Bolsonarismo em queda após defesa do tarifaço de Trump e ataques ao STF
Apoio ao tarifaço de Trump e ataques ao STF evidenciam que o bolsonarismo entrou em viés de queda
Manifestações por anistia expõem isolamento político e associação do bolsonarismo aos interesses estrangeiros
As manifestações bolsonaristas realizadas neste domingo (3) em diversas capitais do país revelaram um movimento em viés de queda. A defesa de pautas impopulares como o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump aos produtos brasileiros e os pedidos de anistia a Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe de Estado, escancararam o descolamento do bolsonarismo das maiorias populares.
A presença de cartazes em inglês agradecendo a Trump, num momento em que sua política econômica agride diretamente o setor produtivo nacional, foi um retrato simbólico do erro estratégico que o bolsonarismo vem cometendo: ao defender os interesses de Washington, abandona a defesa da indústria, do emprego e da soberania brasileira.
Uma manifestação com ausências reveladoras
Embora tenham ocorrido em cerca de 60 cidades, incluindo redutos históricos como a Paulista e Copacabana, os atos não contaram com a presença de Jair Bolsonaro, proibido judicialmente de sair de casa aos fins de semana, nem do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que passou por procedimento médico.
Sem o líder máximo nas ruas, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e os filhos Flávio e Eduardo tentaram manter viva a chama bolsonarista. Em Belém, Michelle discursou; no Rio, Flávio colocou o pai no viva-voz. Já Eduardo passou o fim de semana no embate público com Tarcísio, acusando o governador de “subserviência” por tentar dialogar com os EUA contra o tarifaço, imposto, vale lembrar, com apoio dele próprio.
A tentativa de transformar Michelle Bolsonaro em porta-voz emocional do bolsonarismo é clara. Mas, fora do Planalto, sem mandato e sem projeção institucional, a ex-primeira-dama não tem conseguido agregar além da base já fiel.
O custo político do apoio ao tarifaço de Trump
As manifestações deste domingo foram diretamente impulsionadas pelas sanções impostas a Alexandre de Moraes pelo governo Trump, via Lei Magnitsky. A medida foi interpretada como tentativa de interferência externa no Judiciário brasileiro, e se tornou bandeira de parlamentares do PL.
Mas, ao defender um presidente estrangeiro que impõe tarifas bilionárias sobre produtos brasileiros, o bolsonarismo perdeu ainda mais apoio entre setores empresariais, industriais e produtores rurais, sobretudo em São Paulo, maior exportador nacional aos EUA.
Segundo dados oficiais, o estado paulista exportou mais de US$ 13 bilhões aos EUA em 2024. A medida de Trump, aplaudida por bolsonaristas, atinge diretamente essa base econômica. Tarcísio de Freitas, pressionado por todos os lados, tenta o equilíbrio impossível: manter o verniz moderado enquanto presta reverência ao clã Bolsonaro.
Anistia, impeachment e “calendário de protestos”: uma estratégia de desgaste
Com o avanço do julgamento de Bolsonaro no STF, os atos tentam pressionar Congresso e Judiciário com duas pautas centrais: anistia ampla, geral e irrestrita aos envolvidos no 8 de Janeiro e impeachment de Moraes. Ambas são consideradas hoje natimortas no Parlamento, inclusive por aliados do próprio PL.
A estratégia agora parece ser manter um “calendário de manifestações”, como admitiu o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). O objetivo: manter o nome de Bolsonaro em circulação e alimentar o núcleo ideológico radical, mesmo com a inelegibilidade até 2030 e restrições de fala e mobilidade.
Mas até mesmo essa tática parece enfraquecer. A ausência de multidões nas ruas, e a fragmentação dos atos, indica fadiga. É a oitava manifestação desde 2023, e a primeira sem a presença física de Bolsonaro. Um movimento que já foi de massas, hoje luta para manter os holofotes com gravações por celular.
O bolsonarismo está encolhendo, e os sinais são evidentes
A narrativa de “liberdade”, usada pelos bolsonaristas neste domingo, colide com a realidade: um ex-presidente de tornozeleira, réu por ataque à democracia, isolado judicial e politicamente; um aliado estrangeiro que impõe sanções e tarifas ao Brasil; e um eleitorado que, segundo o Datafolha, rejeita majoritariamente qualquer candidato que defenda a impunidade para os golpistas.
A curva é descendente. O bolsonarismo ainda tenta sobreviver nas redes e nas ruas, mas seu enraizamento institucional está ruindo, tanto no Congresso, quanto nas disputas estaduais. Associar-se a Trump e atacar o STF pode satisfazer o núcleo mais radical, mas distancia o grupo da maioria do povo brasileiro.
Se o bolsonarismo não reinventar sua narrativa, continuará reduzido a um protesto sem projeto, sem votos e sem futuro.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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Publicação de: Blog do Esmael