Milei flagrado com a boca na botija na Argentina

Presidente argentino resiste em meio ao escândalo ANDIS e enfrenta crise política

O escândalo ANDIS atinge em cheio o presidente da Argentina, Javier Milei (La Libertad Avanza), e mina sua principal bandeira eleitoral: o discurso anticorrupção. Áudios comprometedores, operações da Justiça e denúncias envolvendo sua irmã Karina Milei e figuras-chave do governo escancaram rachaduras internas no libertarismo argentino a poucas semanas de eleições legislativas decisivas.

O sincericídio presidencial

Em vez de esclarecer as acusações, Milei optou pelo deboche. Diante da imprensa, disparou a frase: “Están molestos porque les estamos afanando los choreos” (“Eles estão incomodados porque estamos roubando os roubos deles”). O “sincericídio” caiu como gasolina no incêndio político. Analistas lembram que a provocação pode mobilizar sua base mais fiel, mas amplia o desgaste junto a setores médios e indecisos, vitais para a disputa eleitoral.

Áudios explosivos e investigações

No centro da crise está Diego Spagnuolo, advogado pessoal de Milei e ex-diretor da Agência Nacional de Discapacidad (ANDIS). Em gravações vazadas, ele descreve um esquema de cobrança de propinas em contratos de medicamentos com a Drogaria Suizo Argentina, empresa que também fornece ao Ministério da Defesa. Spagnuolo chega a citar repasses mensais de até US$ 800 mil, cerca de R$ 4,3 milhões, e a suposta participação de Karina Milei, secretária-geral da Presidência e figura mais próxima do presidente.

As investigações avançaram rápido: a Justiça argentina bloqueou contas bancárias, apreendeu celulares e documentos, além de realizar buscas em escritórios e residências. Spagnuolo foi afastado do cargo e passou a ser investigado por enriquecimento ilícito e associação ilícita.

Rachaduras no governo libertário

O chefe de Gabinete, Guillermo Francos, foi obrigado a recuar após sugerir que a vice-presidente Victoria Villarruel teria apresentado Spagnuolo ao entorno de Milei, declaração desmentida de imediato para evitar uma crise institucional dentro do próprio governo.

Outro personagem central é Eduardo “Lule” Menem, assessor de Karina e sobrinho do ex-presidente Carlos Menem. Militantes libertários de Misiones denunciaram que ele negociava cargos e candidaturas em troca de silêncio sobre as denúncias. Uma frase atribuída a Lule, “cobrar propina é normal, não é delito porque todos fazem”, viralizou como prova do cinismo interno do partido.

Silêncio estratégico e espetáculo

Enquanto a Justiça avança, Milei escolheu o silêncio sobre o caso. Em evento promovido pela Corporação América, ao lado da irmã Karina, preferiu atacar a “casta política” e exaltar o setor privado, sem mencionar uma palavra sobre os áudios e operações policiais. O contraste entre o espetáculo populista e a omissão diante das denúncias reforça a percepção de que o presidente tenta se blindar pelo ruído retórico.

Impacto eleitoral e jurídico

O escândalo eclode em um momento delicado: faltam duas semanas para as eleições legislativas em Buenos Aires e dois meses para o pleito nacional, que renovará 127 cadeiras da Câmara e 24 do Senado. Pesquisas internas, segundo a imprensa argentina, mostram que o caso começa a corroer a popularidade do governo em áreas urbanas e entre a classe média, setores decisivos para qualquer maioria.

Do ponto de vista jurídico, se confirmadas as ligações diretas de Karina e de Lule Menem, Milei enfrentará não apenas desgaste político, mas um risco real de investigação por responsabilidade presidencial e eventual pedido de impeachment no Congresso.

Corrupção de deboche de Milei

O governo Milei apostou num discurso radical de “motosserra contra a casta”, mas a realidade o encurrala. O caso ANDIS mostra que a corrupção não se combate apenas com frases de efeito. Exige transparência, fiscalização e respeito ao Estado de Direito. Se Milei continuar no caminho do deboche e do silêncio cúmplice, corre o risco de se tornar refém dos mesmos vícios que jurou combater.

A Argentina, mergulhada em crise econômica e institucional, não suporta mais aventuras. O escândalo pode definir não só o futuro eleitoral de Milei, mas também a sobrevivência do projeto libertário no Cone Sul. Leia no Blog do Esmael.

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Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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