Marcelo Zero: Democracia externa e interna estão sob ataque. Hora de quem defende realmente o Brasil mostrar a diferença

Democracia Externa e Interna Estão sob Ataque. Hora de Voltar a Congregar as Forças Democráticas.

Por Marcelo Zero*

Democracia externa? Que diabos seria isso, indagariam os leitores, as vítimas inocentes dos textos que me atrevo, impunemente, a cometer?

Explico, ou tento explicar, sem a ousadia de solicitar a concordância.

Entendo por “democracia externa” o que comumente se chama de “multilateralismo”.

Essa ideia bastante ingênua (reconheço), porém necessária (creio), de que a ordem internacional teria de ter como base a igualdade jurídica entre os Estados.

Enfim, uma mania de gente que, como eu, leu Kant com entusiasmo adolescente e que concorda com afirmação de Max Horkheimer de que o objetivo de uma sociedade racional (substancialmente racional, agrego) está presente em cada indivíduo.

Se vivesse na Montanha Mágica de Thomas Mann, outro autor preferido, me inclinaria por Settembrini, mesmo reconhecendo que a realidade quase sempre dá razão ao niilismo de Leo Naphta.

De qualquer forma, salvo pela passagem de um aleatório e trágico meteoro, este dinossauro, analógico e marxiano, teima em acreditar em um futuro melhor para humanidade e para o Brasil.

Mas, antes que o meteoro chegue, precisamos salvar a humanidade de Trump, esse cometa político de mau agouro que vem nos assolando a cada oito anos, com sua órbita excêntrica e perversa.

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A coisa não está fácil.

Além de já ter retirado os EUA da OMS e do Conselho de Direitos Humanos da ONU, ontem Trump retirou, de novo, seu país da Unesco, por motivos ideológicos turvos.

Trump, adicione-se, já tinha dado um tiro de morte na agonizante OMC, ao paralisar, propositalmente, seu Órgão de Apelação do sistema de solução controvérsias comerciais.

Além disso, seu antiglobalismo raso já o fez extinguir praticamente toda a ajuda internacional que os EUA enviavam para países mais pobres. No campo militar, Trump passou a batata quente da Otan para os países europeus.

Só falta sair formalmente da ONU, instituição que despreza e odeia.

Enquanto isso não acontece, Trump se dedica, com o afinco e a cegueira de um cupim, a destruir todas as instituições, acordos e normas internacionais.

Em especial, se dedica a impor tarifaços a esmo, com a desfaçatez de um punguista de meretrício e a falta de razão de um bêbado de cemitério.

No campo interno, Trump se empenha, com fervor neopentecostal, a destruir a democracia estadunidense.

Ataca, com fúria de cão hidrófobo, suando a peruca laranja, universidades com pensamento crítico, escritórios de advocacia, mídias e jornalistas independentes, funcionários públicos, ambientalistas, cientistas e todos aqueles que manifestam discordância do sério candidato a ditador dos EUA e imperador do Mundo. Até mesmo apresentadores de talk shows noturnos, como Stephen Colbert, entraram na dança autoritária e desengonçada.

No já famoso artigo publicado na Foreign Affairs, intitulado The Path to American Authoritarianism, Steven Levitsky e Lucan A. Way, previram que:

“a democracia dos EUA provavelmente entrará em colapso durante o segundo governo Trump, no sentido de que deixará de atender aos padrões para a democracia liberal: sufrágio adulto completo, eleições livres e justas e ampla proteção das liberdades civis”.

Os autores ressalvavam, no entanto, que

“o colapso da democracia nos Estados Unidos não dará origem a uma ditadura clássica em que as eleições são uma farsa e a oposição é presa, exilada ou morta. Mesmo no pior cenário, Trump não será capaz de reescrever a Constituição ou anular a ordem constitucional. Ele será limitado por juízes independentes, federalismo, militares profissionalizados do país e fortes barreiras à reforma constitucional. Haverá eleições em 2028, e os republicanos podem perdê-las”.

Erraram. Os EUA caminham, com Trump, para ser uma ditadura muito próxima de uma ditadura tradicional, com apenas tintes de normalidade constitucional, pois Donald e o Maga, tal como fizeram no 6 de janeiro de 2022, não aceitarão passivamente a alternância de poder. Vão tentar repetir o 6 de janeiro, dessa vez como tragédia; não como farsa.

O Brasil, por seu turno, caminha na mesma direção do golpismo do 8 de janeiro. As forças simiescas do Bolsonarismo e dos seus aliados pretendem, com a ajuda insubstituível do seu idolatrado “Imperador”, uma clara dissidência do Homo sapiens, inviabilizar o governo e a reeleição de Lula, em 2026, por quaisquer meios.

As absurdas tarifas de 50%, impostas ao Brasil como punição pelos processos contra Bolsonaro, que provocaram indignação até mesmo no fleumático Paul Krugman, são uma demonstração do que vem por aí. Artilharia pesada contra a democracia brasileira e a soberania nacional, na forma de sanções políticas, geopolíticas, comerciais e econômicas.

Como já deixou claro Pete Hegseth, o apresentador da FOX News que, entre um e outro assalto sexual, virou Ministro da Defesa (não seria do Ataque?), “os EUA precisam reconquistar o seu quintal”. E o Brasil soberano de Lula é obstáculo.

Mesmo com a inelegibilidade e a eventual prisão de Bolsonaro, brasileiro de araque e húngaro honorário, candidaturas como a dos governadores Tarcísio ou Zema representariam o perigo da volta do neofascismo ao Brasil. Com o apoio do amigo de Epstein, o famoso pedófilo, sabe-se lá o que poderia ocorrer com o Brasil.

Ou melhor, sabe-se, e não é nada bom.

Trump já foi condenado por abuso sexual e, no nosso país, há gente disposta a ser abusada, vestindo o boné do Maga ou ostentando uma bandeira do Donald, o agressor do Brasil. Aquele, cujo verdadeiro lema é Make Brazil Small Again!

Trump só será contido, no plano externo, com uma ampla aliança de países democráticos e independentes e, no plano interno, com uma aliança entre Democratas, Independentes e Republicanos moderados (sim, ainda restam alguns).

No Brasil, a democracia e a soberania só sobreviverão se as forças realmente comprometidas com o país e seu povo se unirem, como aconteceu em 2022.

Chegou a hora de mostrar a diferença entre quem veste a camisa da CBF e quem realmente defende o Brasil.

A distinção é profunda e fará uma diferença enorme. Teremos ou não futuro?

Este dinossauro, que se esquiva há muito de meteoros e cometas, insiste em afirmar que sim.

*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais

*Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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