Marcelo Zero: Atraso absurdo na construção de ponte na fronteira entre Brasil e Uruguai nunca poderia ter acontecido
Da Redação
Em discurso em Montevidéu nessa quarta-feira, 25/01, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se comprometeu a construir uma ponte sobre o Rio Jaguarão, na fronteira entre o Uruguai e Brasil.
Durante sua fala, Lula confessou achar que a ponte já estivesse concluída:
“Eu tô até envergonhado porque penso que assinei alguma coisa com Mujica [ex-presidente], e pensei que essa ponte já estava pronta e hoje soube que nem começou”.
“Às vezes a gente se reúne, decide e, quando pensa que vai inaugurar, recebe a notícia de que a obra nem começou. Quero assumir esse compromisso com o povo do Uruguai, vamos fazer essa ponte, porque interessa ao Brasil e ao Uruguai”.
“Os governos golpistas nunca deram bola para a integração regional e, ainda, criminalizaram obras no exterior. O governo Bolsonaro abandonou totalmente o Mercosul e retirou o Brasil da Unasul e da Celac, principais instâncias da integração regional” explica ao Viomundo o sociólogo Marcelo Zero, especialista em Relações Internacionais.
“Um dos resultados dessa visão nefasta e retrógrada é o atraso inacreditável na construção da segunda ponte sobre o Rio Jaguarão, na fronteira entre Brasil e Uruguai”, exemplifica.
”É algo que nunca poderia ter acontecido”, observa o especialista em Relações Internacionais,.
Marcelo Zero prossegue:
“O acordo entre o Brasil e o Uruguai foi firmado em 2007, percorreu o longo caminho legislativo e a sua promulgação ocorreu em 2013.
Até agora, no entanto, a ponte não saiu do papel. A ponte antiga, a Barão de Mauá, de 92 anos, não comporta trânsito pesado, e precisa de reforma.
Esse e outros atrasos em obras bilaterais, como o referente à hidrovia da Lagoa Mirim, vital para ligar a produção de arroz do norte do Uruguai ao porto de Rio Grande, geram ressentimentos em nosso vizinho.
O Uruguai, país com escassa indústria, usa da firma de um eventual acordo com a China para pressionar o Brasil a cumprir essas promessas.
Enquanto isso, a China investe bastante no Uruguai.
Por exemplo, a construção do grande anel de transmissão de energia elétrica no norte do Uruguai, que inclui uma linha que ligará Tacuarembó a Salto. A obra estará a cargo da empresa China Machinery Engineering Corporation (CMEC).
Ressalte-se que a China já é o principal sócio comercial do Uruguai.
Em 2021, a China absorveu 28% das exportações uruguaias. Em segundo lugar, veio o Brasil, com distantes 16%.
Mais um esclarecimento.
A rigor, o Uruguai não pode negociar um acordo comercial com a China em separado.
Como integrante do Mercosul, o Uruguai, ao firmar o Tratado de Assunção, se comprometeu a ter uma tarifa externa comum e a praticar uma política comercial comum, em relação a terceiros Estados.
Vejam o que diz o Tratado:
“ARTIGO I
Os Estados Partes decidem constituir um Mercado Comum, que deverá estar estabelecido a 31 de dezembro de 1994, e que se denominará “Mercado Comum do Sul” (Mercosul).
Este Mercado Comum implica:
A livre circular de bens serviços e fatores produtivos entre os países entre outros, da eliminação dos direitos alfandegários restrições não tarifárias à circulação de mercado de qualquer outra medida de efeito equivalente;
O estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma política comercial comum em relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados e a coordenação de posições me foros econômico-comerciais regionais e internacionais”.
Publicação de: Viomundo