Centrão quer faturar com Lula e Bolsonaro, mas Gleisi cobra: de que lado estão?
Os bastidores do poder em Brasília revelam uma movimentação calculista e cada vez mais escancarada: os partidos do Centrão – leia-se PP, Republicanos, União Brasil e adjacências – querem lucrar politicamente dos dois lados da moeda. Apoiam o governo Lula nas votações estratégicas, garantem seus ministérios e cargos, mas não escondem o flerte com o bolsonarismo. É o velho lema da esperteza institucional: “se hay gobierno, soy a favor”.
No palco principal, os dirigentes partidários ensaiam bravatas e discursos de independência. Fazem pose diante das câmeras, atacam a política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, nos bastidores, reclamam das tarifas impostas pelos Estados Unidos após a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL). Mas nos corredores do Palácio do Planalto, os parlamentares dessas mesmas siglas seguem agarrados a cargos, verbas e indicações em ministérios estratégicos.
Com um pé em cada canoa
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, escancarou a contradição em uma publicação nas redes sociais nesta segunda-feira (4). Ela não apenas rebateu a narrativa dos presidentes do União Brasil (Antonio Rueda) e do PP (Ciro Nogueira), como também cobrou coerência e coragem:
“Espantoso é que esses presidentes de partidos políticos brasileiros não se manifestem sobre essa conspiração contra nossa soberania nem sobre os parlamentares que a apoiam”, escreveu Gleisi. “Precisam dizer de que lado estão: dos interesses do Brasil ou dos interesses de Bolsonaro.”
A crítica é direta aos líderes partidários que silenciam diante do alinhamento de parlamentares do Centrão à ofensiva internacional do bolsonarismo, especialmente a ação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos para manter as sanções contra o STF e membros do governo Lula.
Centrão na encruzilhada de 2026
A tendência, caro leitor, é que em 2026 o Centrão declare “independência formal” em relação à disputa presidencial. Ou seja, cada seção estadual desses partidos fará o jogo que mais lhe convier, mesmo que isso signifique apoiar candidatos antagonistas em diferentes regiões. Em São Paulo, por exemplo, podem pender para Tarcísio de Freitas (Republicanos), enquanto no Nordeste se alinham ao palanque de Lula.
Nós, do Blog do Esmael, já repercutimos aqui esta semana que o PSD de Gilberto Kassab já “lulou” em ao menos três estados do Nordeste e no Rio de Janeiro.
Esse pragmatismo eleitoral visa maximizar bancadas no Congresso e fatias no fundo eleitoral e partidário, sem se comprometer com um projeto nacional único. É o puro suco do fisiologismo político brasileiro.
Comando duplo: governo e oposição ao mesmo tempo
O que não é de somenos é que as siglas do Centrão continuam com assento no governo federal. O União Brasil, por exemplo, comanda os ministérios do Turismo, Desenvolvimento Regional e Comunicações. O PP comanda o Ministério do Esporte e mantém espaços no segundo escalão. Esses espaços permitem que os partidos mantenham suas bases satisfeitas e garantam estrutura para suas campanhas eleitorais, ao mesmo tempo em que ensaiam oposição pontual nas redes e nos plenários.
Essa duplicidade tem sido tolerada por Lula em nome da governabilidade, mas está cada vez mais insustentável do ponto de vista político. A cobrança pública de Gleisi indica um movimento para apertar o cerco e exigir mais fidelidade dos aliados com cargos no governo.
Leitão vesgo e o jogo duplo do Centrão
O Centrão age como um leitão vesgo: mama numa teta enquanto olha para outra. Ou seja, fatura de um lado, mas flerta com o outro. Em público, posa de neutro. Em privado, negocia votos, verbas e apoios com quem estiver no poder, ou com quem acena com a volta ao Planalto.
A cobrança da ministra Gleisi Hoffmann deixa claro que o governo já enxerga a duplicidade e começa a exigir definição.
Na disputa por 2026, o eleitor precisa ficar atento: partidos que falam em “equilíbrio” demais costumam ser justamente os que se equilibram no muro, de olho no poder, e não no país.

Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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Publicação de: Blog do Esmael