Cebes apoia curso de Medicina para assentados rurais e quilombolas: Conquista histórica

Cebes apoia a formação de médicos em áreas rurais e quilombolas

Médicos da Reforma Sanitária avaliam potencial impacto positivo para SUS com a formação de médicos assentados e quilombolas

Por Clara Fagundes*, site do Cebes

A interiorização da Medicina e a garantia do direito à Saúde demandam estratégias de formação profissional.

O Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) declara seu apoio à graduação em Medicina em assentamentos rurais e quilombolas, oferecida pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), do Incra, em parceria com Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O curso prevê 80 vagas, sendo 40 destinadas à ampla concorrência e 40 reservadas a assentados da reforma agrária, quilombolas, acampados, educadores do campo e famílias beneficiárias do Crédito Fundiário. O processo seletivo inclui prova presencial e análise do histórico escolar.

Para a médica Cláudia Travassos, diretora-executiva Cebes e pesquisadora da Fiocruz, “o curso de Medicina para assentados e quilombolas é uma conquista histórica. Ele reconhece que a formação de profissionais de saúde precisa dialogar com as realidades sociais e territoriais do país, não apenas com os grandes centros urbanos.”

Além da inclusão, a formação aposta na valorização do vínculo comunitário. Para Travassos, “formar médicos no contexto da reforma agrária e dos quilombos significa preparar profissionais comprometidos com o SUS e com a redução das desigualdades. Essa é uma ação afirmativa de enorme alcance social.”

“Não se trata apenas de acesso à universidade, mas de formar médicos enraizados em seus territórios, que compreendem a realidade do campo e das comunidades negras rurais”, reforça a médica Ana Costa, diretora-executiva do Cebes e professora da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS-DF).

“Garantir que jovens de assentamentos e quilombos possam cursar Medicina é dar voz e vez a quem historicamente foi excluído”, afirma.

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Formação de médicos não atende necessidades do SUS

“O mercado de faculdades de medicina jamais iria contemplar a formação de profissionais para realidades específicas e até o momento negligenciadas no país”, avalia o médico Ronaldo Costa, integrante do conselho consultivo do Cebes.

Associações médicas criticam a iniciativa, apontando a suposta falta de isonomia no acesso ao curso. As associações silenciam, porém, quanto à falta de equidade que marca o acesso ao curso de Medicina, com mensalidades médias acima de 10 mil reais nas faculdades privadas.

Com décadas de experiência na assistência, Ronaldo reforça a necessidade de adequar a formação nas faculdades de medicina às necessidades do SUS.

“Hoje você (de)forma profissionais em uma série de faculdades sem estrutura e sem compromisso com a realidade das situações de saúde dos territórios, que saem despreparados e descompromissados com a promoção da saúde em comunidades negligenciadas”, avalia o médico.

Curso de Medicina tem alta demanda e amplia expectativas de jovens do campo

Em Caruru, o professor Itamar Lages, diretor-executivo do Cebes, conta que a notícia que o Pronera abriu curso de Medicina correu rápido entre os jovens.

“Recebi ligações do sertão de Pernambuco, de Garanhuns e de Caruaru, onde estou, informando que se inscreveram. A mobilização está intensa, está sendo muito bonito”, relata o enfermeiro, doutor honoris causa pelo UPE.

“Com o grande número de inscritos, vamos desfazer essa fake news da extrema direita, de que é ‘curso do MST”’, afirma.

A seleção, conduzida pela UFPE, inclui prova escrita, argumentativa, além do documento validado pelo Incra, atestando as condições previstas em edital.

Pronera tem bom histórico de formação acadêmica

O histórico do Pronera reforça a legitimidade da graduação em Medicina. Formandos de cursos anteriores, como o de agroecologia em Alagoas, obtiveram bons resultados na avaliação do Ministério da Educação.

Para Ana Costa, esse legado é essencial. “O Pronera já mostrou, em outras experiências, que é possível unir qualidade acadêmica e compromisso social. Agora, com Medicina, ampliamos ainda mais essa perspectiva”, afirma a professora.

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Colaborador Convidado

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