Moro assina impeachment de Moraes por prisão de Bolsonaro, mas 61% rejeitam anistia aos golpistas
O senador Sergio Moro (União Brasil-PR), ex-juiz da Lava Jato e pré-candidato ao governo do Paraná, assinou nesta quarta-feira (6) o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A adesão de Moro à ofensiva bolsonarista ocorre em resposta direta à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), decretada por Moraes por violação de medidas cautelares no inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023.
A inclusão do nome de Moro na lista dos 40 senadores que apoiam a abertura do processo foi divulgada em peça publicitária pelo líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ). A campanha visa pressionar o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), a colocar em pauta a denúncia contra Moraes, o que, até o momento, segue improvável.
Segundo o regimento do Senado, são necessários 41 votos para a admissibilidade do processo. Para que o ministro do STF seja de fato afastado, seriam exigidos 54 votos, dois terços da Casa. A campanha bolsonarista afirma que falta apenas um voto para atingir o quórum mínimo de admissibilidade.
Moro, o lavajatismo e o flerte com o bolsonarismo radical
O gesto de Moro aprofunda sua aliança com a extrema direita e o núcleo duro bolsonarista. Em 2022, o senador já havia sido eleito com apoio do antipetismo, mas ainda tentava manter uma postura de independência frente ao bolsonarismo. Em 2025, esse véu caiu.
A assinatura do pedido de impeachment de Moraes ocorre dias após o ministro determinar a prisão domiciliar de Bolsonaro, medida que acirrou os ânimos no Congresso. Parlamentares do PL passaram a obstruir as sessões da Câmara e do Senado e colocaram como condição para retomar os trabalhos a votação da anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro, o que inclui o próprio ex-presidente.
Moro, que tenta se reposicionar como nome viável para o governo do Paraná em 2026, aposta no desgaste do STF junto ao seu eleitorado mais conservador. No entanto, a estratégia pode se revelar um tiro no pé.
Datafolha: brasileiros rejeitam anistia a Bolsonaro
De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada em julho, 61% dos brasileiros não votariam em candidato que prometesse anistiar Jair Bolsonaro e demais acusados de tentativa de golpe e atos de 8 de janeiro. A maioria da população apoia as ações do STF e considera que os envolvidos nos ataques devem ser punidos com rigor. Apenas 35% defendem algum tipo de anistia.
A desaprovação da anistia é majoritária em todas as regiões do país, entre todas as faixas de renda, idade e escolaridade. A rejeição também é alta mesmo entre os eleitores que se declaram de direita.
Isso coloca Moro numa encruzilhada: ao aderir à linha dura bolsonarista, o senador reforça sua base ideológica, mas se distancia do centro político, justamente o campo onde se decide uma eleição majoritária no Paraná.
A ofensiva contra o STF pode ter efeitos colaterais para o próprio Moro, que ainda responde a processos na Suprema Corte. Ao adotar uma postura de confronto direto, o senador pode acirrar a atenção sobre seus casos, e acelerar desfechos que estavam em compasso de espera.
Senado sob pressão, mas Alcolumbre segue no controle
Mesmo com a pressão do PL e aliados, o avanço do impeachment de Moraes continua dependendo de uma decisão política do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Até agora, ele tem evitado pautar qualquer processo contra ministros do STF, argumentando que a Casa não deve ceder a movimentos de retaliação.
Nos bastidores, líderes de partidos do chamado Centrão já sinalizaram desconforto com a ofensiva contra Moraes, temendo abrir um precedente perigoso. Ainda que haja uma maioria simples inclinada ao embate com o Supremo, falta coesão para levar o processo até o fim, principalmente porque parte dos senadores depende diretamente de decisões do STF.
O Blog do Esmael apurou, com fontes do Congresso, que Davi Alcolumbre teria se sentido traído por Sergio Moro. Isso porque, segundo relatos, o senador do Amapá atuou intensamente nos bastidores para evitar a cassação do ex-juiz no TSE, em 2024, quando o mandato de Moro esteve por um fio.
Moro no bico do corvo
Ao assinar o pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes, Sergio Moro assume de vez o figurino bolsonarista, abandona qualquer pretensão de moderação e aposta na radicalização como trampolim eleitoral. Mas os dados do Datafolha indicam que o país rejeita aventuras golpistas, e quer justiça, não revanche. O gesto pode agradar os fiéis do ex-presidente, mas também pode selar a decadência política do ex-juiz no Paraná. O tempo dirá se Moro será lembrado como justiceiro ou como cúmplice do caos.

Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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Publicação de: Blog do Esmael