Lelê Teles: O Minotauro verdeamarelo em breve será recolhido a um curral federal
O Minotauro verdeamarelo
Por Lelê Teles*
a mitologia minotáurica tem sua versão brazuca.
cordelistas nacionais contam que essa horrenda criatura – metade homem, metade gado -, está aprisionada em um labirinto que ela própria construiu.
já aí nota-se a diferença entre o nosso mito e o mito grego.
o nosso nasce, e nisso concordam todos os cordelistas que consultei, da cruza entre os militares e a midiazona.
leio em um cordel que durante a ditadura militar, a mídia nacional se apaixonou pelos milicos e, durante anos, trocaram afagos e afetos.
a turma de farda, como sabemos, são como as vacas indianas, intocáveis.
porém, não são incomíveis, desde que o comer seja metafórico e para fins reprodutivos.
foi nessa toada que os barões da mídia se meteram nessa zoófila parafilia.
como resultado, nasceu, do ventre dessa vaca sagrada, o nosso monitauro verdeamarelo.
e, assim, a vaca foi pro brejo.
ainda bezerro, mino foi embalado no regaço da bela luciana gimenes, que ficou encarregada de amamentá-lo.
coube aos intrépidos e brincantes cqc e pânico na tevê o papel de entreter o bichinho.
foi ali que a pequena criatura deu seus primeiros mugidos.
quando se tornou garrote, abriram a porteira e o deixaram livre para dar coices e pinotes no ratinho, no jornal nacional e nos jornais de enrolar peixe.
os chifres começaram a brotar, ainda segundo os cordéis, quando mino se aproximou de valdemar da costa neto que, perto do nosso fagueiro garrotinho, já era um bípede búfalo bufante e parrudo.
mas não é só o chifre que dignifica um minotauro.
enquanto lhe crescia a galhada, o danado passou a encorpar.
sua ração era um mix de viagra, farofa de frango e leite condensado.
nutrido por essa estranha farinata, em pouco tempo mino taurificou-se e tornou-se líder de um grande rebanho.
chegou mesmo liderar uma espécie híbrida, chamada motoboi, que são uns centauros cornificados, cujas patas parecem rodas.
sabe-se que o nosso mitológico vacum, tal qual o seu homônimo grego, alimenta-se, também, de pessoas vivas.
foi ele mesmo quem mugiu, certa vez, que usava verba pública pra comer gente.
o primeiro que ele comeu foi o major olímpio; em seguida, mastigou bebbiano, depois devorou frota, mais adiante papou joice.
aí veio a pandemia do coronga e percebeu-se que o danado tinha uma fome insaciável.
passou, inclusive, a ingerir pix, joias e imóveis.
a dieta descuidada lhe provoca refluxos, prisões de ventre e bucho quebrado.
por anos, mino pastou pelo gramado da esplanada, livre, leve e solto.
passou a fazer na vida pública o que fazia na privada.
cagando e andando, como se diz na linguagem bovina, indiferente a tudo e a todos.
até que um dia, do nada, surgiu um teseu: careca, espada em punho e com uma capa preta nas costas.
o tesão de teseu é churrasquear o minotauro.
usando a constituição como um fio de ariadne e conhecedor da heráldica arquitetura de dédalo, o piroca adentrou, corajosamente, o sinistro e obscuro labirinto.
lá encontrou diversas carcaças pelo caminho: ligações miliciosas, falso cartão de vacinação, minuta de golpe, abin paralela, gabinete do ódio, falcatruas com joias, pegadas de lavagem de grana e formação de quadrilha…
uma infinidade de cacarecos.
o diabo se vê, agora, encurralado.
em breve, o nosso estranho minotauro será recolhido a um curral federal, com porteira de ferro.
sua despedida do mundo livre será em cima de um trio elétrico, ao lado de malafaia, o bezerro de ouro.
por ter conseguido entrar na mente do minotauro, o nosso teseu trocará a toga pelo manto de arthur bispo do rosário.
e, por essa brava tauromaquia, entrará para o anedotário popular como o senhor dos labirintos.
palavra da salvação.
Lelê Teles é jornalista, roteirista e mestre em Cinema e Narrativas Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).
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Publicação de: Viomundo