Disputa pelo governo do Paraná ganha contornos de polarização entre Moro e Curi
A corrida pelo Palácio Iguaçu em 2026 começa a ganhar forma, e o cenário aponta para uma polarização entre o senador Sergio Moro (União Brasil) e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP), deputado Alexandre Curi (PSD). Ambos intensificaram suas agendas pelo interior e já despontam como protagonistas da pré-campanha, representando projetos políticos distintos, ainda que ambos defendam bandeiras de segurança, gestão pública e desenvolvimento regional.
Segundo as pesquisas mais recentes, Moro aparece na liderança com vantagem numérica, mas o quadro ainda é volátil. Curi ocupa a segunda posição em empate técnico com outros nomes ligados tanto ao Palácio Iguaçu quanto à oposição petista, mas sua capilaridade política no interior e no meio empresarial vem chamando atenção.
Sergio Moro pode fazer uma nova “Lava Jato” no Paraná
O ex-juiz da Lava Jato e atual senador Sergio Moro (União Brasil) tem intensificado sua presença no interior do Paraná como quem prepara o terreno para uma nova operação política com sotaque regional. Numa maratona que combina exposição midiática e acenos à base conservadora que ainda o vê como símbolo de “moralização”.
Seu discurso mistura críticas ao governo Lula, defesa de uma gestão “eficiente e ética” e provocações calculadas à esquerda, mesmo enquanto se aproxima de alas bolsonaristas. Em entrevista à TV Senado nesta terça-feira (5), Moro atacou a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que determinou a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL):
“Esta prisão domiciliar do ex-presidente Bolsonaro é desnecessária. Ele ainda responde ao processo, não foi julgado. Vamos fazer um comparativo com o caso do ex-presidente Lula, que só foi preso depois de julgado e ainda em segunda instância. (…) Esse é um precedente muito perigoso, de proibir qualquer acusado de se manifestar livremente antes de ser julgado.”
A fala provocou reações imediatas. Afinal, foi o próprio Moro, então juiz federal, quem determinou a prisão de Lula antes do trânsito em julgado, num processo que anos depois foi anulado pelo Supremo Tribunal Federal por parcialidade. As mensagens vazadas entre Moro e Deltan Dallagnol (Novo), então coordenador da força-tarefa da Lava Jato, revelaram combinação de estratégias e atuação política disfarçada de judicial.
Agora, sob a toga do Senado, Moro tenta reposicionar sua imagem, mas carrega o peso de decisões que reconfiguraram a democracia brasileira e interferiram diretamente nas eleições de 2018.
Tarifaço, chantagem e contradições
Durante a mesma entrevista, Moro também comentou sobre o tarifaço imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, que entrou em vigor nesta quarta-feira (6). Ele defendeu uma resposta institucional imediata:
“Muitos setores serão bastante prejudicados. Estive no interior do Paraná recentemente e ouvi a preocupação de produtores e empresários. Precisamos distensionar a crise com os EUA e trabalhar diplomaticamente, com firmeza e responsabilidade.”
O lamento do senador, porém, contrasta com o silêncio calculado em relação à base bolsonarista, que apoia a política de Donald Trump como forma de pressionar o Brasil. O clã Bolsonaro considera o tarifaço um “instrumento legítimo” de chantagem contra o STF e o governo Lula, num jogo geopolítico arriscado que coloca a soberania nacional em xeque.
Enquanto isso, Moro se equilibra entre o antipetismo raiz e os resquícios do lavajatismo, tentando reconstruir uma ponte com os eleitores paranaenses, mesmo que, para isso, precise trafegar por estradas já condenadas pela história.
Alexandre Curi: Assembleia Itinerante e defesa do legado de Ratinho Jr.
Já o deputado Alexandre Curi tem investido pesado em uma estratégia de “interiorização da política”, utilizando o programa Assembleia Itinerante como vitrine institucional e palanque antecipado. Nesta quarta-feira (6), por exemplo, ele comanda a 25ª edição do programa em Castro, nos Campos Gerais, durante a Agroleite, evento que reúne os principais nomes do agronegócio paranaense.
“Essa é a nova gestão da Assembleia Legislativa do Paraná: protagonista e presente no desenvolvimento da economia e na melhoria da vida das pessoas, sejam elas do interior ou da capital”, afirmou Curi. O parlamentar já passou por mais de 20 cidades em 2025, revezando-se entre sessões especiais, audiências públicas e prestação de contas do mandato.
Além disso, Curi tem se posicionado como herdeiro político do governador Ratinho Júnior (PSD), que conclui seu segundo mandato em 2026. A aliança entre ambos é vista como estratégica para manter o PSD no comando do Estado. Curi tem a vantagem de representar a continuidade administrativa sem a fadiga natural que um terceiro mandato traria.
Entretanto, Alexandre Curi ainda precisa ser ungido por Ratinho Jr. em público como candidato do grupo. Além do presidente da ALEP, lutam pela bênção do governador Rafael Greca (ex-prefeito de Curitiba), Sandro Alex e Guto Silva (secretários de Estado) e o vice-governador Darci Piana.
Palanque dividido e rota de colisão
Apesar de ainda faltarem 15 meses para a eleição, o tabuleiro começa a se movimentar. Sergio Moro deve enfrentar resistência tanto de aliados de Ratinho quanto de grupos que ainda enxergam sua atuação na Lava Jato com desconfiança.
Já Alexandre Curi, apesar de se declarar um político conservador e de centro-direita, é reconhecido pelo amplo trânsito entre todos os partidos com representação na Assembleia Legislativa, prova disso foi sua eleição unânime à presidência da Casa.
Essa habilidade de articulação o credencia a ser o nome capaz de liderar uma frente ampla amplíssima contra Sergio Moro em um eventual segundo turno, repetindo a fórmula vitoriosa da eleição municipal de 2024 em Curitiba, quando coordenou nos bastidores a aliança que levou Eduardo Pimentel (PSD) à prefeitura.
Curi entra na disputa com credenciais de diálogo, pragmatismo e força institucional, atributos que o diferenciam em um ambiente político cada vez mais polarizado.
Nos bastidores, políticos e analistas já tratam os dois como pré-candidatos naturais ao Palácio Iguaçu. Ambos conhecem bem os bastidores do poder e demonstram apetite eleitoral. A tendência, ao menos até o momento, é de uma disputa polarizada, com fragmentação no campo da oposição e uma disputa intensa pela preferência do eleitorado do interior.
Moro x Curi
A pré-campanha ao governo do Paraná em 2026 está oficialmente nas estradas. Moro e Curi percorrem o mesmo território, disputam as mesmas atenções e se apresentam como faces opostas de um novo embate político regional. A disputa promete esquentar, especialmente se os dois mantiverem o ritmo acelerado de visitas e agendas públicas nos próximos meses.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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Publicação de: Blog do Esmael