Bolsonarismo pressiona Tarcísio no STF
O Supremo Tribunal Federal inicia uma das fases mais sensíveis da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022. Com o depoimento de 51 testemunhas ligadas a Jair Bolsonaro, Anderson Torres e Augusto Heleno, a Corte entra no coração da estratégia bolsonarista.
O caso ganhou nova temperatura após o entrevero entre Aldo Rebelo e o ministro Alexandre de Moraes, na sexta-feira (23). O ex-ministro foi convocado como testemunha de defesa do almirante Garnier, mas protagonizou uma cena de confronto verbal ao relativizar o apoio das Forças Armadas ao então presidente Bolsonaro. Moraes reagiu com firmeza: ameaçou prender Rebelo por desacato. Foi mais que um embate de personalidades: é o retrato de um país dividido.
Nesta semana, o STF ouvirá nomes-chave da engrenagem bolsonarista. Entre eles, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que depõe na sexta-feira (30). Ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio é hoje o nome que a extrema-direita vê como sucessor viável de Bolsonaro, caso o ex-presidente seja declarado inelegível. Seu depoimento é aguardado com atenção dentro e fora do Judiciário.
No entanto, há uma pressão do bolsonarismo para que Tarcísio adote uma postura mais combativa em defesa do ex-presidente — e os aliados usam o exemplo de Aldo Rebelo, que bateu boca com Moraes, como parâmetro “aceitável” na audiência vindoura.
Também passarão pelo crivo do Supremo Paulo Guedes, Marcelo Queiroga, Ciro Nogueira, Valdemar Costa Neto e o general Eduardo Pazuello. A presença de tantos ex-ministros e aliados sinaliza que o STF não apenas apura responsabilidades, mas tenta mapear toda a cadeia de comando de um movimento que buscou subverter a ordem constitucional.
Os bastidores revelam um bolsonarismo em mutação. A figura de Aldo Rebelo, ex-ministro de Lula e agora cortejado como vice de Bolsonaro em 2026, simboliza essa metamorfose. Nos bastidores, o “Plano A” bolsonarista prevê usar Aldo como fiador de um projeto de poder que une militares, setores do agronegócio e uma base digital barulhenta.
O STF, por sua vez, adota uma postura firme. Moraes, relator do caso, tem demonstrado intolerância com evasivas e tentativas de reeditar narrativas golpistas. Ao ameaçar Rebelo com prisão, deixou claro que não permitirá o “crescimento” de bolsonaristas na audiência judicial.
Nos corredores do Congresso e dos tribunais, o sentimento é de que a próxima eleição já começou. E que cada depoimento diante do STF é um ensaio para 2026. O Supremo ouve, analisa e reage. O bolsonarismo se reorganiza, buscando novas formas e rostos para um projeto de continuidade.
As audiências, previstas para terminar em 2 de junho, vão aprofundar os dilemas da democracia brasileira. Elas jogam luz sobre as alianças, contradições e intenções de um campo político que ainda não aceitou os resultados das urnas.
O Blog do Esmael segue acompanhando, em tempo real, cada movimento desta peça judicial e política. Leia, compartilhe e participe da reflexão sobre os rumos do Brasil.

Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
Publicação de: Blog do Esmael