coisa foi tão constrangedora que Kiko Celeguim publicou em suas redes um mea culpa, que pode ser lida aqui.

A terceira tentativa de explicar o voto dos doze foi a de que eles teriam recebido uma “orientação”. Chega-se a insinuar que os doze é que teriam agido de forma partidária, enquanto os demais teriam se acovardado e faltado com seu dever.

Essa explicação, como é óbvio, cai como uma luva para quem deseja desgastar o Partido, assim como para os petistas que estão cansados de dar murro em ponta de faca. Mas essa explicação é, falemos com todas as letras, mentirosa.

A direção do Partido não orientou os parlamentares a votar na PEC da bandidagem.

A bancada orientou os parlamentares a votar contra a PEC da bandidagem.

O governo liberou sua base. Liberar é: votem como suas bancadas e seus partidos quiserem.

E Lula disse publicamente que se fosse parlamentar teria votado contra, que teria orientado fechar questão e que se tivesse a possibilidade, vetaria a tal PEC.

Portanto, de quem os doze teriam recebido tal “orientação” para votar a favor??

Meu palpite é o seguinte: um setor do partido e da bancada (não sei dizer se também do governo) vinha atuando a favor do tal acordo com o Centrão. Não propuseram que o Partido avalizasse, talvez por saber que perderiam a votação na executiva nacional do Partido. O máximo que conseguiram foi obstruir que a executiva nacional do PT soltasse uma resolução (aliás, a executiva nacional do Partido fez duas reuniões durante a semana, debateu duas notas e nenhuma delas foi votada e divulgada). Mas o fato de não ter uma resolução não permite a ninguém dizer que teria votado segundo a orientação do Partido.

Em seguida os defensores do tal acordo com o Centrão perderam o debate na bancada. A bancada orientou voto contrário à PEC. Mesmo assim os doze deram prosseguimento ao tal acordo. Oito fizeram ainda pior: entregaram os votos necessários para aprovar o voto secreto.

Mas, como era previsível, o Centrão votou na urgência para a anistia aos golpistas. Frente à reação ampla, geral e irrestrita contra o que fizeram, os doze tentam reduzir dano. Alguns que votaram a primeira vez, pediram desculpas e não votaram a segunda; outros votaram duas e até três vezes, depois fizeram autocrítica; e outros atribuem o voto à “orientação” recebida, quem sabe, das vozes do nevoeiro de Saramago*.

Que eles tentem se defender, previsível. Mas a versão da “orientação” vale tanto quanto as promessas do Centrão.

Ademais, convenhamos: mesmo que existisse uma “orientação”, mesmo que essa orientação tivesse sido dada por uma instância com autoridade para tal, ainda sim quem votou de forma tão inaceitável deve assumir a responsabilidade pelo que fez e não ficar terceirizando.

Último comentário: no fundo do voto dos doze, está a teoria de que é melhor um péssimo acordo do que uma boa disputa. Este teoria produziu muitos efeitos deletérios. Um deles não pode passar desapercebido: a taxa de juros e seus efeitos sobre a economia. Ou enfrentamos isso ou a coisa vai se complicar rapidamente.

*Para quem não lembra, está aqui: Parece-me claro e óbvio que não tens culpa, e, quanto ao temor de que te atirem com as responsabilidades, responderás que o Diabo, sendo mentira, nunca poderia criar a verdade que Deus é, Mas então, perguntou Pastor, QUEM VAI CRIAR O DEUS INIMIGO. JESUS NÃO SABIA RESPONDER, Deus, se calado estava, calado ficou, porém do nevoeiro desceu uma voz que disse,Talvez este Deus e o que há-de vir não sejam mais do que heterónimos, De quem, de quê, perguntou, curiosa, outra voz, De Pessoa, foi o que se percebeu, mas também podia ter sido, Da Pessoa. JESUS, DEUS E O DIABO começaram por fazer de conta que não tinham ouvido, mas logo a seguir entreolharam-se com susto, o medo comum é assim, une facilmente as diferenças. E o trecho inteiro pode ser lido aqui:

O Evangelho segundo Jesus Cristo.

*Valter Pomar é professor da UFABC (Universidade Federal do ABC).

Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Publicação de: Viomundo

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