Eduardo Moreira da Silva: Pesquisa científica combate a desinformação e garante a lisura dos processos eleitorais

A pesquisa científica a serviço do combate à desinformação

Por Eduardo Moreira da Silva*

A onda de populismos presente em países tão heterogêneos quanto Estados Unidos, Hungria, Turquia, Brasil, Argentina, Suécia, França, Alemanha e Itália acendeu um alerta importante para a manutenção dos pilares dos regimes democráticos.

Geralmente, tais líderes associam autoritarismo, moralidade cristã, racismo e xenofobia. Os alvos mais frequentes são imigrantes do sul global e/ou grupos minorizados.

Tais fatores são potencializados porque os estrategistas políticos desses governantes compreenderam bem a potência das emoções negativas combinada aos algoritmos para transformar as formas de se fazer política na contemporaneidade.

O resultado é o contexto de recessão democrática.

Resultados da pesquisa do INCT “A Cara da Democracia no Brasil” indicam elevados índices de confiança dos brasileiros na família, nos amigos e na igreja.

O fato de estarem conectados pelas redes sociais potencializa a disseminação da desinformação.

Por outro lado, os níveis de desconfiança no Congresso, nos partidos políticos e nos políticos são extremamente elevados. Razão pela qual os líderes autoritários propõem soluções simplistas para problemas complexos.

Giuliano Da Empoli demonstra, no livro “Os engenheiros dos caos”, como estrategistas utilizam-se das fake news, das teorias da conspiração e dos algoritmos para disseminar o medo, o ódio e influenciar as eleições.

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De um lado, o grupo de usuários de internet, no Brasil, é composto por 181,7 milhões de pessoas (84,3% da população).

Por outro lado, temos pouco mais de um milhão de pessoas que se informam pelos jornais, grupo que tem, na liderança de assinantes, a Folha de S.Paulo, com cerca de 797 mil, seguida pelo jornal O Globo, com aproximadamente 400 mil, e o Estado de São Paulo, com 249 mil assinantes.

Os canais tradicionais de notícias, portanto, têm um acesso muito mais restrito pelos diversos segmentos da população.

Além disso, os amigos e familiares estão nas redes sociais, controladas por plataformas de tecnologia, que têm potencializado a disseminação de desinformação, porque o tempo de uso das redes sociais tende a estar associado à conectividade e ser elevado.

A exposição aos conteúdos que veiculam emoções negativas estão entre aqueles que têm um alto potencial de disseminação rápida e ampla nas redes sociais.

A percepção dos estrategistas dos populistas da extrema direita surfam nessa onda, produzindo uma nova propaganda, que se alimenta das emoções negativas e do medo, pois são elas que asseguram maior engajamento.

Soma-se a isso o fato de se destacarem pelo estranhamento que causam, o que gera maior interesse do que informações verdadeiras.

Portanto, oculta-se por trás do aparente absurdo das fake news e das teorias da conspiração uma lógica bastante sólida elaborada pelos “engenheiros do caos”.

A referida lógica ancora-se em duas fontes principais. A primeira delas é a cólera de alguns meios populares, baseados nas causas sociais e econômicas reais, como as elevadas taxas de desemprego, alta inflação, insegurança, fome, desnutrição e escândalos de corrupção governamental.

A segunda é uma verdadeira máquina de comunicação super poderosa, porque foi concebida inicialmente para fins comerciais do marketing, mas transformada num instrumento privilegiado daquelas lideranças, cuja meta é multiplicar o caos.

Proliferam-se iniciativas para combater os processos de desinformação em massa nos dias atuais, como os instrumentos de checar informação disponibilizados pelos canais tradicionais de comunicação.

Recentemente, foram integrados em uma única plataforma, por iniciativa do Tribunal Superior Eleitoral, chamada Fatos ou Boatos. A plataforma permite buscas dos itens mais procurados em cada uma das plataformas parceiras e presta um importante serviço à sociedade.

No processo eleitoral de 2024, os desafios colocados são enormes.

O TSE publicou uma normativa, em fevereiro deste ano, regulando o usando de Inteligência Artificial pelos candidatos, na qual se proibiu o uso de deepfake, avatares e chatbots pelos candidatos.

Vale ressaltar que o primeiro, em especial, é muito difícil de ser detectado, uma vez que os avanços na tecnologia têm permitido resultados muito elaborados, com difícil detecção pelos humanos.

Mas a Inteligência Artificial pode ser utilizada para identificar os usos indevidos da tecnologia.

Nossa equipe de pesquisadores identificou cerca de vinte e duas ferramentas capazes de detectar usos de Inteligência Artificial em vídeos.

Montamos uma equipe multidisciplinar para contribuir com o processo eleitoral de 2024 no que se refere às ações de combate à desinformação e de educação digital.

Na linguística de corpus, buscamos os padrões geralmente associados às notícias falsas, desde os metadados até o interior – teor das matérias, vídeos e áudios.

Na ciência da computação, contamos com a automatização das buscas para dar agilidade ao trabalho e assegurar que os conteúdos sejam provenientes das cinco regiões brasileiras.

Os cientistas políticos contribuem com as teorias sobre eleições e como a informação adequada pode contribuir para a qualidade dos processos decisórios.

Produziremos textos baseadas no uso de inteligência artificial para identificar os itens vedados pelas normas do TSE pelos candidatos.

Os textos respeitarão o caráter regional, isto é, cobriremos as cinco regiões brasileiras, com o propósito de contribuir com a lisura dos processos eleitorais.

*Eduardo Moreira da Silva é professor Adjunto do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais.

*Esse artigo faz parte do projeto Observatório das Eleições 2024, uma iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br.

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