Lula reage ao tarifaço de Trump e promete taxar big techs dos EUA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) endureceu o tom contra Donald Trump nesta quinta-feira (17), ao anunciar que o Brasil vai começar a taxar as empresas de tecnologia dos Estados Unidos, como resposta direta à sobretaxa de 50% imposta por Washington sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.

Durante discurso no 60º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), em Goiânia, Lula foi enfático: “A gente vai julgar e cobrar imposto das empresas americanas digitais”. A declaração escancara a retaliação brasileira no plano diplomático e econômico, num momento em que o Palácio do Planalto tenta equilibrar resposta política e proteção ao setor produtivo nacional.

‘Não é um gringo que vai dar ordem a este presidente’

Ao lado de ministros e diante de milhares de estudantes, Lula foi além do campo comercial. Disparou contra a postura imperial de Trump, dizendo que “não é um gringo que vai dar ordem a este presidente da República” e que “o Brasil não aceitará nada que lhe for imposto”.

A resposta ocorre após o governo brasileiro tentar, sem sucesso, abrir diálogo com a Casa Branca. Segundo Lula, nem o vice-presidente Geraldo Alckmin nem o chanceler Mauro Vieira receberam retorno dos americanos. “A resposta que recebemos foi uma carta arrogante no zap dele, com a lógica do ‘ou dá ou desce’”, criticou.

Trump, por sua vez, alega que a sobretaxa se justifica por “regulações digitais ruins”, “proteção fraca à propriedade intelectual” e “tolerância ao desmatamento”, o que colocaria produtores americanos em desvantagem. A retórica ganhou apoio do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, que passou a fazer lobby nos EUA contra o governo brasileiro.

Lula acusa família Bolsonaro de traição ao país

Em tom de confronto, Lula acusou Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo de serem “traidores do século 20 e do século 21” por apoiarem o tarifaço de Trump. Debochou do pedido de libertação feito pelo deputado ao governo americano: “‘Liberta meu pai, liberta meu pai’… Eles agora têm que ser tratados como traidores da história deste país”.

Lula também rejeitou que divergências ideológicas inviabilizem a diplomacia entre os países. “O Brasil quer negociar, mas precisa ser respeitado. Nós não somos reféns dos EUA”, disse à CNN Internacional. Para ele, Trump foi eleito presidente dos EUA, “e não imperador do mundo”.

Guerra comercial assusta mercado e agronegócio

Desde o anúncio da sobretaxa, investidores estrangeiros já retiraram R$ 4,5 bilhões da B3, conforme levantamento do mercado. O fluxo de capitais, que vinha sendo positivo, inverteu após o endurecimento da relação Brasil-EUA.

O temor de uma escalada comercial generalizada levou o governo a dialogar com industriais e produtores do agronegócio antes de formalizar medidas de retaliação equivalentes. A avaliação interna é de que a taxação de big techs tem potencial simbólico e fiscal, sem prejudicar setores estratégicos da economia nacional.

Senado brasileiro organiza missão suprapartidária aos EUA

O Senado Federal anunciou uma comitiva de parlamentares que viajará aos Estados Unidos nos próximos dias para tentar negociar com o Congresso americano uma saída para o impasse. A delegação inclui os petistas Jaques Wagner e Rogério Carvalho, além dos ex-ministros bolsonaristas Tereza Cristina e Marcos Pontes.

Sob reserva, senadores afirmam que a missão também visa isolar Eduardo Bolsonaro, apresentando aos americanos um “Brasil institucional” distinto da narrativa de perseguição que o deputado propaga em Washington.

UNE grita por soberania e prisão de Bolsonaro

O evento estudantil virou palanque político contra o bolsonarismo e a ingerência externa. Estudantes entoaram gritos de “sem anistia e sem perdão, eu quero ver Bolsonaro na prisão”, enquanto ministros de Lula reforçaram discursos a favor da soberania nacional, da taxação dos super-ricos e da justiça social.

Entre os presentes estavam Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Saúde), Camilo Santana (Educação), Luciana Santos (Tecnologia) e Margareth Menezes (Cultura).

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Soberania x tarifaço de Trump

Lula aposta numa narrativa de soberania para enfrentar o tarifaço de Trump e reposicionar o Brasil como potência altiva na disputa internacional. Ao mesmo tempo, ensaia uma contraofensiva com potencial de arrecadação fiscal, via taxação de big techs, sem se render à retaliação cega.

Com apoio popular renovado e respaldo do Congresso, o presidente acena com firmeza à base interna e sinaliza ao mundo que o Brasil não aceitará imposições comerciais motivadas por pressões ideológicas ou interesses eleitorais dos EUA.

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Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

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