Marco da redemocratização, posse de José Sarney completa 40 anos

A transição política que marcou o fim da ditadura militar no Brasil

Sarney assume interinamente, mas se torna o primeiro presidente civil após 21 anos de regime militar

Em 15 de março de 1985, há 40 anos, o Brasil vivia um dos momentos mais tensos de sua história política recente. José Sarney, então vice-presidente eleito, assumiu interinamente o comando do país devido à internação de Tancredo Neves, que havia sido eleito presidente pelo colégio eleitoral. O que era para ser uma substituição temporária se tornou uma presidência definitiva, consolidando a transição da ditadura militar para a Nova República.

A tensão nos bastidores: Sarney ou Ulysses?

Nova República começa com o fim da ditadura militar. Foto: Senado

A ausência de Tancredo Neves no dia da posse provocou incertezas e negociações nos bastidores do poder. Enquanto setores militares relutavam em entregar o governo ao vice-presidente eleito, Ulysses Guimarães, presidente da Câmara, também era cotado para assumir temporariamente. A solução política veio na madrugada do dia 15, quando lideranças partidárias e militares definiram que Sarney assumiria, garantindo a continuidade da transição.

O temor era real: setores mais conservadores do Exército ainda viam com desconfiança o fim do regime militar, e a instabilidade no comando do país poderia colocar a democracia em risco. No fim, Sarney tomou posse no Congresso Nacional como vice-presidente e, logo depois, passou a despachar do Palácio do Planalto na condição de presidente em exercício.

Fim da ditadura e as dificuldades do novo governo

Presidente Sarney (1985-1990), idealizou o Plano Cruzado. Foto: reprodução

A posse de Sarney simbolizou o encerramento de um ciclo de 21 anos de governos militares. Foi também o início de uma nova era política, marcada pela expectativa de avanços democráticos e também por problemas gigantescos, como a inflação estratosférica e a necessidade de reconstruir as instituições políticas.

O governo Sarney (1985-1990) ficou marcado por medidas polêmicas, como o Plano Cruzado, que buscava conter a inflação galopante, e pela promulgação da Constituição de 1988, considerada um dos principais avanços democráticos do país. A nova Carta Magna garantiu direitos fundamentais e instituiu o Sistema Único de Saúde (SUS), entre outras conquistas.

Sarney: um presidente marcado para ser deposto?

Quatro décadas depois, Sarney revela que se via como “um presidente marcado para ser deposto”. Em entrevistas recentes, ele relembra as dificuldades que enfrentou para consolidar a transição democrática e evitar que setores mais radicais das Forças Armadas colocassem tudo a perder. Segundo o ex-presidente, houve momentos de grande tensão, mas a negociação política e a habilidade conciliadora de sua gestão garantiram a estabilidade necessária.

Hoje, aos 94 anos, Sarney prepara um livro de reflexões sobre a política brasileira, intitulado “Brasil em seu Labirinto”. Ele segue atento aos rumos do país e defende a necessidade de uma reforma no sistema eleitoral, considerando o modelo atual “um desastre” para o aprofundamento da democracia.

Legado da redemocratização: ainda há o que celebrar?

Presidente Lula e Sarney (24/06/2024). Foto: Ricardo Stuckert
Presidente Lula e Sarney (24/06/2024). Foto: Ricardo Stuckert

Quarenta anos depois, o Brasil ainda enfrenta gargalos democráticos. Se por um lado a transição pôs fim ao regime militar e garantiu direitos fundamentais, por outro, crises institucionais, polarização e ataques à democracia continuam ameaçando o legado da Nova República.

A história mostra que a democracia nunca é um processo acabado. E a lembrança da posse de Sarney nos faz refletir: estamos realmente consolidando os avanços conquistados desde então ou corremos o risco de retroceder?

Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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