Álvaro Dias relembra seu tempo de esquerda ao deixar o Podemos
O ex-senador Álvaro Dias (ex-Podemos-PR) anunciou sua desfiliação do partido com tom de desabafo e nostalgia. Em carta pública, ele afirmou que seus sonhos foram “sepultados” pela força de “um sistema nefasto que teima em sobreviver”. A saída marca o fim de uma trajetória de oito anos à frente da legenda que ajudou a fundar.
Há um mês, o Blog do Esmael revelava em primeira mão que Álvaro lutava para manter o comando do Podemos no Paraná. No fim de setembro, em conversa com o Blog, o ex-senador lembrou o início de sua vida política pela “esquerda”, no MDB, sigla que durante a ditadura militar simbolizou a resistência e o projeto de redemocratização do país nos anos 1980.
Durante o regime militar, o MDB, Movimento Democrático Brasileiro, surgiu como o único espaço legal de oposição à ARENA, partido que sustentava o poder dos generais. No ambiente do bipartidarismo imposto pelo AI-2, o MDB abrigava todas as correntes ideológicas que se opunham à ditadura: de comunistas e trabalhistas a liberais e social-democratas. Essa ampla frente democrática tinha um objetivo comum: restaurar as liberdades políticas, reconstruir o Estado de Direito e conduzir o país de volta à normalidade constitucional.
Foi nesse caldo de resistência que se formaram líderes como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e o jovem Álvaro Dias, então identificado com o campo progressista que sonhava derrubar o autoritarismo e refundar a democracia brasileira.
Álvaro, que deixou o Senado em 2023 após 24 anos de mandato, agora é um líder político sem partido. Um paradoxo com o PT, que tem um legado eleitoral robusto no Paraná, chegando a 42% de intenção de votos do eleitorado, segundo pesquisas recentes, mas ainda carece de um rosto público forte para canalizar a energia lulista nas eleições majoritárias.
“Álvaro é um rosto sem partido, e o PT é um partido sem rosto na corrida majoritária”, resumiu um dirigente petista ouvido pelo Blog. Ele avalia que a aproximação não seria impossível: “Depois que Alckmin virou vice do Lula, até vaca é capaz de voar”, brincou, em alusão ao vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB).
O ex-senador deixou o Podemos após perder o mando político no estado para o deputado federal Felipe Francischini e o deputado estadual Do Carmo, ambos oriundos do União Brasil e aliados do governador Ratinho Júnior (PSD).
Em paralelo, o deputado estadual Denian Couto (Podemos-PR) anunciou que também deixará a legenda na janela partidária de abril. “A legenda, ao caminhar no sentido contrário de seus próprios valores, me força a essa decisão”, escreveu em nota.
Diferentemente de Álvaro, porém, Denian nunca militou em movimentos de esquerda, nem mesmo no diretório acadêmico da UFRGS, onde se formou jornalista. Ele se define como parlamentar de direita, mas, tal como Álvaro, hoje é mais um rosto sem partido.
A despedida de Álvaro Dias encerra um longo ciclo na política paranaense. O desafio, agora, é reposicionar sua imagem num cenário em que o centro político encolhe e a polarização dos extremos define o jogo.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
Publicação de: Blog do Esmael

