Esquerda e direita exigem cassação de Eduardo Bolsonaro
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) está na linha de tiro. Da esquerda à direita tradicional, o clamor é uníssono: o deputado federal, que vive nos Estados Unidos, precisa ter seu mandato cassado por traição aos interesses nacionais. Em Brasília, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), verbalizou o sentimento geral: “Esse é um traíra. Comete crime de lesa-pátria. Não tem o direito de continuar deputado pelo Brasil.”
A declaração de Gleisi foi feita durante evento no Palácio do Itamaraty, na presença de representantes da União Europeia. Ela denunciou que o Brasil está sendo ameaçado por medidas unilaterais de Donald Trump e apontou Eduardo como um dos artífices da conspiração internacional contra o país: “Espero que o congresso nacional e a Câmara dos Deputados tomem medidas para que esse traíra não possa representar mais nenhuma instituição brasileira.”
Nos bastidores, a avaliação no governo é de que Eduardo atua como um operador da extrema direita transnacional. Ele se reuniu com integrantes do governo Trump e participou diretamente das articulações que levaram ao tarifaço de até 50% sobre exportações brasileiras, em especial nos setores de alimentos e têxteis. A chantagem, admitida pelo próprio Eduardo nas redes sociais, seria revertida apenas com a anistia aos golpistas do 8 de janeiro: “Soltem os presos políticos que isso começa a acabar”, escreveu.
O tradicional jornal O Estado de S. Paulo, que historicamente já foi indulgente com Jair Bolsonaro, não poupou o filho do ex-presidente em seu editorial desta quarta-feira (30): “Eduardo Bolsonaro precisa ter cassado seu mandato de deputado federal. Trata-se da única reação cabível por parte de uma democracia digna do nome”.
No texto, o jornal afirma que Eduardo atua “deliberada e sistematicamente para prejudicar o Brasil” e classifica seu comportamento como chantagista, intimidatório e incompatível com qualquer democracia séria. O Estadão relembra que, há 25 anos, a Câmara errou ao não cassar Jair Bolsonaro, e agora tem a chance de não repetir o vexame: “Eduardo passou dos limites e merece não a inércia corporativista da Casa, mas uma punição dura, real e imediata.”
O Estadão é considerado um dos principais porta-vozes da burguesia financeira e da chamada “direita civilizada”, aquela que se apresenta como moderada, mas atua em defesa dos interesses da Faria Lima, dos grandes bancos e da velha mídia corporativa. Representa, historicamente, os oligarcas do sistema financeiro nacional e seus projetos de poder travestidos de racionalidade econômica.
Sabotagem, ameaças e ausência deliberada
A situação institucional de Eduardo Bolsonaro também se agrava tecnicamente. Após pedir afastamento do mandato, ele voltou formalmente à Câmara sem retornar fisicamente ao Brasil. Se continuar ausente de sessões deliberativas, poderá ser enquadrado por faltas sucessivas, o que pode resultar em cassação automática.
Além disso, ele tem feito transmissões ao vivo em que ameaça agentes públicos. Em uma delas, referiu-se de forma intimidatória ao delegado Fábio Alvarez Shor, responsável por investigações contra Jair Bolsonaro: “Vai lá, cachorrinho da PF… se eu ficar sabendo quem é você, eu vou me mexer aqui”.
O deputado também atacou os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), insinuando que ambos deveriam ser punidos por não pautarem a proposta de anistia ampla aos golpistas. A reação no Congresso foi de repúdio, mesmo entre parlamentares da direita moderada.
Oposição interna ao bolsonarismo
O mais novo capítulo da crise revela um racha interno na direita. Governadores como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ratinho Júnior (PSD-PR) foram criticados por Eduardo por tentarem buscar soluções diplomáticas com os EUA. Para os Bolsonaro, qualquer saída que não envolva a anistia irrestrita é traição.
Gleisi Hoffmann foi direta ao afirmar que Eduardo “não fala em nome do Brasil” e que suas ações são vistas como uma conspiração internacional contra a soberania nacional: “Nenhum país soberano pode aceitar ingerência externa nos seus processos judiciais ou legislativos”, declarou.
Opinião do Blog do Esmael | O cerco democrático se fecha
O caso de Eduardo Bolsonaro é mais do que um episódio isolado. É a prova viva de que parte da extrema direita brasileira continua operando contra o país, do exterior, em favor de um projeto autoritário, golpista e antipatriótico.
A cassação do seu mandato tornou-se não apenas juridicamente possível, mas politicamente necessária. Que a Câmara dos Deputados, dessa vez, não hesite em cumprir seu dever diante de quem age como agente estrangeiro dentro do Parlamento nacional.
O Blog do Esmael segue na trincheira pela democracia, contra o entreguismo e o golpismo.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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Publicação de: Blog do Esmael