Renúncia de primeiro-ministro amplia isolamento de Macron
Sébastien Lecornu renunciou ao cargo de primeiro-ministro francês na manhã desta segunda-feira (6.out.2025), menos de 24 horas depois de apresentar seu gabinete. O presidente Emmanuel Macron aceitou a demissão, mergulhando o Palácio do Eliseu em mais uma crise política sem precedentes.
A queda relâmpago foi precipitada pela revolta dentro do partido “Os Republicanos” e pelas críticas de aliados macronistas. O retorno do ex-ministro Bruno Le Maire, agora nas Forças Armadas, evidenciou a falta de ruptura prometida por Lecornu. O líder de “Os Republicanos”, Bruno Retailleau, foi o primeiro a publicar nas redes que “a composição do governo não reflete a mudança anunciada”.
Do outro lado do espectro, Jean-Luc Mélenchon (A França Insubmissa) e Olivier Faure (Partido Socialista) anunciaram moções de censura contra Macron. Já o líder da extrema direita, Jordan Bardella (Reunião Nacional), exigiu a dissolução imediata da Assembleia Nacional. “Ou Macron renuncia ou devolve a palavra ao povo”, disse.
Lecornu, de 38 anos, havia assumido o cargo em 9 de setembro, substituindo François Bayrou após nova rejeição do Parlamento. Seu compromisso de não usar o artigo 49.3, que permite aprovar leis sem votação, limitou ainda mais sua margem de manobra num Congresso fragmentado.
Analistas ouvidos pela imprensa francesa avaliam que a renúncia de Lecornu confirma o esgotamento da “fórmula Macron”. A França teve três primeiros-ministros em menos de um ano e vê o mercado financeiro reagir com queda do CAC 40 e alta dos títulos da dívida pública. A Bourse de Paris chegou a cair 2 %, puxada pelos bancos.
Macron deverá anunciar nas próximas horas um novo nome para Matignon ou chamar eleições antecipadas. Sem apoio majoritário, o presidente fica cada vez mais isolado entre as pressões da direita tradicional e da extrema direita, num cenário de instabilidade que fragiliza a Quinta República.
A crise francesa reflete um fenômeno global: a erosão da governabilidade num tempo em que os parlamentos se fragmentam e as instituições envelhecem sem renovar seus pactos sociais. A França volta a ensinar, com seus abismos políticos, que governar é preciso, mas ouvir é urgente.

Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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Publicação de: Blog do Esmael