Mirko Casale: Guerra contra as drogas (de uma ‘narcodemocracia’) VÍDEO

Por Mirko Casale*, tradução Jair de Souza** 

Leia a tradução da íntegra do vídeo de Mirko Casale 

“Pobres estadunidenses, vocês viram como os latino-americanos os obrigam a usar drogas?

Eles estão ali, tão tranquilos, em sua sociedade idílica, sem nenhum tipo de problema social ou vazio existencial que os empurrem a cair na adição a drogas. Quando de repente, do sul do continente, chegam com todas as más intenções para impor-lhes todo tipo de vícios debaixo do nariz.

Desculpem pelo duplo sentido, totalmente involuntário.

E, claro, o governo estadunidense tem de tomar medidas de todos os tipos. Ou seja, de todo tipo, exceto medidas que impliquem admitir que os Estados Unidos têm um grave problema de adição a drogas e devem tomar medidas internas urgentes, senão que concluindo que a culpa é de outros países.

Desde a época de Nixon, em Washington, souberam analisar o problema com muita responsabilidade, e declararam guerra às drogas. Sim, sempre fora dos Estados Unidos. E a coisa funcionou muito bem. Para as drogas, é claro!

Mas, bem, vamos tentar ver o copo meio cheio. De qualquer substância que seja.

Em cada país em que Washington interveio desde então, alegando que acabaria com o tráfico de drogas, os grupos criminosos se fortaleceram e a nação intervencionada entrou em uma onda de violência e instabilidade sem fim.

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Sim, mas vocês já sabem, o que importa é a intenção. E se há alguém cheio de boas intenções neste universo, além do senhor do inferno, é Donald Trump, que determinou que o culpado de que milhões de estadunidenses fumem, cheirem e injetem tudo o que apareça em seu caminho é a Venezuela.

É por isso que a Casa Branca traçou uma estratégia infalível para surpreender o inimigo, confundindo-o.

Se quase todas as drogas trazidas para os Estados Unidos entram por terra, eles fixam seu objetivo no mar. Se a maioria das drogas que transitam por água ocorre pelo Oceano Pacífico, eles militarizam o Mar do Caribe. Se três países da região concentram a produção mundial de cocaína, eles miram em uma nação que não produz uma única grama. Se as rotas de trânsito de sul ao norte passam por dois países aliados de Washington, eles não exigem nada deles e se concentram, por pura casualidade, em uma nação que consideram incômoda.

Um plano sem falhas, coroado por sua arma secreta: mobilizar todo o Comando Sul para bombardear lanchinhas em águas caribenhas. É claro que esse plano sem falhas custa milhões de dólares por dia. É uma forma de execução sumária que viola todo o direito internacional, afeta a paz de toda a região e, além disto, dado o volume de drogas consumidas nos Estados Unidos, por mais lanchinhas que venham a afundar, eles não vão solucionar, nem parcialmente, um problema que se arrasta por mais de meio século.

Bem, pode ser que a guerra às drogas não esteja cumprindo parte de seu propósito, a parte contra as drogas, para ser exato, mas funciona de forma ideal para a outra metade, a da guerra. A qual é quase um 50% a 50% na eficiência. Nada mal, vindo de um país tão acostumado a ver o cisco no olho dos outros, mas não a seringa enfiada no próprio braço.

Então, vamos ter um pouco de compreensão, caramba! Não é fácil combater o narcoterrorismo global quando se é a maior narcodemocracia do planeta.”

*Mirko Casale é roteirista, apresentador e diretor do programa Ahí les va! (Aí, está!), que há cinco anos a RT transmite para países de língua espanhola.

**Jair de Souza, tradução e legendas para o português.

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