DF registra 1.812 incêndios florestais no mês de agosto, segundo Corpo de Bombeiros

O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) registrou um total de 1.812 incêndios florestais no mês de agosto, comparado a 2.065 do mesmo período do ano anterior, representando uma queda de 12,25%. O número está inserido no período mais seco do ano na região, quando as ocorrências de focos de calor aumentam significativamente. O mês concentra os dias mais secos do calendário e costuma apresentar o maior número de registros de incêndios florestais, que embora a queda, ainda é um sinal de alerta.

O Cerrado, bioma predominante no DF, apresenta características que favorecem a propagação do fogo durante a seca. A vegetação, adaptada a longos períodos sem chuva, torna-se altamente inflamável com a combinação de estiagem prolongada, altas temperaturas, baixa umidade do ar e ventos fortes. Além disso, o solo do Cerrado, com excesso de alumínio e baixos teores de nutrientes, contribui para a aridez do ambiente.

Com vegetação que é altamente inflamável, incêndios em áreas de conservação tem gerado denúncias sobre a fragilidade das políticas de preservação ambiental no Distrito Federal. Um exemplo que ilustra o cenário é o incêndio ocorrido no Parque Boca da Mata, em Samambaia, no dia 28 de agosto. A ocorrência reuniu brigadas voluntárias e estatais em uma ação que levou mais de seis horas no combate às chamas da unidade.

O incêndio ocorrido no domingo (28) teve início por volta do meio-dia e só foi controlado no início da noite, após atuação intensa das brigadas. Entre elas, a Brigada Voluntária do Coletivo Boca da Mata, que atua desde 2016 na prevenção e combate ao fogo, além de desenvolver ações de educação ambiental com a comunidade local.

“O combate durou cerca de seis horas, mas não deveria ter sido tão longo se tivessem escutado as recomendações técnicas de nossa brigada voluntária, que vive e estuda o parque cientificamente”, afirma Breno Vidany, ambientalista cerratense e integrante do coletivo.

Segundo o ambientalista, as principais causas dos incêndios no Boca da Mata estão relacionadas à queima irregular de resíduos sólidos dentro do parque, especialmente nas chamadas “trilhas do lixo”, onde carroceiros depositam entulho, eletrônicos e até materiais hospitalares. A prática é frequente e perigosa, agravada pela ausência de cercamento e de fiscalização adequada.

Abandono crônico

Criado pelo Decreto nº 13.244 de 1991, o Parque Boca da Mata é uma Unidade de Conservação (UC) estratégica para a proteção do Cerrado e dos recursos hídricos locais. A área abriga nascentes, fauna e flora típicas do bioma e cumpre um papel na qualidade de vida da população do entorno. No entanto, enfrenta o que é considerado um abandono crônico por parte do poder público, por conta da infraestrutura precária, fiscalização insuficiente e ausência de políticas efetivas de conservação.

Entre 1995 e 2024, mais de 100 cicatrizes de fogo foram registradas na unidade, conforme dados do MapBiomas Fogo (2025). Embora subestimados, já que se baseiam em imagens de baixa resolução espacial, os números mostram um padrão alarmante de queimas ilegais durante o período de seca, quando o fogo se alastra com maior velocidade e severidade.

Os incêndios trazem prejuízos ambientais, sociais, sanitários e econômicos. No âmbito ecológico, o fogo causa alterações nos ciclos de nutrientes essenciais como carbono, nitrogênio e fósforo. Reduz a biodiversidade, favorece espécies invasoras e mata organismos de baixa mobilidade, como répteis e pequenos mamíferos.

“Estamos observando uma regressão sucessional da vegetação dos murundus e o favorecimento de espécies de hábitos não arbóreos. Isso pode se tornar um problema sério para a biodiversidade local”, alerta Breno Vidany, que também desenvolve pesquisas científicas no parque.

Além disso, a queima libera poluentes como carbono negro, metano e óxidos de nitrogênio, agravando a qualidade do ar em um momento já crítico para a saúde da população, especialmente crianças e idosos.

Incêndios trazem prejuízos ambientais, sociais, sanitários e econômicos. Foto:Divulgação/Coletivo Boca da Mata

Políticas ambientais 

O Coletivo Boca da Mata denuncia que o Estado falha em executar o plano de manejo do parque, que prevê ações essenciais como cercamento, instalação de guaritas, contratação de monitores e vigilância permanente. Mesmo após a revisão do documento feita com apoio do coletivo e a entrega de um relatório técnico com mais de 150 páginas ao Ibram, as medidas seguem “emperradas”.

“A leniência do Ibram em executar essas diretrizes é inaceitável. O cercamento, por exemplo, tem processo rolando desde 2018. O presidente do órgão sabe da situação, mas as promessas seguem sem se cumprir”, critica.

Procurado pelo Brasil de Fato DF, o Instituto Brasília Ambiental foi questionado sobre as críticas feitas pelo Coletivo Boca da Mata. Em resposta, o órgão informou apenas que “essa demanda está em apuração”. Até a publicação desta matéria, o Ibram não apresentou detalhes sobre prazos exatos, medidas em andamento ou previsão para a implementação das ações mencionadas, como o cercamento do parque, cujo processo tramita desde 2018, segundo relatos de integrantes do coletivo.

Em 2024, o Ibram contratou brigadistas temporários por um período de dois anos para atuar em diversas unidades de conservação, incluindo o Boca da Mata. Segundo o órgão, essa ação busca garantir maior presença no território e reduzir o abandono denunciado por moradores e ambientalistas. Apesar disso, os resultados ainda são considerados insuficientes por quem acompanha de perto a situação.

O Coletivo Boca da Mata mantém suas atividades com apoio da comunidade local e de parceiros institucionais, promovendo mutirões de limpeza, plantio de mudas nativas, educação ambiental em escolas e vigilância constante.

“A gente não combate só fogo. A gente combate o esquecimento. Esse parque é parte da nossa história, da nossa identidade e da nossa luta pelo Cerrado vivo”, conclui Breno.

Orientações do corpo de Bombeiros Militar do DF para população:

– Não queime lixo, folhas secas ou restos de poda;

– Evite o uso do fogo para limpeza de terrenos;

– Não descarte bitucas de cigarro acesas em áreas com vegetação seca ou beira de estrada;

– Se estiver acampando, só faça fogueiras em locais permitidos e sempre apague totalmente ao sair;

– Em propriedades rurais, mantenha aceiros (faixas sem vegetação) ao redor de plantações, pastos e construções;

– Evite o acúmulo de vegetação seca próximo a casas, postes, cercas e estradas;

– Converse com familiares, vizinhos e funcionários sobre os riscos e formas de prevenção;

– Em caso de incêndio, chame o Corpo de Bombeiros pelo telefone 193;

-Só tente apagar o fogo se tiver equipamento e treinamento. Não se coloque em risco.

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Publicação de: Brasil de Fato – Blog

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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