Selic pode ser mantida em 15% e Fed resiste a Trump
Copom pode manter Selic em 15% e Fed desafia Trump ao manter juros nos EUA
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central está reunido nesta quarta-feira (30) com forte expectativa de interromper o ciclo de alta e manter a taxa Selic em 15% ao ano. A decisão será anunciada após as 18h e deve marcar o início de uma nova fase: juros estáveis por tempo prolongado.
A expectativa do mercado é quase unânime. Após sete aumentos consecutivos desde setembro do ano passado, o BC sinalizou que o aperto monetário chegou ao limite. Mas o comunicado pós-reunião, que detalha os rumos da política monetária, será determinante para entender se o ciclo foi apenas pausado ou efetivamente encerrado.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o Federal Reserve decidiu manter os juros no patamar de 4,25% a 4,5% pela quinta vez seguida, resistindo à pressão política do presidente Donald Trump, que exige cortes drásticos. A decisão expôs fissuras internas no banco central americano e reacendeu o debate sobre a independência das autoridades monetárias.
Brasil: juros altos seguem até 2026 e BC aponta desaceleração da economia
A manutenção da Selic, se confirmada, consolida o patamar mais alto em quase 20 anos. O Banco Central argumenta que os núcleos da inflação seguem pressionados e que o hiato do produto, diferença entre o PIB real e o potencial, ainda está positivo, o que justifica juros elevados para desacelerar a economia.
Segundo projeções do mercado, os juros devem permanecer nesse nível até o fim de 2025, com eventuais cortes apenas em 2026. A inflação projetada para este ano é de 5,09%, acima do teto da meta contínua (4,5%).
O impacto já é sentido: os juros bancários médios atingiram 45,4% em junho, o maior patamar desde 2017. O crédito mais caro compromete o consumo, os investimentos produtivos e a geração de empregos, além de pressionar a dívida pública, que gastou R$ 946 bilhões com juros em 12 meses.
Fed mantém juros nos EUA e enfrenta disputa direta com Trump
Nos EUA, o Federal Reserve manteve os juros no atual nível, apesar da crescente pressão do presidente Trump, que exige cortes imediatos de até três pontos percentuais. O republicano tem atacado publicamente o presidente do Fed, Jerome Powell, chegando a visitar pessoalmente a sede em reforma da instituição para confrontá-lo.
A decisão do Fed expôs uma divisão interna inédita desde 1993: dois diretores, ambos indicados por Trump, votaram contra a manutenção e defenderam corte de 0,25 ponto percentual, por acreditarem que o mercado de trabalho já dá sinais de enfraquecimento.
Enquanto isso, outros dirigentes mantêm cautela, temendo que a inflação volte a acelerar com os novos tarifaços de Trump contra China, Vietnã e Japão. A guerra comercial promovida pelos EUA já pressiona o custo de insumos e pode resultar em nova onda de aumentos de preços nos próximos meses.
Selic e Fed: dois bancos centrais, dilemas semelhantes
As decisões de Brasília e Washington refletem cenários distintos, mas desafios comuns. Ambos enfrentam inflação acima da meta, desaceleração do crescimento e pressão política explícita.
No Brasil, o presidente Lula evita críticas diretas ao Banco Central, mas o governo monitora com atenção os impactos sociais da Selic em 15%. Já nos EUA, Trump tornou o Fed um alvo constante e sinaliza que pretende intervir diretamente na condução da política monetária durante seu governo.
O pano de fundo é geopolítico: juros altos em economias centrais tendem a atrair capital externo, pressionando moedas de países emergentes como o Brasil. Ao mesmo tempo, tarifas protecionistas aumentam os custos globais e podem agravar a inflação importada.
Juros é projeto dos oligarcas
A manutenção das taxas de juros, no Brasil e nos Estados Unidos, não é mero tecnicismo: é uma escolha de poder, e de classe. No caso brasileiro, a Selic em 15% representa a institucionalização da sabotagem ao crescimento, à geração de empregos e à reconstrução nacional. É a vitória do rentismo sobre a produção.
O Copom, rendido a um modelo que transfere renda para os bancos e penaliza os mais pobres, age como fiador de um regime monetário que sufoca a economia real em nome de metas abstratas, sempre ajustadas para cima quando convém ao mercado.
Nos Estados Unidos, a disputa é escancarada: o Fed virou alvo direto de Donald Trump, que tenta transformar os juros em motor de mobilização de sua base extremista. Mas, mesmo ali, a autoridade monetária resiste, não por compromisso com o povo, mas para não perder sua aura de independência.
A verdade incômoda é que os juros altos, aqui e lá, não combatem inflação, alimentam desigualdade. Travam o crédito, sabotam a indústria, e transferem recursos públicos para rentistas. E quem paga a conta é sempre o povo trabalhador.
O Blog do Esmael reafirma: juro não é número, é projeto. E o Brasil precisa de um projeto que priorize gente, não planilhas.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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Publicação de: Blog do Esmael