Ana Costa: O povo terá que seguir nas ruas para garantir os seus direitos e apoiar Lula

Impressões sobre os desafios para o futuro
Por Ana Maria Costa*, especial para o Viomundo
Há seis anos estamos em luta contra o fascismo que se instalou no Brasil junto com as graves crises política, econômica, sanitária, cultural e social.
A Covid-19 matou mais de 680 mil brasileiros, de crianças a idosos. Proporcionalmente a maior mortalidade do planeta.
O governo federal, vale relembrar, fez uma péssima gestão da pandemia: omissa, equivocada, corrupta.
A compra e aplicação de vacina somente ocorreu devido à ampla mobilização da sociedade civil, que conquistou o apoio dos poderes Legislativo e Judiciário.
Segundo análises epidemiológicas muito bem feitas, metade dessas mortes poderia ter sido evitada por meio da ação pronta e eficaz do governo federal.
Por exemplo, adotando orientações e medidas baseadas no conhecimento científico e adquirindo vacinas no momento oportuno. Na vigência de uma pandemia, a variável tempo é sempre fundamental. Ela salva vidas.
O Brasil acaba de passar por um sofrido processo eleitoral do qual Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu vitorioso na disputa pela presidência da República, derrotando nas urnas Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição e que tentou, a todo custo, manter-se no poder.
Lula, vale relembrar também, foi eleito em ampla aliança com democratas de diversos matizes políticos.
Nesse processo eleitoral, foram eleitos também governadores, deputados federais e estaduais.
Os movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) elegeram vários parlamentares à Câmara dos Deputados e às assembleias legislativas estaduais.
Guilherme Boulos (Psol), líder do MTST, foi eleito federal com 1 milhão de votos.
Ediane Maria (Psol), empregada doméstica e coordenadora do MTST, conquistou 175 mil votos e uma cadeira na legislativo paulista.
Já o MST reelegeu três deputados federais: Valmir Assunção (PT-BA), Marcon (PT-RS) e João Daniel (PT-SE).
E elegeu quatro deputados estaduais: Marina (PT-RJ), Rosa Amorim (PT-PE), Adão Pretto (PT-RS) e Missias (PT-CE).
No seu conjunto, porém, as forças de esquerda e centro esquerda não fizeram numericamente uma grande bancada, com maioria suficiente para garantir a governabilidade de Lula.
Lula venceu as eleições a despeito de tudo e todos que golpearam a democracia e tentaram melar o processo eleitoral.
No campo político, é preciso assinalar o seu grande crescimento como líder político cuja imagem vai muito além do Brasil.
Hoje Lula é reconhecidamente um estadista mundial.
De um lado, barrou a permanência no poder de um dos esteios da ultradireita no mundo.
De outro, emerge como redentor de um país destruído pelo fascismo, retornando agora ao seu terceiro mandato.
Mas o Brasil herda desses quatro anos de Bolsonaro a presença real da ultradireita fascista com lideranças eleitas para governos estaduais e diversos cargos nos legislativos estaduais e federal.
Pode-se dizer que Bolsonaro cresceu no interior da política nacional, de forma orgânica já que não há dúvidas de que a extrema direita hoje encontra-se organizada no país.
Mais preocupante no momento é a base bolsonarista coesa, fanática e organizada que se apresentou inconformada depois dos resultados das urnas, e vem realizando bloqueios de rodovias e promovendo o caos pelo Brasil afora.
Caos que, diga-se passagem, é o objetivo do atual presidente.
Com o capital político acumulado nos últimos anos, ele certamente tratará de se manter como líder da ultradireita. E, para isso, tudo indica vai continuar estimulando o ódio e o caos. É o único jeito de manter a fidelidade dos seus apoiadores mais fanáticos.
Ainda acrescento. Todos os crimes que Bolsonaro cometeu no exercício de seu mandato precisam ser investigados e o ex-presidente julgado.
Ainda sobre Bolsonaro, acrescento. Todos os crimes que cometeu no exercício de seu mandato precisam ser investigados e o ex-presidente julgado.
Lula terá a grande tarefa de reconstruir o país, a democracia, a unidade e a esperança, implementando, ao mesmo tempo, políticas sociais que reduzam as enormes desigualdades herdadas, particularmente a fome que hoje atinge 33 milhões de brasileiros.
À esquerda brasileira resta fortalecer e ampliar suas bases sociais, ajudando a desenvolver a consciência política do povo em cima de princípios de solidariedade social e democracia.
É o nosso grande desafio. Missão que precisaremos levar a todos os territórios.
A garantia de atendimento às demandas populares nunca constitui uma hegemonia para os governos, sempre enredados com a ganância do mercado e do capital.
É importante lembrar que a ampla aliança de democratas que garantiu a vitória do Lula traz no seu bojo particularidades que podem dificultar o atendimento pleno dos interesses populares
O único jeito de o povo garantir os seus direitos é seguir nas ruas, mobilizado.
*Ana Maria Costa é médica sanitarista, doutora em Ciências da Saúde, professora universitária e diretora executiva do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes)
Publicação de: Viomundo