Milly Lacombe: Zé Celso e seu derradeiro espetáculo, um levante de fato; vídeos

Milly Lacombe: “As imagens do velório dançante e alegre, compartilhadas freneticamente, contam uma história. A história do artista que re-existiu, como ele gostava de dizer, por 86 anos nesse planeta”. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Zé Celso e seu derradeiro espetáculo: um levante

Por Milly Lacombe, no UOL

As imagens do velório de Zé Celso, realizado no teatro que ele fundou, compõem em si um derradeiro espetáculo escrito, dirigido e representado por ele.

“É um levante”, me disse emocionado o amigo Antonio Amâncio, artista, poeta, dramaturgo.

É um levante de fato.

E também um teatro dos sonhos sobre como se despedir de uma vida dedicada à arte, ao próximo, à irreverência e à identidade cultural de uma nação.

Alguém que morreu precocemente aos 86 anos e que, antes de baixar as cortinas pela última vez, nos convida a uma catarse coletiva de danças, cirandas, afeto e amor.

É de se imaginar que Zé Celso aplaudiria esse espetáculo derradeiro.

E também podemos supor que ele gostaria que cada um de nós carregasse um pouco desse legado, desse sentimento em nossas vidas.

As imagens do velório dançante e alegre, compartilhadas freneticamente, contam uma história. A história do artista que re-existiu, como ele gostava de dizer, por 86 anos nesse planeta.

A história do poeta que nos ensinou a amar, a cantar e a dançar mesmo em tempos brutos. A história da irreverência, da criatividade, dos pontos de vista que nos fazem enxergar a partir de outros ângulos.

A história daquele que não tinha medo de se deixar afetar e, inundado por afetos, transformava vidas.

Está tudo ali no espetáculo final que nos chama para ocupar o espaço do comum, um espaço que o neoliberalismo todos os dias encolhe e apequena em nome de alargar o ambiente do privado.

Zé Celso não habitava esse lugar encolhido, frio e sombrio. Já estava em outra dimensão antes mesmo de morrer.

Nas palavras da antropóloga Paola Lins de Oliveira: “Essa festança-funeral deu uma descida no céu pra gente sentir a energia das estrelas”.

O adeus ao Zé Celso foi também um momento de celebrar a vida, e não poderia ser diferente.

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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