O bicho está pegando na Coreia do Sul; acompanhe ao vivo
O presidente do país asiático decretou Lei Marcial, mas o parlamento suspendeu a medida, o que aumenta a crise e a possibilidade de impeachment
O clima na Coreia do Sul é de tensão máxima. Nesta terça-feira (3), o parlamento sul-coreano tomou uma decisão histórica ao suspender o decreto de lei marcial imposto pelo presidente Yoon Suk Yeol. Com 190 dos 300 parlamentares presentes, a votação foi unânime, refletindo a insatisfação generalizada com a medida extrema adotada pelo chefe de Estado.
Nas ruas de Seul, milhares de manifestantes se reuniram em frente ao complexo da Assembleia Nacional. O povo, munido de cartazes e entoando cânticos, clamava pela democracia e pelo fim da repressão. “Não estamos aqui para lutar contra você, estamos aqui para lutar contra Yoon”, gritavam, dirigindo-se aos policiais que bloqueavam a entrada principal do parlamento.
A declaração de lei marcial pelo presidente Yoon pegou a nação de surpresa. Justificada por ele como uma medida necessária para “erradicar forças pró-Coreia do Norte” e combater o que chamou de “ditadura legislativa” da oposição, a decisão foi vista por muitos como um ataque direto à democracia e aos direitos civis.
O presidente da Assembleia Nacional, Woo Won-sik, foi enfático ao declarar a invalidez da lei marcial após a votação. “O presidente deve suspender imediatamente a lei marcial de emergência”, afirmou. “Agora, a declaração é inválida. O povo deve ficar tranquilo, a Assembleia Nacional defenderá a democracia com o povo.”
A comunidade internacional também se manifestou. O governo dos Estados Unidos, por meio do vice-secretário de Estado Kurt Campbell, expressou “grave preocupação” com os acontecimentos e ressaltou a expectativa de que as disputas políticas sejam resolvidas pacificamente. O Reino Unido e a China emitiram alertas aos seus cidadãos na Coreia do Sul, recomendando cautela e monitoramento da situação.
A economia sentiu o impacto imediato. O won sul-coreano caiu significativamente em relação ao dólar, e o ministro das Finanças convocou uma reunião de emergência para avaliar medidas de estabilização.
Mas o que levou a Coreia do Sul a este ponto crítico?
O pano de fundo dessa crise é a intensa disputa política entre o Partido do Poder Popular, de Yoon Suk Yeol, e o principal partido de oposição, o Partido Democrata. O embate sobre o orçamento do próximo ano exacerbou as tensões. A oposição aprovou um plano de orçamento reduzido, cortando fundos que o presidente considerava essenciais. Yoon acusou os parlamentares de sabotagem e de querer transformar o país em um “estado de caos na segurança pública”.
Ao declarar a lei marcial, Yoon afirmou ser “inevitável para garantir a continuidade de uma Coreia do Sul liberal”. No entanto, para muitos, essa medida soou como um retrocesso autoritário, lembrando períodos sombrios da história sul-coreana.
A Constituição sul-coreana permite ao presidente declarar lei marcial em situações de ameaça militar ou para manter a ordem pública. Contudo, também estabelece que o parlamento tem o poder de revogar tal decreto, como ocorreu hoje.
A resposta unânime dos parlamentares demonstra a força das instituições democráticas do país. Mesmo diante da presença de tropas militares no edifício do parlamento, a Assembleia Nacional cumpriu seu papel constitucional, mostrando ao mundo que a democracia sul-coreana não se dobrará facilmente a medidas autoritárias.
Os próximos dias serão decisivos. A retirada das tropas da lei marcial do prédio do parlamento já começou, mas o impasse político permanece. O presidente Yoon enfrenta agora a pressão não apenas dos parlamentares, mas também de um povo que saiu às ruas para defender a democracia.
É um momento delicado para a Coreia do Sul, uma nação que conquistou sua democracia com muita luta e que agora se vê diante do desafio de preservá-la. A esperança é que o diálogo e o respeito às instituições prevaleçam, evitando que o país mergulhe em uma crise ainda mais profunda.
Nós, que acompanhamos de longe, torcemos para que a paz e a democracia sejam restabelecidas na Coreia do Sul, servindo de exemplo para o mundo de que a vontade do povo é soberana e deve ser respeitada.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
Publicação de: Blog do Esmael